Crítica

A última praga de Zé do Caixão estreia nos cinemas

Filme recuperado do mestre do terror nacional chega às telas do cinema, com ineditismo e muito empenho na restauração

Ricardo Daehn
postado em 07/07/2023 12:43
Zé do Caixão: origem criativa de A praga 
 -  (crédito:  Elo Studios)
Zé do Caixão: origem criativa de A praga - (crédito: Elo Studios)

Crítica // A praga ###

Ainda mais precioso na intenção do que no resultado alcançado, o lançamento do média A praga, produção inédita e póstuma do diretor e ator José Mojica Marins, sempre associado ao personagem Zé do Caixão, pode ser celebrado como vitória do profissionalismo e do esforço na depuração de uma obra dada como perdida. Depois de um empenho louvável do produtor e montador Eugenio Puppo, o filme A praga, que teve por roteiro história em quadrinhos criada por Rubens Francisco Lucchetti, chega aos cinemas, passado peculiar processo de realização.

Originalmente disposto a entregar um episódio para o programa da Band Além, muito além do além (entre 1967 e 1968), A praga traz Zé do Caixão como narrador. Ele se compadece e se compraz com o triste destino reservado ao casal Juvenal (Felipe Von Rhein) e Marina (Silvia Gless). À altura da estética e da inventividade de um Ivan Cardoso (vale o reforço de que Lucchetti foi roteirista de O segredo da múmia, vencedor de prêmio Kikito, no Festival de Gramado de 1982), Mojica aposta numa linguagem e estética perturbadora, que inclui o uso de carne crua, imagens feitas para baratinar (em um terreiro) e um tosco retrato de violência doméstica.

O que puxa a história é a ligação entre uma idosa indisposta com o súbito roubo da imagem dela, nos invasivos cliques fotográficos de Juvenal. Brota daí o praguejar da grotesca personagem criada pela veterana Wanda Kosmo (morta em 2007), dona de um impressionante trabalho corporal.

Exibido em Portugal, Espanha e Canadá, lugares em que o terror de Mojica Marins (morto em 2020) detinha muito reconhecimento, A praga cunha uma simplicidade e um impacto muito singular. Um elemento torna tudo ainda mais curioso: o material original dos anos de 1960 foi perdido em incêndio, e Mojica refilmou tudo em 1980 (num material também dado como perdido).

Restaurado e dono de ineditismo, A praga vem acompanhado do curta-metragem A última praga de Mojica (documentário de criação coletiva, finalista do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro), que explica meandros do terror de Mojica Marins. Outra quebra de parâmetros está no aspecto inclusivo, ao revés: foi uma deficiente auditiva que, lendo lábios dos atores, decifrou parte do roteiro (já que a banda sonora estava prejudicada), dando acesso à obra por parte do grande público.

 

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