Crítica // Sol ###
Sol, o novo longa-metragem assinado por Lô Politi, à primeira vista — pela alta carga de elementos de road movie —, bem que dá a dica errada, diante do título: muito leva a crer que se refira à exploração das paisagens de estrada, Nordeste adentro. Mas, superado o quase spoiler, solar também foi uma decisão do passado do coadjuvante de maior peso na vida de Theo (Rômulo Braga), o pai dele, Seu Theodoro (personagem do ator paraibano Everaldo Pontes). Há um pesado ressentimento em jogo, no inevitável reencontro entre Theo e Theodoro.
Artista sexagenário, na trama, Theodoro tem descomunal apego e até ciúmes de uma figura de proa que ele mesmo criou no ateliê em que trabalhou no interior baiano. O roteiro de Sol trata de encabulada vingança, possibilidade de perdão e deposita muita carga nas lacunas do que não é dito, especialmente entre os personagens masculinos, separados por décadas. Filha de Theo, Duda (Malu Landim) traz à tona uma jornada cíclica, numa ponte com o avô (que ela acaba de conhecer) e algum hiato de relação junto ao pai. Fragilidade e vigor despontam no esperado reajuste de emoções entre Theo e o pai. Um fator que causa déjà vu está na trilha sonora a cargo de Guilherme e Gustavo Garbato (com Janecy Nascimento), em muito assemelhada à pegada de Antonio Pinto Jaques Morelenbaum (Central do Brasil). Os corriqueiros sumiços e sustos de personagens, constantes nos filmes de estrada, também despontam em Sol.
No filme em que paira uma possibilidade de perdão entre os personagens, a caracterização da vizinha Regina (a talentosa Luciana Souza, vista em Bacurau e no curta Inabitável) traz dose de alento. Depois de investir em filmes como Jonas e Alvorada (esse, codirigido por Anna Muylaert), Lô Politi acerta, em especial, ao dar relevo para o personagem do brasiliense Rômulo Braga. Sutil, ele fez por merecer os prêmios de melhor ator em festivais como o do Rio e da Inffinito Film (Miami), além do chinês Brics Film.
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