Mostra

Cine Brasília apresenta o frescor de Godard, a partir desta sexta (30/6)

Cinco filmes de Jean-Luc Godard ocupam a tela do Cine Brasília, em mostra que começa nesta sexta(30/6)

Ricardo Daehn
postado em 29/06/2023 09:48
Acossado traz a visão de Godard para a dobradinha crime e castigo -  (crédito: Cinefrance/Divulgação)
Acossado traz a visão de Godard para a dobradinha crime e castigo - (crédito: Cinefrance/Divulgação)

Reviravoltas e rupturas profundas na estética e narrativas do audiovisual foram demarcadas a partir dos anos de 1960, com a nouvelle vague francesa que teve entre os maiores expoentes o diretor Jean-Luc Godard (morto, aos 91 anos, há quase 10 meses). É justo ele, um dos criadores da profusa linguagem do videoclipe, que está no centro da celebração 5 x Godard, a partir desta sexta (30/6) em cartaz no Cine Brasília (EQS 106/107).

Com o longa Acossado (1959), Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim, Godard demarcou elementos referendados por colegas como Jacques Rivette, Louis Malle, Alain Resnais e François Truffaut — todos formadores da massa crítica embutida na Cahiers du Cinéma, que circulou a partir de meados do século 20. Raros cineastas franceses (entre os quais Jean Renoir) ganhavam a admiração do grupo revolucionário de diretores que tinham por ídolos Howard Hawks, Charles Chaplin, Alfred Hitchcock e Nicholas Ray.

Na mostra do Cine Brasília, estarão filmes como Acossado, dedicado ao Monogram estúdio, por trás das fitas B difundidas em Hollywood. Jean Seberg, na trama, dá vida à namorada americana de um mitômano ladrão de carros eternizado por Jean-Paul Belmondo. Feito com homenagem aos filmes de gângsteres, Acossado se valeu de improvisos, equipe muito condensada, muitas cenas no exterior dos costumeiros estúdios e desvio de limitações, entre as quais a operação da câmera colocada em cadeira de rodas, a fim de movimentar as sequências.

Adaptação de um romance de Alberto Moravia, O desprezo, lançado em 1963, é outro título a integrar a mostra. Feito em parte com locações na Itália, o longa examina um abalado relacionamento entre os personagens de Michel Piccoli e Brigitte Bardot, imersos no mundo do cinema: ela é uma estrela, e ele, um roteirista. A partir de um exame existencialista, o filme ainda coloca em cena Jack Palance, no papel de um produtor, e o próprio diretor Fritz Lang, na pele de um cineasta.

Também permeado por situações de traição, e repleto de farto colorido — em que o vermelho, o azul e o branco das cores da bandeira francesa se veem privilegiados —, o longa O demônio das onze horas coloca Belmondo e a estrela Anna Karina (esposa de Godard, desde 1961) num amalucado enredo de bandidagem. Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza de 1967, A chinesa trouxe um exemplar da fase de ensaios comandados por Godard, anos depois da provocação com o O pequeno soldado, em que trouxe discurso que atacou direita e esquerda. No plano das ideais, integrantes de célula vermelha estudam como colocar em prática ações revolucionárias.

Outro filme extraído da literatura (no caso, de Paul Éluard), Alphaville (1965), faturou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, e também está na programação do Cine Brasília. Incursão de Godard na ficção científica, o filme trata do sufocamento de uma inteligência artificial examinada pelo agente interpretado por Eddie Constantine. Numa localidade em que as emoções humanas são invalidadas, ele vai atrás de pistas que desembocam em crimes, muitos deles situados na beira de uma piscina. Na trama, Natacha von Braun (Anna Karina) é a filha de um cientista e fonte de muitas informações para a calamitosa situação corrente em Alphaville.

 

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