Artes Cênicas

Peça que trata de maternidade reflete sobre mundo automatizado

A peça 'Mantenha fora do alcance do bebê' propõe uma reflexão carregada de humor sobre o automatismo e as convenções sociais

Lara Perpétuo*
postado em 09/12/2022 06:00
 (crédito: Humberto Araújo)
(crédito: Humberto Araújo)

A peça Mantenha fora do alcance do bebê, montagem de texto de Silvia Gomez, continua em cartaz, neste fim de semana, desta vez no Cruzeiro. O espetáculo gratuito teve sessões na semana passada e será encenada novamente nesta sexta-feira (8/12) e no sábado (10/12), às 20h, e domingo (11/12), às 18h e às 20h, no teatro do Cemic. Os ingressos devem ser retirados no Sympla.

Dirigida por Rita Castro e William Ferreira, a peça surrealista gira em torno de uma entrevista de adoção. Uma mulher fria e controlada como um robô deseja adotar uma criança e conversa com uma assistente social como parte do processo; durante a entrevista, elas perdem paciência uma com a outra e a candidata robotizada é aos poucos humanizada, quando se revela emocionalmente instável e desequilibrada. Por fim, o marido dela tem de se juntar às duas para tentar controlar a situação.

Durante a entrevista, há um lobo domesticado rondando a sala e, fora dela, toda uma alcateia descontrolada pela cidade. "É interessante esse olhar enviesado em relação ao cotidiano, parece que está tudo muito bem, está tudo muito normal, mas tem um ponto ali de ruptura, de cisura, vamos dizer assim, com o próprio cotidiano", conta Rita. "Traz uma reflexão sobre essa questão da normalidade, o que é normal e o que não é."

A diretora acredita que essa reflexão é interessante em tempos de automatismo, de desejos que podem ser mais sociais do que individuais, que são inseridos de fora para dentro. "A dramaturgia nos traz uma reflexão sobre a questão da maternidade no dia de hoje, o que é ser mãe, de onde vêm os desejos e anseios da maternidade; e, ao mesmo tempo, ela tem um toque de absurdo, ela nos coloca em conexão também com a discussão dos instintos, do quanto somos domados ou não na relação com o mundo social, o quanto de convenção que tem na vida, no mundo, nas rotinas."

Segundo a atriz Juliana Plasmo, mesmo abordando temas dramáticos como "expectativa de se sentir adequada na sociedade, maternidade, adoção e a saúde mental", a peça faz com que eles surjam "de uma maneira leve e palatável". Já a atriz Carol Resende acredita que "o texto traz reflexões profundas por meio de um lugar cômico e, ao mesmo tempo, denso".

Essa é a segunda versão de Mantenha fora do alcance do bebê, que estreou em 2015 com montagem de Débora Falabella, em São Paulo. Para Rita, a adaptação da obra de sucesso de Silvia Gomez passou principalmente pelo diálogo com o que ela escreveu: "O desafio é como materializar poeticamente, como trazer para o corpo o que está bem dito ali no texto", reflete. "O diferencial eu acho que é adentrar o texto e ver o que pulsa de imagem e de força dentro das próprias palavras que o texto traz."

Para Carol, poder trazer o texto de Silvia para adaptação em Brasília é incrível. "Utilizamos muito do trabalho da atuação e do minimalismo para dar valor à dramaturgia e ao trabalho de ator. A composição da luz e cenário ganharam um lugar valorizado na montagem, corroborando a a beleza e o lugar onírico e surreal desta história."

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 

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  • Mantenha fora do alcance do bebê
    Mantenha fora do alcance do bebê Foto: Humberto Araújo
  • A peça coloca em cena uma trama onírica
    A peça coloca em cena uma trama onírica Foto: Humberto Araújo
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