Renda Brasil

Guedes admite que fim do abono é 'passar da base de trabalhadores para quem está pior'

Bolsonaro vetou a proposta da equipe econômica dizendo que não pode "tirar dos pobres para dar aos paupérrimos"

Marina Barbosa
postado em 28/08/2020 19:37
 (crédito: Evaristo Sá/AFP)
(crédito: Evaristo Sá/AFP)

Criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro por ter sugerido o fim do abono salarial para bancar o Renda Brasil; o ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu nesta sexta-feira (28/08) que a medida tiraria dinheiro da base de trabalhadores brasileiros para dar a quem está pior, sem emprego.

"O salário de 75% dos brasileiros que estão na CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] é abaixo de 1,5 salário mínimo. Realmente, é tirar da base de trabalhadores brasileiros e passar para quem está desempregado, quem está pior ainda", afirmou Guedes, na primeira declaração pública após a bordoada do chefe.

Nesta semana, Bolsonaro afirmou, em um evento em Minas Gerais, que a proposta da equipe econômica para o Renda Brasil estava suspensa e não seria enviada ao Congresso porque ele não pode "tirar dos pobres para dar aos paupérrimos". O presidente exigiu de Guedes, portanto, novas possibilidades de custeio para o Renda Brasil, que não atinjam programas sociais como o abono salarial.

Guedes, por sua vez, tentou pôr panos quentes sobre o assunto nesta sexta-feira. Com humor, ele comparou a crítica de Bolsonaro a um carrinho num jogo de futebol. E garantiu que o presidente está tranquilo sobre o assunto. O ministro ainda disse que é natural haver discussões quando o assunto é a focalização de programas sociais como o abono salarial. "O presidente reage naturalmente com instinto político".

O chefe da equipe econômica também garantiu que esta era só uma das várias possibilidades que a equipe econômica apresentou ao presidente como fonte de financiamento para o Renda Brasil. "Seguimos discutindo, estamos conversando", assegurou, dizendo que a "reta final" desse debate deve ser nos próximos dias.

Bolsonaro ouviu as novas propostas de Guedes nesta sexta-feira, bem como as opiniões da cúpula do governo e do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Logo depois, pediu uma reunião com os líderes partidários do Congresso para tratar do assunto na próxima semana.

Esse impasse, contudo, pode adiar para o fim do ano ou até para o início de 2021 a apresentação do programa que terá a marca social do governo Bolsonaro e deve substituir o Bolsa Família. Guedes admitiu que, se o impasse continuar, o presidente pode preferir recalibrar o auxílio emergencial a ter um "Renda Brasil capenga".

"Estamos conversando se deve ser a prorrogação do auxílio ou já o lançamento do Renda Brasil, o que é mais adequado para a situação atual", afirmou o ministro, garantindo que todas as opções têm a preocupação de não reduzir abruptamente a renda dos brasileiros que hoje recebem os R$ 600. A ideia é ter um "pouso suave" que garanta a continuidade do "consumo de baixa renda" e a "decolagem da economia".

A expectativa é, portanto, que o governo pague o auxílio emergencial em um valor aproximado a R$ 300 até o fim do ano, enquanto fecha os detalhes do Renda Brasil.

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