crítica

Candidato a melhor filme, pelo Oscar, filme mostra briga súbita entre amigos

Com a narrativa de inexplicável semente de rancor entre amigos, o candidato ao Oscar Os banshees de Inisherin examina o cotidiano em ilha irlandesa

Ricardo Daehn
postado em 03/02/2023 11:40 / atualizado em 06/02/2023 11:39
Os banshees de Inisherin: o grande talento de Colin Farrell e Brendan Gleeson -  (crédito:  Blueprint Pictures/Divulgação)
Os banshees de Inisherin: o grande talento de Colin Farrell e Brendan Gleeson - (crédito: Blueprint Pictures/Divulgação)

Crítica // Os banshees de Inisherin ####

Há quem possa contar nos dedos a quantidade de amigos, peneirados pelas afinidades. Radicalizando ainda mais esse critério, o fundamental personagem coadjuvante de Os banshees de Inisherin, o turrão Colm (Brendan Gleeson), vai além: a fim de não ter amigos, ameaça cortar um dedo, a cada investida de Pádraic (Colin Farrell), teimoso a insistir na manutenção de uma combalida relação com Colm. Vencedor do Globo de Ouro de melhor roteiro, ator e filme de comédia, o longa assinado pelo britânico Martin McDonagh venceu prêmios no Festival de Veneza, com o roteiro e o ator central (Farrell), e ainda ganhou relevância no circuito da tradicional associação de críticos National Board of Review, em que foi consagrado pelo roteiro. Pelo Oscar, concorre com nove indicações, computadas as categorias de direção e melhor filme.

Seja a partir da noção de Inisheer (área pouco povoada na Irlanda) ou ainda pela referência da Ilha da Irlanda (em grande parte, descolada do domínio do Reino Unido), o título do filme — situado em espaço fictício — ainda se atém aos espíritos ligados às lamúrias da morte, banshees. Situada nas bordas da Guerra Civil de 1923, a narrativa traça um paralelo entre a cisão de um país (que tornou mais vigorosa a atuação do Exército Republicano Irlandês) e a claudicante amizade entre dois homens de fortes personalidades.

A incapacidade de lidar com o que seja passageiro, numa realidade transitória, transtorna Colm a ponto de ele renegar Pádraic, atestando a abominação súbita pelo que seja simplório (traço muito gritante no simpático e empático Pádraic). À margem desta dissolução, está a fantasmagórica personagem McCormick, uma idosa agorenta. Depois de reunir Farrell e Gleeson no longa Na mira do chefe (2008), o diretor Martin McDonagh investe numa linha menos festiva, próxima ao dramático Três anúncios para um crime (2017).

A força da "vidinha besta" transcorrida na ínfima Inisherin, iluminada e arejada, ainda que paire a carga da hostilidade, faz lembrar muito o cinema do sueco Lasse Hallström, diretor dos longas Chegadas e partidas (2001) e Chocolate (2000) e da dobradinha destacada pelo Oscar pela direção — Regras da vida (1999) e Minha vida de cachorro (1988). Policiais malvados, enredos de emancipação feminina e a valorização de animais no convívio humano (uma jumentinha fará toda a diferença na trama) dão algumas camadas ao drama em que Pádraic rasteja numa tentativa de dignificar sua existência.

Entre incontáveis consumos de bebidas em pints, tempos ociosos e o medo de não cravar feitos na história, Colm se aplica na criação de uma composição musical, visando a eternidade. Indicado a 10 prêmios Bafta (o mais reconhecido no Reino Unido), o filme ainda se fortalece por duas presenças marcantes: a solteirona (desprezada no vilarejo) Siobhán (Kerry Condon) e o algo lunático e sofrido Dominic (Barry Keoghan). Ambos candidatos ao Oscar.

 

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