Conjuntura

Negociações na Bolsa de Valores voltam a crescer, apesar da parada devido à covid

Antes do início da pandemia, 19 empresas estavam aguardando a análise da Comissão de Valores Mobiliários para fazer um IPO. Apesar da parada provocada pelo novo coronavírus, os pedidos voltam a ser feitos. Só em agosto, 12 companhias fizeram a solicitação

Marina Barbosa
Israel Medeiros*
postado em 23/08/2020 06:00 / atualizado em 23/08/2020 09:14
 (crédito: Luiz Prado/Divulgação)
(crédito: Luiz Prado/Divulgação)

Com as negociações em Bolsa dando sinais de retomada, as empresas voltaram a olhar para o mercado de capitais como uma forma interessante de angariar recursos. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) entrou, então, em uma nova onda de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). Só neste mês, 12 empresas deram entrada no pedido de abertura de capitais, elevando para 31 o volume de companhias interessadas em entrar nas negociações da bolsa. O número é recorde e pode levar a B3 a ter um dos melhores anos da história em termos de IPOs, apesar da crise vivida no início da pandemia de covid-19.


O IPO representa a abertura de capital de uma empresa, quando a companhia lança as suas primeiras ações e começa a ser negociada em bolsa. É um processo, portanto, que deve ser bem planejado e que normalmente ocorre em bons momentos do mercado de capitais. E que, por isso, saiu do radar de quase todas as empresas quando a pandemia do novo coronavírus eclodiu e deixou os investidores em pânico, derretendo as bolsas de todo o mundo.


No Brasil, por exemplo, 19 companhias estavam aguardando a análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer um IPO na B3 no início da pandemia. Mas, a maior parte delas decidiu segurar a oferta inicial de ações quando viu a bolsa entrar em pânico devido à covid-19. O maior exemplo foi o da Caixa Seguridade, que se preparava para levantar mais de US$ 10 bilhões em um IPO, mas suspendeu esse plano logo no início de março “em razão da atual conjuntura de mercado”. A Bolsa de Valores de São Paulo passou, então, exatos três meses sem nenhum IPO. E a ressaca foi ainda maior na CVM: foram quase quatro meses sem que nenhuma companhia desse entrada no processo de abertura de capital. De março a junho, portanto, ninguém falou sobre isso.


Esse cenário, contudo, começou a mudar nas últimas semanas. Em 25 de junho, a drogaria Pague Menos decidiu entrar na Bolsa e deu entrada no processo na CVM. Quinze dias depois, foi a vez da Lavvi Incorporadora. E aí os registros não pararam mais. Foram mais 17 desde então. Por isso, a B3 começou a fazer IPOs virtuais. Já foram seis desde o início da pandemia, mais do que os quatro realizados antes da covid-19. “Já vemos um fluxo intenso de ofertas de ações”, comentou o diretor de Relacionamento com Clientes da B3, Rogério Santana.


Segundo analistas, o retorno acelerado dos IPOs deve-se a uma série de fatores. Entre eles, a recuperação dos preços dos ativos negociados em Bolsa, após o choque da covid-19; a desvalorização do real, que deixa os ativos nacionais mais baratos para os investidores estrangeiros; a redução da taxa básica de juros, que tem levado um número cada vez maior de brasileiros a investirem na Bolsa; e também as dificuldades observadas recentemente no mercado de crédito, que pode tornar o financiamento via mercado de capitais ainda mais atrativo. Além disso, o Brasil já vinha com um volume significativo de ofertas, que foram represadas por conta da crise causada pela covid-19. Então, era de se esperar que elas voltassem a balcão após a recuperação dos mercados.


“No início da pandemia, houve um ambiente de incerteza muito grande e um mercado estressado. Isso afastou as possibilidades de IPO. Mas, com a retomada econômica, esse cenário melhorou. Tivemos inflação baixa, Bolsa subindo, ativos começando a se valorizar e aí as empresas voltaram com suas agendas de abertura”, explicou o analista da Ativa Investimentos, Pedro Serra. “No Brasil, esse movimento começou em junho, impactado pelos juros e pelo câmbio. Também há uma liquidez muito grande associada a bons negócios durante a pandemia. Então, tem liquidez, negócios resilientes, recursos. Esse mercado reacendeu. Já são cerca de 30 ofertas em preparação, mais do que tínhamos antes”, reforçou o sócio líder de IPO e assessoria em contabilidade e finanças da EY, Flavio Machado.


As expectativas são, portanto, de que muitas empresas aproveitem esse momento para fazer a abertura de capital. Companhias como Pague Menos e Lavvi, por exemplo, planejam arrecadar entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões no próximo mês. E a Caixa também retomou o plano de IPO da Caixa Seguridade, para tentar arrecadar mais R$ 10 bilhões em outubro. O banco, que, no início da pandemia, disse que não reabriria esse processo até que os ânimos do mercado financeiro se acalmassem, pediu a retomada da listagem em Bolsa há exatos 10 dias.

Bom momento

A Caixa confirmou que está de olho nesse bom momento da Bolsa, inclusive nos novos investidores pessoa física que se aproveitaram dos juros baixos para entrar no mercado de capitais.“Nesta operação da Caixa Seguridade, a Caixa vai buscar a participação das pessoas físicas. Nosso nome é muito popular e o grande diferencial do Brasil em relação às bolsas da Europa, da Ásia e da Europa é que o investidor pessoa física entra muito forte aqui”, comentou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, em live, na semana passada.
“Com as perspectivas de manutenção de juros baixos e o processo de migração de investimentos para o mercado de capitais e para a Bolsa, cria-se um ecossistema favorável para novas ofertas. Se mantendo esse cenário, a projeção é de que veremos cada vez mais companhias abrindo capital na Bolsa e utilizando instrumentos de dívida disponíveis no mercado de capitais”, explicou Rogério Santana. A B3 deve ter o melhor ano em termos de IPO desde 2007, quando mais de 60 empresas fizeram a abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo, arrecadando cerca de R$ 70 bilhões. Os analistas apostam que a maior parte dos novos IPOs venham dos setores que se mostraram mais resilientes na crise do novo coronavírus, como os de tecnologia, saúde e construção civil.

* Estagiário sob a supervisão de Simone Kafruni

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