O auxílio emergencial de R$ 600 representa quase a totalidade da renda entre a população mais pobre do país. É o que apontou um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele revela que o benefício, aprovado em março deste ano, tem um peso maior para aqueles com menor renda. Isso significa que uma eventual redução ou interrupção causaria sérios impactos sociais. De acordo com dados atualizados nesta terça-feira (18/8) pela Caixa Econômica Federal (CEF), já foram pagos, nas cinco parcelas do auxílio emergencial, cerca de R$ 161 bilhões para 66,4 milhões de brasileiros.
Para Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), responsável pelo estudo, mesmo que haja um aumento relevante no orçamento do Bolsa Família após o fim do auxílio, a diferença causará grandes perdas para as camadas mais vulneráveis da população, que dependerá mais da recuperação do mercado de trabalho.
O estudo dividiu a população brasileira em decis, com base na renda. “Entre os 21 milhões que representam os mais pobres, o auxílio corresponde quase à totalidade da renda. No segundo decil, representa cerca de dois terços; já no terceiro, é pouco maior que um terço”, revelou.
Segundo Duque, cerca de 80% dos 21 milhões mais pobres são contemplados pelo Bolsa Família. “Quando o auxílio acabar, eles vão voltar a receber apenas o Bolsa Família. Não vejo como aumentar o orçamento do Bolsa Família para o Renda Brasil. É triste, não será possível minimizar a perda da renda”, disse ele.
Atualmente, o Bolsa Família é concedido a famílias em situação de extrema pobreza. O valor pago no benefício básico é de R$ 89,00 mensais. O programa também possui benefício variável, levando em consideração a existência de menores de idade na família.
Para Carlos Alberto Ramos, do Departamento de Economia da UnB, o momento ideal para o fim do auxílio seria quando a economia voltasse a crescer para algo próximo do que era antes da crise. “Agora, há duas questões: retirar o benefício tem um custo político muito grande. O segundo ponto é que o auxílio já está sendo estudado como uma junção de outros benefícios em um pacote. Isso transformaria a logística dos benefícios.”
Para Ramos, a criação do Renda Brasil não terá grandes impactos. O ponto principal, segundo ele, diz respeito àqueles que foram “descobertos” pelo auxílio emergencial, que não recebiam nenhum outro tipo de benefício, mesmo sendo de baixa renda. “Trocar para o Renda Brasil é um nome de fantasia, é politicagem. Agora, o problema que está sendo debatido é reformatar os programas sociais. A pandemia mostrou que existem muitas pessoas que não estão em nenhum registro. Foi uma oportunidade para juntar tudo e fazer uma reformatação. Nessa discussão, algumas coisas são interessantes e outras são mais polêmicas.”
Para o economista, o auxílio emergencial foi eficiente, pois permitiu avanços em transferência de renda e assistência aos mais necessitados. “O auxílio foi muito eficiente. Em alguns países, há situações de caos político. No contexto brasileiro, a pandemia foi péssima em número de mortes. Por outro lado, há um conhecimento muito importante sobre transferência de renda. Esse know how foi utilizado para reduzir a crise econômica e social, permitiu diminuir os impactos.”
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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