A tragédia que atingiu o porto de Beirute, no Líbano, na última terça-feira, com uma explosão que deixou ao menos 135 mortos e mais de 5 mil feridos, acendeu alerta sobre a situação do Porto de Santos, maior da América Latina. O local mudou recentemente o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PZD), passando a prever que um terminal muito próximo à cidade passe a centralizar a movimentação de substâncias usadas na produção de fertilizante — como o nitrato de amônio, substância que, segundo apontado, seria responsável pela explosão em Beirute.
O novo PZD foi aprovado no mês passado, e passou a prever no terminal Outeirinhos a destinação de armazenamento e movimentação de granéis sólidos minerais (preferencialmente fertilizantes). No local, também haverá transporte de granel sólido vegetal (como açúcar, por exemplo). A ideia de centralizar no mesmo local visa aumentar a capacidade de recepção de fertilizantes e adequar a infraestrutura para atender ao transporte ferroviário.
Professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Rui Carlos Botter explica que os vagões iam carregados de açúcar, mas voltavam vazios. A ideia é limpar os vagões e abastecê-los com os produtos usados para fertilizantes, aproveitando a ida e volta. O problema é que o terminal em questão fica muito próximo da cidade — basta atravessar uma avenida.
Botter afirma que o novo PZD tem o argumento forte de melhorar o transporte ferroviário, com um apelo de diminuição de carga de poluentes, melhor distribuição, mas, por outro lado, traz um produto perigoso para muito mais próximo da cidade. Atualmente, há dois terminais que fazem a movimentação dos compostos e que ficam mais distantes. “O plano não discute os aspectos de risco que podem ser trazidos para Santos. Isso deve ser alvo do governo ou das autoridades ambientais, que devem solicitar ao terminal que seja muito esclarecido por meio de uma análise de risco detalhada, com a participação da sociedade santista. Vai haver necessidade de ficar muito bem detalhado”, diz.
Nitrato de amônio
Químico e doutor em saúde pública pela USP, Silvio José Valadão Vicente ressalta os riscos de se concentrar os produtos próximos à cidade. “Concordo com a ideia de cluster, mas não ao lado da cidade”, afirma. Ele frisa que o nitrato de amônio “reage violentamente” quando em contato com outros produtos, como açúcar ou óleo diesel, por exemplo, e o terminal receberá granel sólido vegetal.
Em nota, o Ministério da Infraestrutura afirmou que as operações de cargas nos portos “seguem normas de segurança aplicáveis ao manuseio e à armazenagem de carga, bem como a criteriosos padrões estabelecidos pelos órgãos ambientais”. A Santos Port Authority (SPA), autoridade portuária, chama de “precipitada e inconsistente qualquer confrontação entre as condições existentes no Líbano e as verificadas nas operações e instalações com cargas deste gênero” em Santos.
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