Crítica // Indiana Jones e a relíquia do destino ####
Temperaturas, tempestades, marés e demais "perturbações" — que incluem fissura no tempo — estão aparentes na leitura do mecanismo de Anticítera, um aparato grego, cuja criação foi atribuída ao transdisciplinar Arquimedes. Entre pinos e algumas condições nada ideais advindas da idade, o bom e velho Indy, arqueólogo que nunca acreditou em mágica, se vê envolto tanto pelo apreço dos inventos da tecnologia quanto pela capacidade de ilusão da sétima arte, no decorrer do belo Indiana Jones e a relíquia do destino, embalado pela competente direção de James Mangold (sempre eficiente com biografias como Johnny & June e Logan).
De certa forma, em grande estilo, Mangold parece aposentar Indiana e ainda a agitada verve de Harrison Ford. Com cicatrizes do tempo, Indiana lida com elementos que não pode impedir, como testemunha da própria história, mas ele tem ambições que extrapolam a esfera pessoal, e ganha a chance de aventuras associadas a nazistas, capazes de reclamar o espólio reservado "aos vencedores".
É nessa deixa que o roteiro da tríade David Koepp (do Homem-Aranha de 2002), Jez Butterworth (do empolgante Aliança do crime) e de John-Henry Butterworth (que assinou o orgânico Ford vs. Ferrari) ganha chão. Na quinta aventura de Indiana Jones o outrora autossuficiente herói ainda ganha oportunidades junto à ação novaiorquina (potente pelos dividendos da corrida espacial) e por um inesperado salto no tempo que não seria bom revelar.
Numa agitada história movida a roubos e réplicas, os vilões não aceitam falsificação: encerram-se num coronel interpretado por Thomas Kretschmann (do pacifista O pianista, filme de 2002) no submisso Klaber (Boyd Halbrook) e muito mais saborosamente no excêntrico Dr. Voller (Mads Mikkelsen). Já do lado de Indy estão a afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge) e o despreparado Basil Shaw (Toby Jones, na pele de um atrapalhado escudeiro).
A pré-aposentadoria de Indiana Jones vem com tom adequadamente emotivo (à la Carlitos), mas sem dispensar segredos, intrigante criptografia, princípios físicos adulterados e exame de engenhocas. Orquestrada ao som inconfundível da trilha sonora de John Williams, a aventura é vasta e traz, além de inicial e afiada cena em cima de um trem, imagens submersas e incorpora toda a sorte de veículos que vão do simplório tuk-tuk, passando por aviões, carros e motos.
Na base da autenticidade, entre trilhos de metrô, sir Indiana se mostra mesmo é Indy cavalgando rumo ao destino de aquecer (na cabeça do espectador) o peso da ciência e a graça de seu domínio.
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