Estreia

A primeira morte de Joana traz discussões feministas com rito de passagem

Premiado no Festival de Gramado, o longa de Christiane Oliveira A primeira morte de Joana, sobre o rito de amadurecimento juvenil, estreia no DF

Ricardo Daehn
postado em 05/05/2023 06:40
 (crédito:  Okna Produções/Divulgação)
(crédito: Okna Produções/Divulgação)

Com apoio do brasiliense Gustavo Galvão no roteiro do mais novo longa (A primeira morte de Joana), a diretora Cristiane Oliveira cercou-se de colaborações internacionais como a da consultoria no roteiro do português João Nicolau e a presença dos técnicos Raúl Locatelli e Nohemi Gonzales.

O reforço do "tom onírico" na história de duas meninas (interpretadas por Letícia Kacperski e Isabela Bressane) em fase de transformações veio ainda do artista plástico e cineasta Cao Guimarães, que auxiliou na montagem, que rendeu a Tula Anagnostopoulos prêmio no Festival de Gramado. Filmado na região de lagoas gaúchas, o longa teve locações nas cidades de Osório e Santo Antônio da Patrulha.

"As experiências pessoais servem de inspiração, mas são ressignificadas no contexto do filme, que contou com a colaboração da atriz e roteirista Silvia Lourenço. Memórias de nós duas se misturaram na escritura da trajetória da protagonista Joana", observa a diretora, em entrevista ao Correio.

A diretora contesta atitudes desumanas que rendam atraso social. "Toda a tradição que não respeite a cidadania íntima das pessoas me interessa questionar", enfatiza. Selecionado para o Talents Script Station (laboratório de desenvolvimento do Festival de Berlim), o próximo longa de Christiane será uma coprodução italiana, e traz uma senhora pronta para se reinventar a fim de manter a família unida "em tempos de polarização".

Entrevista // Cristiane Oliveira, cineasta

No preparo do elenco, pesaram cuidados especiais, pelo tema de A primeira morte de Joana?

Ambas atrizes adolescentes estavam na faixa etária das personagens. Assim que escolhidas, formamos um grupo de diálogo conjunto com os pais sobre as temáticas do filme, para escutarmos as experiências um do outro. E essa vontade de ouvir me guiou também na direção: não dei o roteiro a elas num primeiro momento. Eu contava das situações e ouvia o que elas tinham a dizer a respeito, debatíamos como a personagem reagiria e escrevíamos as falas como elas falariam.

Dentro do cinema, como espectador, percebe mudanças de retrato das mulheres?

Sim, há mais divulgação sobre a história do cinema realizado por mulheres e cada vez mais diretoras realizando. A trajetória é árdua, em especial pela falta de apoio adequado à maternidade. Toda mulher que consegue chegar a lançar comercialmente seu filme coloca mais um tijolinho nessa construção coletiva pela igualdade.

Há alguns traços de filmes clássicos de Ingmar Bergman, no novo filme?

Não foi uma referência direta, mas admiro como Bergman mergulha na intimidade humana. Escrevo sempre buscando trazer o espectador para junto dos conflitos internos dos personagens. Outra conexão com Bergman talvez seja a relação do humano com a religiosidade. Nomes que estiveram presente em minhas trocas com o fotógrafo Bruno Polidoro (premiado em Gramado) foram Dorota Kedzierzawska e Krzysztof Kieslowski.

Filmar cenas e um terreiro exigiu que nível de autenticidade?

Rodamos num terreiro real, com seu grupo agindo como de costume. E, no sentido de preservar os mais velhos com sensibilidade para “receber” as entidades, foram eles que escolheram quem representaria o momento-chave: alguém com experiência para saber o que ocorre com o corpo, mas com o controle para não “receber” de fato, pois havia o risco. Definimos antes as músicas para o técnico de som saber quem microfonar. A partir daí, a câmera dançou livremente com eles.

 

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