O ministro da economia, Paulo Guedes, lamentou o fato de os países europeus criticarem o Brasil pelo aumento do desmatamento da Amazônia enquanto eles não tiveram capacidade de controlar um incêndio em um quarteirão, citando o acidente que destruiu a catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. Ele ainda criticou a elite brasileira, afirmando que ela não entende o presidente Jair Bolsonaro, que tirou os “pobres das ruas”.
“É uma pena. Os europeus deveriam ser mais compreensivos quando não foi possível conter um incêndio em um bloco”, afirmou o ministro, nesta quinta-feira (06/08), durante videoconferência organizada pela Fundação Internacional para a Liberdade (FIL), sediada em Madri.
Durante a palestra para quase 180 participantes do evento da entidade espanhola, Guedes criticou o posicionamento de países protecionistas, como França e da Bélgica, contra o avanço do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia usando como “desculpa” as queimadas das florestas.
Na avaliação do ministro, como o Brasil tem créditos de carbono sobrando, os países europeus poderiam comprar esses créditos brasileiros e, assim, financiar o combate às queimadas, por que o governo não tem recursos suficientes para essa empreitada.
O chefe da equipe econômica também defendeu o processo de abertura comercial no país que segundo ele, “está em curso”, apesar de o mundo, no meio da crise, estar ficando cada vez mais protecionista.
“Confusão”
Na avaliação de Guedes, há muita “confusão” de informações no exterior sobre o Brasil e sobre o presidente Bolsonaro, porque elas estão sendo espalhadas para “elite” brasileira, que não entende porque o chefe do Executivo tem uma popularidade crescente entre os mais pobres. Ele ainda garantiu que o presidente “tirou os pobres das ruas”.
Ao admitir que o presidente não tem “boas maneiras” e não ser um bom comunicador ao defender mais a economia do que a saúde no meio da pandemia, Guedes disse que os pobres, que dependem do trabalho diário para comerem, estão entendendo sim o que Bolsonaro ele quer dizer, mas a elite não. “Quem não pode ficar em casa dois ou três meses está compreendendo o que o presidente diz quando defende que é hora de voltar para as ruas. Se ele ficar em casa, não vai ter comida para comer”, afirmou. “Esse é um comportamento diferente da elite brasileira, que não entende o presidente e consegue ficar em casa e pedir o delivery de comida e andam em grandes carros”, afirmou. Para ele, essa elite é que conversa com os europeus e não entende o que o pobre pensa.
O presidente começou a enfatizar o lado econômico da crise logo no início, e, por isso, acabou sendo mal compreendido. “O Brasil é muito melhor do que é visto lá fora”, garantiu. Ele inclusive, cometeu uma gafe ao afirmar que não há pobres nas ruas do país porque o governo distribuiu auxílio emergencial para 50 milhões de desempregados e invisíveis, “que estariam sem e sem teto”. “O presidente tirou as pessoas das ruas. Não podemos julgar por paixão, mas sermos mais razoáveis”, afirmou.
Guedes ainda culpou o Supremo Tribunal Federal (STF) por tirar o poder de decisão do presidente sobre as regras de distanciamento social, esquecendo de contextualizar que a decisão do STF foi dada após uma ameaça de Bolsonaro em baixar um decreto para que as pessoas saíssem às ruas no meio do pico da pandemia. “Não importa o que ele diz. A Suprema Corte transferiu o poder para prefeitos e governadores. São eles que tem o poder. Precisamos ser mais razoáveis”, defendeu.
“Nazismo de esquerda”
No discurso, Guedes ainda aproveitou para dar uma “aula de história”, misturando conceitos de Charles Darwin e Thomas Malthus para falar sobre preservação das espécies e demografia ao falar sobre ascensão de um governo com uma agenda liberal no Brasil. E, no meio da explanação, chegou a afirmar que o “nazismo foi um regime socialista”, frase que o presidente Jair Bolsonaro também pronunciou durante a visita que ele fez a Israel em abril de 2019.
A frase do presidente, classificando o nazismo como um movimento de esquerda e socialista, logo após visitar o Memorial do Holocausto, causou saia justa do governo com a comunidade judaica. O Yad Vashem, nome hebraico do Museu do Holocausto, classifica o movimento nazista de Adolf Hitler como fruto de “grupos radicais de direita”.
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