Alexandre Silva de Assis, carioca do Morro do Turano, dono de uma bela voz, surgiu com destaque no universo do samba na década de 1990, como vocalista do Grupo Revelação, usando o pseudônimo de Xande de Pilares. Brilhou no conjunto, com o qual gravou 16 discos. E, em carreira solo desde 2014, lançou seis álbuns. O mais recente é o Xande canta Caetano, que chegou às plataformas digitais no dia 7 último.
Cantor aplaudido, é autor de sucessos como Brincadeira tem hora, Clareou, E sou de Jorge e Perseverança. Mas, a que caiu no gosto de muitos intérpretes, em especial dos que participam de rodas de samba, foi do clássico Tá escrito, que compôs com Carlos Rodrigues e Gilson Berrini.
Samba de bela melodia traz na letra uma mensagem que evoca a esperança. O verso final diz: "Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/Manda essa tristeza embora/ Basta acreditar que um novo dia vai raiar/ Sua hora vai chegar..."
Tá escrito fez parte, também, do set list de Ofertório, show de Caetano Veloso com os filhos, que cumpriu longa temporada no final da década passada, apresentado, inclusive, em Brasília. Esse fato estabeleceu uma ligação maior entre o sambista e o tropicalista, que resultou numa reverência explícita: a gravação do álbum Xande canta Caetano.
Na mobilização para a realização do projeto, o entusiasmo maior foi de Paula Lavigne, a mulher do homenageado, que acabou se tornando produtora. Ela foi atuante, igualmente, na escolha das músicas do repertório, com a participação de Pretinho da Serrinha, responsável pela direção musical.
Canções de diferentes estilos e fases da obra do compositor baiano foram selecionadas para o repertório — entre elas Alegria alegria, Diamante absoluto, Luz do sol, Muito romântico, O amor, Tigresa, Trilhos urbanos. Entre as versões de Xande, uma particularmente emocionou Caetano, levando-o às lágrimas: a da antiga marchinha Gente, que ele transformou num samba.
Em entrevista ao Correio, Xande de Pilares falou sobre a admiração pela obra de Caetano Veloso, a decisão de gravar o disco, critério para a escolha das músicas e a perspectiva de percorrer o país com uma turnê para fazer o lançamento do novo trabalho.
Entrevista com Xande de Pilares
Qual era a sua relação com a obra de Caetano, antes de gravar o disco?
A gente que faz música, gosta de ouvir música e entre tantos artistas que eu escuto desde criança, o Caetano está incluído. Eu só nunca imaginei ter essa proximidade, poder falar de música com um dos meus ídolos, que é o Caetano. O Pretinho me levou pra casa da Paula Lavigne e a gente começou a se reunir para cantar. Esse foi o início da minha relação com Caetano e, no meio disso tudo, surgiu essa oportunidade de poder cantar sua obra. Fui de ouvinte a intérprete.
Quando se deteve sobre as composições com maior atenção?
Quando eu comecei a ouvir o Caetano, eu tinha 7 anos, mas depois dos 12, 13, foi que a sensibilidade começou a ficar um pouco mais intensa. Quando começo a prestar mais atenção na obra em si. E já tive oportunidade de perguntar a ele o motivo de algumas canções, como foi Muito romântico. Ao mesmo tempo, vivi uma experiência com Qualquer coisa e na faixa eu até falo: Caetano, peço desculpas se eu tiver interpretado da forma diferente do que você pensou ao escrever, mas foi o que eu entendi naquele momento. É um pouco da minha verdade. Porque eu estava do outro lado, no que todo mundo está, quando a gente ouve música.
O que o levou a gravar o disco?
Foi o amor que eu tenho pela música, a paixão que eu tenho pelo trabalho de Caetano e a satisfação de poder sentar com Caetano e falar sobre música. Em um desses momentos de bate-papo, o Pretinho estava presente e surgiu a oportunidade. Na hora, confesso que fiquei pensando se realmente iria rolar e como seria. A oportunidade veio no meio de uma pandemia, momento em que começamos a gravar. Foi uma satisfação ser dirigido pelo próprio Caetano, que é dono da obra, e também produzido pelo Pretinho. Pude interpretar canções que ouvia e que contribuíram para gostar de música.
Utilizou qual critério para a escolha das músicas?
O critério foi praticamente do Caetano. A gente foi dando algumas sugestões, mas o Caetano preferiu evitar que gravasse, por exemplo, Desde que o samba é samba, que é um samba. Na cabeça dele, eu ia estar na minha zona de conforto. O próprio Sampa também. Ele priorizou para que a gente gravasse outras canções, para ter a reação que teve quando eu cantei Ela e Eu em um dos nossos encontros.
Pretinho da Serrinha teve que importância na realização do projeto? Além de criar de os arranjos, ele contribuiu de outra forma?
O fato de ter sido produzido pelo Pretinho foi muito importante, porque se deixasse, eu ia levar pra minha zona de conforto, ia levar pro meu lado. Ele já tinha tudo na cabeça e só comecei a perceber quando a gente se reunia no estúdio. Eu começava a ver aquela coisa nascer e tinha a curiosidade do trabalho final, porque, a princípio, era só colocar voz. Quando você ouvir o disco, vai ver o que eu estou dizendo. É impressionante e fundamental a contribuição dada por Pretinho.
Que expectativa formou em relação à avaliação do álbum pelo Caetano?
Eu costumo dizer o seguinte, quando você causa uma emoção em alguém, você pode causar em todos, porque eu mesmo fico emocionado com esse trabalho. A expectativa era que Caetano se emocionasse e ele se emocionou. Então, eu acho que muita gente vai se emocionar com esse trabalho.
Pretende fazer show para lançamento do Xande canta Caetano?
Pretendemos. Já estamos conversando sobre. Caetano e Paula vão dirigir.
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