A saída de investidores estrangeiros no mercado de ações e de títulos públicos bateu recorde histórico no primeiro semestre de 2020, de acordo com dados do Banco Central divulgados nesta terça-feira (28/07). A instituição registrou da debandada de US$ 31,3 bilhões, entre janeiro e junho, na nota de estatística do setor externo. Esse valor é o maior para o período desde o início da série histórica do BC, em 1995.
“É a maior saída desde 1995, no acumulado do semestre. Mas precisamos entender o movimento, porque o maior volume se concentra, fundamentalmente, em março, de US$ 22,2 bilhões, e ele está muito relacionado às incertezas do momento anterior ao período mais agudo da crise (provocada pela covid-19)”, destacou Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, durante entrevista a jornalistas para comentar a nota da instituição do setor externo. Segundo ele, em junho, o saldo ficou positivo em US$ 2,4 bilhões, significando um retorno desses de parte desses recursos ao país.
Conforme dados do BC, do total de US$ 31,3 bilhões da saída líquida de capital estrangeiro em investimentos em portfólio do país no semestre, US$ 19,9 bilhões estavam aplicados em ações e em fundos de investimento; e US$ 11,4 bilhões, em títulos da dívida pública.
Na contramão, destacou Rocha, houve uma entrada de US$ 19,9 bilhões de recursos de empresas brasileiras investidos no exterior, entre março e junho, que tiveram impacto positivo no balanço de pagamentos. A piora nos resultados durante a crise provocada pela pandemia, de certa forma, explicam o motivo desse fluxo de repatriação de recursos. “Esse volume em apenas quatro meses também é recorde e ajudou a reduzir o deficit em conta-corrente do país”, afirmou Rocha.
Em junho, o BC registrou superavit de US$ 2,2 bilhões no balanço de pagamentos do país com o resto do mundo, revertendo o saldo negativo de US 2,7 bilhões no mesmo intervalo de 2019. No acumulado do ano, o deficit em transações correntes somou US$ 9,7 bilhões, registrando redução de 80% em relação ao resultado negativo de US$ 49,5 bilhões computados no mesmo período do ano passado.
A melhora desse saldo negativo na conta-corrente de junho também é explicada, segundo Rocha, pela forte queda dos gastos de brasileiros em viagens ao exterior, de 93,7% na comparação com o mesmo mês de 2019, para US$ 72 milhões. Foi o terceiro mês consecutivo em que esse deficit ficou abaixo de US$ 100 milhões. “Estamos prevendo que julho também fique abaixo desse patamar, completando o quarto mês consecutivo”, apostou o técnico, informando que, até o dia 23, o saldo negativo estava em US$ 88 milhões.
A redução nos gastos em viagens internacionais em junho também contribuiu para a redução de 61,4% no deficit na conta de serviços entre 2019 e 2020, para US$ 1,4 bilhão.
No acumulado do semestre, o saldo negativo de despesas de brasileiros com viagens no exterior ficou em US$ 1,7 bilhão, valor 70% inferior ao deficit de US$ 5,7 bilhões computados no mesmo período do ano passado.
Conforme os dados do relatório do BC, as exportações de bens recuaram 2,3% em junho, para US$ 18 bilhões enquanto as importações despencaram 19,1%, para US$ 11,1 bilhões, resultado em um superavit comercial de US$ 6,9 bilhões. Na comparação do semestre, os embarques caíram 6,8%, para US 102,2 bilhões e os desembarques encolheram 5%, para US$ 82,9 bilhões. Dessa forma o superavit comercial no acumulado em seis meses somou US$ 19,3 bilhões, dado 13,8% inferior aos US$ 22,4 bilhões computados no mesmo período de 2019.
Investimento direto
Em junho, o BC registrou a entrada de US$ 4,7 bilhões de investimento direto no país (IDP), dado superior a entrada de US$ 574 milhões computada no mesmo período de 2019. No acumulado do semestre, o volume de IDP passou de US$ 32,25 bilhões, no ano passado, para US$ 25,3 bilhões, uma queda de 21,4%.
Rocha evitou comentar sobre a comparação desse dado apenas na base mensal porque ela ficou muito baixa para afirmar que houve recuperação. “No acumulado do semestre, vemos uma redução do fluxo de IDP que podemos localizar bem nos fluxos de abril e maio devido à incerteza muito grande”, destacou.
Até 23 de julho, o técnico informou que o BC computou a entrada de US$ 620 milhões, mas espera registrar uma entrada de US$ 2 bilhões no mês, porque, a “trajetória nos últimos dias continua crescente”, apesar da volatilidade no mercado.
No mês passado, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o Banco Central mudou a estimativa para o deficit em transações correntes para US$ 13,9 bilhões, dado inferior ao rombo de US$ 41 bilhões estimado em março. Enquanto isso, reduziu a perspectiva para para entrada de IDP no país, de US$ 60 bilhões para US$ 55 bilhões. Esses dados mostram que o defict em conta-corrente do país pode ser facilmente financiado, lembrou Rocha.
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