Maia defende senadores sobre derrubada do veto número 17, revertida pela Câmara

A medida foi uma derrota inesperada no governo e gerou uma crise que só foi apagada depois que Jair Bolsonaro pediu socorro a Maia, para que deputados mantivessem o veto na sessão seguinte

Luiz Calcagno
postado em 24/08/2020 14:33

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, voltou a defender o Senado na votação do Congresso Nacional do Veto Número 17 de 2020, sobre o trecho da Lei Complementar 173/2020 que livra servidores da saúde e da segurança pública da proibição de reajuste salarial para 2021. A medida foi uma derrota inesperada no governo e gerou uma crise que só foi apagada depois que Jair Bolsonaro pediu socorro a Maia, para que deputados mantivessem o veto na sessão seguinte. O ministro da economia atacou senadores e disse que a medida causaria um impacto de R$ 130 bilhões sem, no entanto, explicar de onde tinha tirado o número, o que dificultou ainda mais o debate.

Para Maia, a vitória da manutenção do veto derrubado pelos senadores não foi uma vitória do governo, mas sim da “sociedade, do parlamento e seus líderes, que tem votado dessa forma com uma preocupação grande com o crescimento do gasto público”. Quando o gasto cresce, o cidadão paga a conta. Os servidores tiveram o salário mantido. Não tiveram nenhum tipo de redução. Diferente do setor privado. O mínimo é um não aumento para organizarmos as contas públicas esse ano e no próximo. Uma crise tão profunda como essa, a economia, pelas projeções, não vai se recuperar tão rápido, e os estados e municípios vão ter muita dificuldade”, justificou.

Maia falou sobre o tema em entrevista à rádio Gaúcha Zero Hora. Ele também disse acreditar que o impacto financeiro da manutenção do voto seria de R$ 30 bilhões, e não de R$ 130 bi, como afirmou Guedes. “Eu falei no meu discurso que, pra mim, o mais importante era o valor e não o princípio. Eu não sei se são R$ 120 bi. As progressões que eu fazia era algo em torno de R$ 30 bi. Por isso, eu digo que o problema é o princípio. Quando você abre uma brechinha, depois entra qualquer coisa. Não acho que o senado tenha esse papel. Esse projeto gerou tanta polêmica que, quando a câmara votou o primeiro auxílio para estados e municípios, o Paulo Guedes falou que a Câmara que era irresponsável. O senado que ia resolver o problema do Brasil”, recordou.

“Ninguém pode achar que é dono da verdade A conta que ele (Guedes) faz é no limite máximo. Mas a realidade não é bem essa. Estados e municípios estão em situação muito difícil. Por isso eu disse, sobre a frase do ministro dele, na semana anterior, que o governo tinha gasto R$ 600 bi, qual era o problema de gastar mais R$ 30 bi de investimento, eu disse que é questão de princípio. Se furar o teto mais uma vez, daqui a pouco a casa cai”, disse.

O presidente da Câmara destacou que é comum que as duas casas do Congresso revisem as votações uma da outra. “Em um sistema bicameral, a casa revisora é para isso. A Câmara faz uma votação, interpretou de um jeito, quando a gente vai ver na hora, tem mudança e a interpretação não é a que a gente gostaria, e o Senado existe para isso. Da mesma forma em um projeto que começou pelo senado, a casa revisora foi a Câmara, e ajustamos com o nosso diálogo sempre positivo e respeitando o senado”, destacou.

Renda básica

O auxílio emergencial criado pelos parlamentares também foi tema do governo. Maia disse que incluí-lo em um programa social permanente dependerá apenas de o Executivo mandar o texto para que os deputados possam debatê-lo. “O governo está fazendo as contas. Vamos aguardar o governo apresentar a proposta, para ver o que acha que é possível baseado no orçamento primário de 2021, para ver se consegue manter os R$ 600, ou qual valor vai propor. Como eu acho que são questões sensíveis e relevantes para a vida de milhões de brasileiros, acho que a gente tem que politizar menos, esperar o governo mandar a proposta e fazer o debate baseado nessa proposta”, explicou.

Para o parlamentar, manter os R$ 600 atuais será difícil. “Por isso quero que o governo encaminhe a proposta. E vamos debater baseado no espaço fiscal do orçamento. Quem defende o teto de gastos, não pode defender qualquer valor, apesar da importância que isso tem para milhões de brasileiros. E se a gente quer fazer o debate baseado na proposta do governo, temos que estar preparado para cortar despesa em algum lugar, para que a gente possa encaixar esse programa em um valor maior possível, para que de fato o orçamento toque nas pessoas mais vulneráveis. Hoje, temos muitas políticas distorcidas que focam mal no interesse da sociedade brasileira”, afirmou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação