Adiar o Censo para 2022 seria uma 'tragédia', diz ex-presidente do IBGE

Para Roberto Olinto, até a Defesa precisa das informações do Censo para traçar estratégia. "Não se planeja um país sem um Censo", afirma

Rosana Hessel
postado em 19/08/2020 18:36 / atualizado em 19/08/2020 18:39
 (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
(crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O engenheiro Roberto Olinto, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 a 2019, vê com indignação a possibilidade de o governo adiar novamente o Censo de 2020 para 2022 com o intuito de remanejar os recursos para a Defesa no Orçamento de 2021, conforme informações que circulam pela Esplanada. Para ele, será uma “tragédia” esse novo adiamento.

“O Censo é importante para todo mundo, inclusive, para as questões militares. A Defesa também precisa das informações geradas pelo Censo para pensar as suas estratégias para toda a área militar. O Censo é fundamental para tudo”, disse Olinto. “Adiar o Censo seria uma tragédia mesmo. Não se planeja um país sem um Censo”, frisou.

A pandemia de covid-19 não permitiu ao IBGE realizar o Censo neste ano, algo inevitável, na avaliação de Olinto devido à situação inédita da crise na área de saúde. “As entrevistas são domiciliares e demoradas. Os questionários são ampliados e, por questões sanitárias, não era possível fazer esse tipo de visita dos pesquisadores às casas das pessoas”, explicou. “O adiamento do Censo para 2021 era inevitável. Existe um argumento sólido e não dá para discutir. Agora, adiar de novo para 2022 não tem sentido”, criticou.

Olinto lembrou que os dados do Censo são fundamentais para a elaboração de políticas públicas e também para a distribuição dos recursos federais aos municípios. Quanto mais tempo o governo demorar para compilar os dados, eles ficarão desatualizados. “Há muitos problemas em adiar o Censo. Um deles é a perda de dados demográficos”, explicou.

Procurado, o Ministério da Economia não comentou o assunto.


Políticas públicas

O ex-presidente do IBGE lembrou que os dados do Censo poderiam ser melhor aproveitados pelo governo para traçar políticas públicas de acordo com a demanda e o perfil populacional de cada região ou cidade. Ele citou como exemplo, o planejamento de escolas pelos municípios, que dependem da demanda mapeada pelo Censo, assim como o Sistema Único de Saúde (SUS), que pode ter um direcionamento melhor de serviços para jovens ou para idosos em uma determinada cidade se ele tiver informações sobre o perfil dos habitantes mais atualizado.

“O que temos até agora são dados de 2010 e, por conta de corte de verbas, o IBGE já não fez a contagem da população em 2015. Logo, se houver novo adiamento, vamos perder uma nova contagem em 2025 e os dados vão ficar mais defasados ainda”, destacou.

O último adiamento do Censo ocorreu em 1990, durante do governo de Fernando Collor de Mello. De acordo com o engenheiro, o último Censo, de 2010, foi uma referência global, porque foi 100 digital. “O momento em que o IBGE faz o Censo é quando o órgão atualiza metodologias, investe em melhorias tecnológica e aperfeiçoa os processos”, detalhou.


Orçamento

Pouco mais de 70% dos gastos do Ministério da Defesa são apenas com pessoal e pensões. Em 2019, o orçamento inicial da pasta foi de R$ 107 bilhões, mas e o total pago foi R$ 101 bilhões, conforme dados do Painel do Orçamento Federal. Desse montante, R$ 52 bilhões foram com a folha e outros R$ 23,5 com aposentadorias e pensões, ou seja, R$ 75,5 bilhões. O orçamento inicial da Saúde e da Educação para este ano foram, respectivamente, R$ 115,6 bilhões e R$ 108,8 bilhões.

As estimativas iniciais apontam que o orçamento da Defesa chegaria a R$ 110,1 bilhões em 2021. Vale lembrar que os militares foram uma das categorias mais privilegiadas na reforma da Previdência, porque ficaram de fora e, com a reestruturação de carreira, ainda vão ter reajustes salariais por uma década que devem custar R$ 10 bilhões aos cofres públicos.

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