LUTO

Morre, aos 82 anos, o cineasta mineiro Carlos Alberto Prates Correia

Entre os filmes de maior projeção do diretor, estão 'Cabaré mineiro' (1984) e 'Noites do sertão' (1984), estrelado por Débora Bloch e Tony Ramos

Lucas Lanna Resende - Estado de Minas
postado em 28/05/2023 19:48
Em seus filmes, Carlos Alberto Prates Correia trazia elementos tradicionais da cultura mineira -  (crédito: Acervo Estado de Minas)
Em seus filmes, Carlos Alberto Prates Correia trazia elementos tradicionais da cultura mineira - (crédito: Acervo Estado de Minas)

Morreu na noite de sábado (27/5), aos 82 anos, no Rio de Janeiro, o cineasta Carlos Alberto Prates Correia. Natural de Montes Claros, no Norte de Minas, ele foi um dos principais nomes do cinema mineiro das últimas décadas. Entre seus filmes de maior projeção, estão “Cabaré mineiro” (1980) e “Noites do sertão” (1984), estrelado por Débora Bloch e Tony Ramos. A causa da morte não foi divulgada.

Correia se mudou jovem para Belo Horizonte. Na capital mineira, começou a trabalhar como crítico de cinema no extinto jornal Diário de Minas. No cinema, iniciou a carreira em 1965, auxiliando o diretor Joaquim Pedro de Andrade no filme “O padre e a moça”, estrelado por Paulo José, que, coincidentemente, também estava estreando no cinema.

Na sequência, ainda na década de 1960, Correia reuniu alguns amigos e montou o Centro Mineiro de Cinema Experimental (Cemice), na capital mineira. Foi com esse grupo que ele produziu “O milagre de Lourdes” (1965), sobre um padre corrupto que, para fugir dos fiéis enfurecidos com sua má-conduta, se esconde em um dos bordéis da famigerada Rua Guaicurus - local até hoje conhecido pelo grande número de prostíbulos no Centro de Belo Horizonte.

Em 1966, Correia se mudou para o Rio de Janeiro, local onde a produção cinematográfica vivia maior efervescência. De lá, dirigiu o episódio “Guilherme”, do filme “Os marginais” (1966), de Moisés Kendler, onde repetiu a dobradinha com Paulo José.

Em 1969, voltou a trabalhar com o diretor Joaquim Pedro de Andrade e o ator Paulo José no clássico “Macunaíma”, no qual Correia foi assistente de direção.

O primeiro filme precisamente dele foi “Crioulo doido” (1970). Ambientado em Sabará, o drama acompanha Florisberto (papel de Jorge Coutinho em um dos primeiros filmes brasileiros tendo um negro como protagonista), um alfaiate de origem humilde que sonha em ascender socialmente. Tentando alcançar esse objetivo, Felisberto acaba por se envolver em negócios escusos, como agiotagem e jogo do bicho. Embora questionáveis, as empreitadas dão certo e Felisberto vira um grande fazendeiro.

No meio do caminho, ele encontra a interesseira Sebastiana (papel de Selma Caronezzi), que tenta surfar na propriedade de Felisberto para também ascender socialmente.

Notícias sobre um “fim do mundo” iminente, contudo, deixam Felisberto transtornado, de modo que os planos de riqueza que ele tinha seguem outra direção, completamente diferente do que foi traçado inicialmente.

Depois do lançamento de “Crioulo doido”, Correia trabalhou como produtor em “Os inconfidentes” (1972) e “Guerra conjugal” (1974), ambos de Joaquim Pedro, e “Vai trabalhar, vagabundo” (1973), de Hugo Carvana. Também trabalhou com Cacá Diegues nos longas “Quando o carnaval chegar” (1972) e “Joana Francesa” (1975).

Entre o subemprego e a prostituição

Só depois de todos esses projetos que ele rodaria seu segundo longa, “Perdida” (1976). Sobre uma mulher que está indecisa entre o subemprego e a prostituição.

Na sequência, vieram “Cabaret Mineiro” e “Noites do sertão”. No primeiro, estrelado por Nelson Dantas, acompanha as andanças de um sertanejo pelo interior do norte de Minas Gerais. Pelo caminho, encontra mulheres marcantes e elementos típicos da região, como a culinária à base de pequi, danças tradicionais, a literatura de Guimarães Rosa, entre outros.

O filme ganhou os principais prêmios do Festival de Gramado de 1981, entre eles os de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Ator (Nelson Dantas), Melhor trilha sonora (Tavinho Moura) e Melhor atriz coadjuvante (Tânia Alves).

No mesmo ano, adaptou a novela Buriti, de Guimarães Rosa, com o nome de “Noites do sertão”, estrelado por Débora Bloch e Tony Ramos.

No final dos anos 1980, Correia rodou “Minas-Texas” (1989). A trama acompanhava a relação tumultuada entre uma jovem romântica (Andréa Beltrão) e um peão (José Dumont).

“O Prates era um cineasta além de muito talentoso, com uma grande ligação com a cultura mineira. Ele sabia dirigir muito bem e tinha essa ligação profunda com Minas Gerais”, afirma o cineasta Helvécio Ratton, que foi produtor executivo de “Noites dos sertão”.

"Ele tinha uma importância no cinema. O trabalho dele era muito autoral”, complementa Maria Tereza Correia, sobrinha do diretor. “Foi uma pessoa que sempre valorizou o cinema mineiro, desde o começo, quando participou do Centro Mineiro de Cinema Experimental. Ele teve um papel importante em vários filmes do cinema brasileiro”, emenda.

Em 2007, Correia gravou seu último trabalho, o documentário “Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais”.

Carlos Alberto Prates Correia deixa a companheira, Margarida, e o filho, João. O corpo do diretor será cremado amanhã, no Rio de Janeiro, em cerimônia restrita à família.

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