Música

Novo disco de Bebel Gilberto é mensagem de amor para o pai, João Gilberto

Bebel Gilberto, filha do cantor baiano, lança álbum com a recriação de canções clássicas para homenagear o pai

 Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo.  -  (crédito:  Bob Wolfenson/Divulgação)
Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo. - (crédito: Bob Wolfenson/Divulgação)
Irlam Rocha Lima
postado em 28/08/2023 06:00

Bebel Gilberto sempre foi muito próxima de Miúcha, um dos nomes de destaque do clã Buarque de Holanda, que, além de sua mãe, era amiga íntima e confidente. Com seu pai, o mítico João Gilberto, criador da Bossa Nova com Tom Jobim e Vinícius de Moraes a convivência era menor, mas intensa.

A cantora cresceu com o som do violão de seu pai ressoando pela casa da família. "Nunca imaginei que aquilo que eu presenciava era tão importante", diz, achando graça. "Para mim, era só a vida acontecendo. Acordava, levava café e ele tocava violão. Era normal, fazia parte do meu cotidiano. Mas adorava ouvi-lo tocar seus exercícios de aquecimento todas as manhãs."

Do pai buscou absorver o máximo possível e se impregnar, pelo menos em parte, da imensa musicalidade. Esse sentimento só fez crescer, depois que o genial cantor, compositor e violonista baiano partiu, em 6 de julho de 2019, deixando a música popular brasileira mais pobre.

Quando decidiu reverenciá-lo com o João, Uma carta de amor ao pai, que chegou ontem às plataformas digitais, o fez tomando como referência dois discos icônicos do homenageado, o chamado álbum branco e o aclamado Amoroso. Mas na celebração ela deixa impressa sua personalidade, tanto na maneira de interpretar cada canção, assim como na escolha do acompanhamento.

Gravado no Reservoir Studios, em Nova York, com Guilherme Monteiro no violão, assumindo a nada invejável tarefa de substituir o próprio mestre, exalta Bebel.

Terna e comovente, a gravação de João revela tanto sobre Bebel quanto sobre o pai, cuja obra ela evitava visitar por desejo de trilhar o seu próprio caminho. "Eu pressentia que só conseguiria fazer isso quando meu pai não estivesse mais por perto", observa. "Agora, pode ser do meu jeito, com covers de músicas que nunca pensei que faria. Pela primeira vez, estou interpretando as músicas dele e revelando como elas realmente me marcaram. São canções que ouvi durante toda a minha infância, então foi uma escolha de repertório afetiva, não me prendi somente aos clássicos", complementa.

Do "álbum branco" foram pinçadas duas canções escritas pelo próprio João Gilberto. Uma é Undiu, muito influenciada pelos sons do Nordeste, toda em sílabas sussurradas". A gravação original tinha seis minutos de duração, mas a versão se resumiu a apenas a metade do tempo. A outra é Valsa, também batizada de Como são lindos os Youguis .

Também desse disco entraram Eu Vim da Bahia (Gilberto Gil), uma música que conecta a cantora à sua herança paterna; e É preciso perdoar, de Alcivando Luz e Carlos Coqueijo, lançado em maio como primeiro single do disco, e que ganhou clipe dirigido por Erich Baptista.

O repertório traz também clássicos como Chega de saudade e Ela é carioca (Tom Jobim e Vinicius Moraes), Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), Adeus América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa) e O Pato (Jaime Silva e Neusa Teixeira).

Nos acompanhamentos, Bebel contou com Guilherme Monteiro (guitarra acústica e programação), Thomas Bartlett (piano e melotron), Clark Glayton (trombone), Alex Sopp (flauta), Chico Brown e Keny Wollesen (percussão).

 Entrevsita: Bebel Gilberto

Bebel, tem ideia de como seu pai a via?

Acho que o papai se via em mim. Tínhamos muitas afinidades.

Ele chegou a externar isso para você?

Sim, várias vezes. Convivemos muito também. Quando ele se mudou para o Rio de Janeiro, a gente manteve uma relação muito constante. A gente se falava ao telefone todos os dias. Depois, quando eu vim pra Nova York, continuamos nos falando sempre. Era uma relação muito intensa.

Qual foi a importância da jornalista francesa Véronique Mortaigne neste projeto?

Ela apenas fez um release para a imprensa francesa e utilizamos também na versão do Brasil. Ela é uma grande jornalista, minha amiga e da minha família.

A escolha de Thomas Bartlett, outra vez como produtor, tem a ver com o fato de ter trabalhado com ele em seu disco anterior?

Com certeza, eu e o Thomas nos damos muito bem. Adoro o trabalho dele.

Por quanto tempo se debruçou sobre a obra de um dos pais da Bossa Nova, após decidir homenageá-lo?

Fiquei dois anos ouvindo e reouvindo tudo e buscando também na memória as canções que me marcaram.

Por que tomou o chamado álbum branco, de 1973; e o Amoroso, de 1977, como inspiração para este trabalho?

Porque com certeza são os meus discos preferidos. Também por tê-los escutado muitas vezes longe dos meus pais, então me trazem muitas memórias.

A definição do repertório ocorreu com antecedência ou já perto das gravações?

Foi tudo mais ou menos ao mesmo tempo. Várias músicas foram escolhidas, algumas ficaram, outras não. Foi um processo delicado, mas também muito prazeroso. E me sinto muito orgulhosa com o resultado, é um projeto muito pessoal.

Que critério utilizou para definir as músicas do repertório?

A minha busca foi pelo que tinha de mais verdadeiro, o que mais faria sentido para mim, em vez de ficar tentando agradar o público ou escolher as músicas de mais sucesso. Queria fazer algo que fizesse sentido para mim pras minhas memórias e pro meu coração.

Você já conhecia todas as músicas, ou só algumas?

Sim eu já conhecia todas as músicas.

O que a levou escolher É preciso perdoar, de Alcivando Luz e Carlos Coqueijo, para single e registrá-la num clipe?

É preciso perdoar é a minha música favorita do álbum fiquei muito feliz com resultado da gravação e também do clipe dirigido pelo meu grande amigo Erich Baptista.

 

  •  Bebel Gilberto: ela gravou canções que ouvia o pai tocar em casa
    Bebel Gilberto: ela gravou canções que ouvia o pai tocar em casa Foto: Divulgação
  • Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo.
    Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo. Foto: Divulgação
  •  Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo.
    Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação
  • Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo.
    Bebel Gilberto envolve família e música. Seu pai, o baiano João Gilberto, foi um dos criadores da bossa nova, gênero que provocou uma revolução na música brasileira e a projetou no mundo. Foto: Bob Wolfenson/Divulgação
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail: sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação