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"As personagens funcionam como denúncia pública", afirma Leona Cavalli

Em entrevista ao Correio, a atriz Leona Cavalli fala sobre seus trabalhos nas telas, nos palcos e também na escrita. Ela está no ar na novela Terra e paixão e na série sobre Silvio Santos, O rei da TV, em que vive Iris Abravanel, esposa do comunicador

 Crédito: Juliana Coutinho/Divulgação. Leona Cavalli, atriz -  (crédito:  Juliana Coutinho/Divulgação)
Crédito: Juliana Coutinho/Divulgação. Leona Cavalli, atriz - (crédito: Juliana Coutinho/Divulgação)
postado em 10/12/2023 09:00

Leona Cavalli vive um grande momento na carreira. No ar, ao mesmo tempo, na novela Terra e paixão, de Walcyr Carrasco, na Rede Globo, e na série O rei da TV, com direção de Marcus Baldini, no Star Plus, a atriz de 54 anos, completados em novembro, dá vida a duas mulheres que têm a força e o poder como características. "Acredito que ser feminista hoje é ser mulher consciente e livre", declarou ao Correio.

Uma dessas mulheres, por exemplo, é ninguém menos que Íris Abravanel, esposa de Silvio Santos, na série de ficção inspirada na vida do grande comunicador. "Interpretar alguém que está vivo, contemporâneo, é diferente. No caso de alguém conhecido, lidar com as expectativas que o público naturalmente já cria, é sempre um desafio, que eu, pessoalmente, adoro", afirmou.

Leona Cavalli e José Rubens Chachá como Íris Abravanel e Sílvio Santos na série O rei da TV
Leona Cavalli e José Rubens Chachá como Íris Abravanel e Sílvio Santos na série O rei da TV (foto: Star / Divulgação)

Em Terra e paixão, Leona vive Gladys, esposa do dono da cooperativa agrícola da cidade e diretora de um colégio. De família tradicional e conservadora, a madame altiva defende a moral e os bons costumes, mas não os pratica. Para a gaúcha, tem sido um prazer interpretar uma personagem tão comum na sociedade. "Afinal, quem não conhece alguém que prega uma coisa e faz outra?", questionou a atriz. Por outro lado, ela ponderou sobre o grave problema social exposto na novela, que é a violência contra a mulher. "As personagens funcionam como uma espécie de denúncia pública, ainda que, no caso da Gladys, contradizendo", assinalou.

Com mais de duas dezenas de trabalhos na televisão, premiada também no teatro — é cria de Zé Celso Martinez Corrêa — e no cinema, Leona relembra momentos marcantes da carreira, conta como lida com a maturidade e explica como, embora não tenha filhos, o universo das crianças a cativou de tal forma que escreveu um livro infantil chamado Bela Belinha, uma bonequinha, lançado pela editora Quase 8. 

 Crédito: Juliana Coutinho/Divulgação. Leona Cavalli, atriz
Crédito: Juliana Coutinho/Divulgação. Leona Cavalli, atriz (foto: Juliana Coutinho/Divulgação)

ENTREVISTA / LEONA CAVALLI

Como foi a experiência de interpretar uma mulher real, viva e com uma presença tão marcante como Íris Abravanel? 

Interpretar alguém que está vivo, contemporâneo, é diferente. É necessário se relacionar não só com a personagem que está escrita, mas com o que aquela pessoa mesmo é, e também com o que ela representa para o mundo. No caso de alguém conhecido, lidar com as expectativas que o público naturalmente já cria. É sempre um desafio, que eu, pessoalmente, adoro. 

Houve alguma troca com ela na preparação ou feedback após?

Na série O rei da TV, com a personagem da Íris Abravanel, a minha interpretação foi inspirada em pesquisa; vi diversas entrevistas e programas sobre ela, li todo o material que já existe. Mas mantive a minha autenticidade, ou seja, em nenhum momento procurei imitar; e sim interpretar a partir da minha visão. Não tivemos nenhum contato com a família. A série é inspirada em fatos reais, mas é uma ficção.

Como tem sido para você viver Gladys, uma mulher que defende a moral e não vive o que prega?

Interpretar a Gladys tem sido um prazer, por ser uma personagem que existe em todos os meios sociais, e ela tem tido grande receptividade do público. Afinal, quem não conhece alguém que prega uma coisa e faz outra?

A personagem teve um momento na trama em que contradiz toda a campanha que é feita para que mulheres vítimas de violência denunciem seus agressores. O que a Leona diria?

Tem que denunciar! As personagens funcionam como uma espécie de denúncia pública, ainda que, no caso da Gladys, contradizendo, refletem uma situação terrível no Brasil, que é o número cada vez maior de violência contra mulheres, contra pessoas trans, contra animais, e uma série de outros horrores. Sinto que essa é uma das principais questões humanas do momento: a necessidade urgente de justiça e paz.

Ao cruzar a linha dos 50, sentiu alguma pressão em relação à manutenção da beleza?

Atualmente, tem se falado mais da beleza na maturidade, acredito que pelo avanço da medicina e da longevidade em todo o planeta. Para mim, o principal sempre foi o cuidado com a saúde, de onde vem toda a vitalidade, a beleza e a alegria de viver.

O que é ser feminista para você?

Acredito que estamos num momento de ressignificação de tudo, inclusive de palavras. Acredito que ser feminista hoje é ser mulher consciente e livre.

Apesar de ter optado por não ser mãe, você escreveu um livro infantil. Qual é a sua relação com esse universo?

Amo crianças! Até agora, não tive a opção por ter filhos biológicos, mas me sinto mãe em vários aspectos. Mãe de bichos (tenho quatro cachorros), de sobrinh@s (tenho vari@s), de alguns amig@s, de projetos, de personagens (tenho feito papéis de mãe desde a minha estreia, aos 6 anos de idade!). E escrevi esse livro infantil, a partir de uma personagem palhacinha que tenho, a Belabelinha, com quem já fiz vários eventos para crianças e até visitas a hospitais infantis. Resolvi escrever o livro a pedido das crianças, lançado pela Editora Quase 8, contando a historinha dela, uma bonequinha que quer aprender com os humanos a ser gente. Em breve, vai virar peça infantil. Amo esse universo!

TV, teatro ou cinema? Tem preferência?

Cada um tem sua magia, seus desafios, sua força. Amo todos, porque, na verdade, sou uma contadora de histórias, em qualquer veículo, seja ao vivo, seja através das tecnologias. Minha paixão maior é a comunicação com o público, que está em todo lugar.

Tirando a Gladys, que é a atual, qual personagem é a sua favorita até agora?

São muitas, agradeço por ter muita sorte com personagens. Tenho feito várias especiais, não há como escolher uma. Mas posso citar uma marcante no teatro: Ophelia, de Hamlet, direção de Zé Celso Martinez Corrêa; no cinema: a Lígia, de Amarelo Manga, de Claudio Assis; na TV: a Zarolha, de Gabriela, de Walcyr Carrasco (adaptação da obra de Jorge Amado).

Ainda não fez algo como atriz que gostaria e ainda pretende fazer?

Sim! Muitas personagens, no teatro, no cinema e na tevê! E, ano que vem, terei um sonho realizado: um teatro com meu nome, na Escola Nacional de Teatro, de Santo André (SP).

 


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