MÚSICA

Boca Livre está de volta, após um intervalo de mais de quatro décadas

Depois de 45 anos separados, os integrantes do grupo Boca Livre retornam aos palcos e anunciam relançamentos de álbuns importantes nas plataformas digitais

 Quarteto Boca Livre com Lourenço Baeta, Zé Renato, David Tygel e Maurício Maestro
 -  (crédito:  Alexander Landau/Divulgação)
Quarteto Boca Livre com Lourenço Baeta, Zé Renato, David Tygel e Maurício Maestro - (crédito: Alexander Landau/Divulgação)
postado em 03/10/2023 06:25 / atualizado em 03/10/2023 06:25

No final da década de 1970, os amantes da música popular brasileira se depararam com algo alvissareiro: o surgimento de um grupo vocal que propunha algo novo nesse segmento. Da formação, tomavam parte Zé Renato, David Tygel e Maurício Maestro e Cláudio Nucci (posteriormente substituído por Lourenço Baeta), cantores que vinham de outras formações, de outros projetos, que se juntaram a partir da proposta se contrapor ao batidão da dance music que se espalhava pelo país.

Com uma maneira harmoniosa de interpretar canções, eles lançaram um LP independente, que alcançou a surpreendente vendagem de 100 mil cópias. Músicas como Toada e Quem tem a viola se transformaram em sucessos imediatos e contribuíram para o grupo obter o reconhecimento nacional.

Bicicleta, o segundo disco também conseguiu boa repercussão e contou com a participação de ninguém menos que Tom Jobim, não apenas tocando piano, mas também participando do vocal e harmonizando-se ao Boca, a quem deu o aval. Inexplicavelmente, após o reconhecimento público, o Boca Livre saiu de cena.

Quase 45 anos depois, o grupo está de volta. O primeiro sinal para o retorno surgiu com a conquista do Grammy, na categoria melhor álbum do pop latino, com Pasieros, no qual, a convite de Rubén Blades, interpreta a obra do compositor panamenho. Embora gravado em 2011, só foi lançado em 2022.

O segundo sinal é o relançamento dos discos Boca Livre (1979) e Bicicleta (1980) nas plataformas digitais pelo selo MPB, em parceria com a Som Livre, que vai ocorrer no dia 27. Mas, para a retomada da trajetória contribuiu também, Rio Grande, composição inédita de Nando Reis, que recebeu letra de Zé Renato, gravada pelo grupo.

Na produção de Rio Grande, o grupo teve a companhia de João Carlos Coutinho (piano), Aleska Chediak (violoncelo), Zé Nogueira (sax). São eles que estarão ao lado de Zé Renato, David Tygel, Maurício Maestro e Lourenço Baeta no show que eles farão em 5 de novembro no Festival Musica de La Tierra, no Uruguai. Apresentações no Brasil — inicialmente no Rio de Janeiro e São Paulo — estão sendo marcadas pela produção.

Na sua avaliação, qual foi a contribuição do Boca Livre, quando surgiu em 1979?

O disco de estreia do Boca Livre foi lançado na época em que a música popular brasileira estava completamente dominada pela dancing music, que tocava nas discotecas. O Boca Livre chegou para fazer a dança dos miolos, com uma música poética, de certa forma romântica, que fez sucesso, que fazia sucesso até à capela, cantada sem acompanhamento de instrumentos.

Na época, o que influenciou a música do grupo?

Nossa principal influência era a música mineira. Toada, de Zé Renato e Cláudio Nucci, foi nosso primeiro sucesso, tinha essa sonoridade. Outra canção que se destacou no disco foi Ponta de areia, do repertório de Milton Nascimento. Lançada no programa Fantástico.

Como vocês lidaram com o sucesso?

Não tínhamos certeza que nossa música iria chegar ao público. Estávamos inseguros. Mas aí o Edu Lobo nos chamou para participar do Projeto Pixinguinha com ele, no Nordeste. Só tínhamos quatro ou cinco músicas ensaiadas. Mas, nos shows, as pessoas pediam bis, quando cantávamos Toada, Quem tem a viola, Ponta de Areia e Barcarola de São Francisco, o que, para nós, foi uma surpresa.

O que determinou o retorno?

A retomada da nossa trajetória neste momento tem a ver com a saudade que tínhamos de tocar juntos, da superação das dificuldades dos brasileiros, baixando as tensões política-ideológicas, da nossa convergência, enquanto amigos.

Qual é a representatividade da conquista do Grammy pelo disco com gravação da obra de Rubén Blades?

O Grammy, obviamente, foi muito importante em nosso retorno. Consideramos que esse prêmio foi atribuído à música brasileira de qualidade e vai impulsionar a retomada da carreira do Boca Livre.

A canção inédita Rio Grande, parceria de Nando Reis e Zé Renato, teve que importância nesse processo?

Rio Grande foi importante, uma vez que é a primeira canção que gravamos após o retorno e que vamos lançar num single, em breve. Por enquanto, é a única música inédita que temos.

Porque o show de reestreia vai ocorrer no Uruguai?

A escolha foi fortuita. Recebemos o convite para participar do Festival Musica de La Tierra, no Uruguai e aceitamos. A apresentação será em 5 de novembro. Mas, já estamos nos articulando para fazer shows pelo Brasil, inicialmente aqui no Rio de Janeiro e São Paulo.

 


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