Conjuntura

Inflação sobe em julho: 0,36%

Marina Barbosa
Rosana Hessel
postado em 08/08/2020 01:38
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 31/7/20)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 31/7/20)

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,36% em julho, na comparação com o mês anterior, quando já havia subido 0,26%. Foi a maior alta para o período desde 2016. O aumento foi puxado pelos reajustes de gasolina e de energia elétrica, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou em linha com a mediana das expectativas do mercado, de 0,36%. No acumulado do ano, o IPCA registra elevação de 0,46% e nos 12 meses encerrados em julho, de 2,31%.

De acordo com os dados do IBGE, a gasolina subiu 3,42% em julho. A energia elétrica avançou 2,59% no mês. No entanto, para os especialistas ouvidos pelo Correio, a aceleração na inflação em julho reforça o entendimento de que o pior da recessão provocada pela pandemia da covid-19 ficou para trás, com a interrupção do ciclo de deflação e de inflação baixa visto nos primeiros meses da pandemia. Contudo, destacam que a retomada da atividade econômica ainda é incerta.

“Houve a interrupção de uma trajetória baixista da inflação, com taxas em aceleração ou positivas, inclusive em itens como vestuário. Mostra que a economia já pode ter encontrado o fundo do poço, mas a gente ainda não consegue aferir uma recuperação muito forte”, comentou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, observou que a demanda ainda fraca está ajudando a inflação a ficar abaixo do piso da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4% para 2020, com piso de tolerância de 2,5%. “A situação não é preocupante para a dinâmica inflacionária de curto prazo. Como a atividade está fraca, a inflação não ganha tração. Infelizmente a ‘boa notícia é que está ruim’”, ironizou.

Reforça essa avaliação o fato de que o setor de serviços registrou deflação de 0,11% em julho. “O segmento continua em baixa, porque muitos serviços ainda estão fechados devido ao isolamento social, como cinemas e teatros. E mesmo os que reabriram, como os salões de beleza, ainda não apresentam muita demanda, seja porque as pessoas estão com medo de voltar a frequentar esses locais, seja porque estão sem renda”, explicou o coordenador do Índice de Preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz.

Alimentos

O grupo de alimentação e bebidas, que foi o grande vilão da inflação no início da pandemia, ficou praticamente estável em julho, com variação de 0,01% em relação a junho. A batata-inglesa liderou a queda no mês, de 24,79%. Contudo, nos 12 meses encerrados em junho, a inflação desse grupo foi expressiva, de 7,61%.

Com o IPCA rodando em 2,3% no acumulado em 12 meses, os analistas consideram que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve manter a taxa básica de juros na mínima histórica de 2% ao ano até dezembro, pelo menos.

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Produção maior nas montadoras


Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que julho apresentou números mais positivos para o setor, depois do tombo dos três meses anteriores. A produção chegou a 170,3 mil unidades, alta de 73% sobre junho, mas ainda 36,2% inferior ao mesmo mês do ano passado.

Apesar da elevação, o ano de 2020 teve o pior julho desde 2003 para o setor. Os emplacamentos de veículos (174,5 mil) cresceram 31,4% sobre junho, mas caíram 28,4% em relação a julho de 2019, pior volume desde 2006. Nas mesmas comparações, as exportações subiram 49,7% e recuaram 30,8%.

“Além de um número maior de dias úteis, julho foi um mês no qual as montadoras e concessionárias fizeram um grande esforço para recompor o caixa prejudicado pela longa quarentena. Ainda temos uma pandemia que não deu trégua, com casos crescentes de covid-19 em estados importantes do país. É como se estivéssemos numa estrada sinuosa e com forte neblina, com grande dificuldade de enxergar o horizonte com clareza”, avaliou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. Em julho, as montadoras fecharam 1,5 mil vagas. No ano, as demissões chegam a 3,1 mil.

Diante do desempenho mais fraco da indústria, a Anfavea pediu ao governo para prorrogar em dois a três anos o cumprimento de metas de redução de emissões de poluentes estabelecidas no programa Rota 2030. As metas devem entrar em vigor gradualmente entre 2022 e 2025. O setor alega dificuldade para bancar os investimentos necessários, de R$ 12 bilhões, e que teve de suspender testes durante a paralisação causada pela covid-19.

“Uma crise desta dimensão vem afetando todos os campos profissionais, e não é diferente com nossa indústria. Somos a favor das novas etapas de redução de emissões, cujo cronograma ajudamos a elaborar. Essa sugestão de breve adiamento não afeta nosso compromisso com o meio ambiente”, garantiu o presidente da Anfavea.

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

IBGE: 40 milhões não encontram emprego

Mais de 40 milhões de brasileiros gostariam de trabalhar, mas não encontraram emprego ou deixaram de procurar, em consequência da crise sanitária pelo coronavírus. Os dados são da Pnad Covid-19 semanal, uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre esses 40,3 milhões, estão 12,3 milhões de desempregados e 27,9 milhões fora da força de trabalho.

O número dos que gostariam de trabalhar, de acordo com o levantamento, ficou estável em relação à semana anterior (28,3 milhões). A quantidade de desempregados, por outro lado, ficou acima do registrado no período precedente, quando eram 12,2 milhões. A taxa de desemprego se manteve estável em 13,1%.

De acordo com o economista Cesar Bergo, sócio-investidor da Corretora OpenInvest, o pior do desemprego e do desalento já passou. “O encaminhamento da reforma tributária e a promessa de retomada da reforma administrativa deram novo ânimo ao mercado”, afirmou. Segundo ele, a partir de setembro, a expectativa é de melhora na confiança de empresários e investidores e, com isso, de abertura de vagas. “É claro que um retorno à situação pré-pandemia talvez ocorra somente em dois ou três anos. Mas quando o ambiente de negócios muda, tudo muda”, afirmou.

Na prática, os cidadãos ainda sofrem. Moradora do Gama, Cristina Barros, 45 anos, brigadista de segurança em eventos, foi dispensada no ano passado e desde então vem procurando emprego. "Muitas empresas apenas pegam o currículo, mas não dão oportunidades. Tenho vários amigos da área que também não conseguem novos trabalhos", disse.

Edis Henrique da Silva Peres, 22, estudante, viu a vida financeira se deteriorar desde o início da crise. A esposa, Jeyze Karyne dos Santos Brito, 21, foi demitida. Em seguida, aconteceu o mesmo com ele. “Durante semanas de busca, não apareceu nada nos agentes integradores, sites de freelancer e muito menos no mercado formal, de carteira assinada e benefícios. A sensação é que realmente somos reféns de qualquer proposta. Assim, caso alguma oportunidade apareça, é preciso agarrá-la e se adaptar a ela. Sabe-se lá quando outra vaga pode aparecer.”

Gabriel Fontele, 19 anos, terminou o ensino médio em 2019 e aguarda uma oportunidade. No entanto, não encontra vagas disponíveis. “Tenho enviado currículo para várias empresas, mas percebo que, com a pandemia, ficou mais difícil ser chamado”, lamentou.

 

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