Com a taxa básica de juros em 2% ao ano, investidores estão com poucas opções para obter bons rendimento nas aplicações financeiras no Brasil, correndo menos riscos do que os da montanha-russa do mercado de ações. Uma das alternativas que vêm se destacando é mandar o dinheiro para fora do país, especialmente, a um paraíso fiscal que oferece vantagens, além da isenção fiscal e sigilo bancário.
Dados do Banco Central mostram que a maior parte do capital de brasileiros em paraísos fiscais está aplicada justamente no mercado financeiro, como ações, títulos soberanos e fundos de investimento. Um representante de um grande banco de investimento que pediu anonimato informa que o número de pessoas físicas e de famílias montando fundos em paraísos fiscais para investir em ações e comprar títulos soberanos é crescente. Segundo ele, é uma forma de diversificação do investimento e de melhorar as taxas de retorno em comparação às do Brasil.
Nesses países, informa o analista, há fundos com rendimentos mais vantajosos do que os existentes no Brasil e sem a cobrança de impostos que incidem sobre as aplicações e consomem toda a rentabilidade. Além disso, há a vantagem de se evitar as variações do câmbio. O operador conta que pessoas da mesma família acabam se juntando e criando fundos para poderem investir mais facilmente, principalmente, em ações nas Bolsas de Nova York, porque a burocracia é menor.
“A Bolsa brasileira está muito volátil e há muitas incertezas no país. Esse investidor que está saindo busca maior rendimento e quer aproveitar para comprar ações de empresas listadas nas Bolsas norte-americanas que estão tendo performances muito boas, especialmente, as da área de tecnologia”, afirma.
O advogado tributarista Mario Shingaki também vem registrando aumento na demanda de clientes por esse tipo de operação. “Desde que legal e lícita, é legítima a constituição de bens e de patrimônio em paraísos fiscais, porque é uma forma de os investidores protegerem o patrimônio, ou, no caso de empresas, fazer um planejamento sucessório”, explica.
Para o economista Eduardo Velho, estrategista da JF Trust, o principal motivo para esse movimento de saída de capitais de brasileiros para o exterior é a busca de proteção contra as incertezas internas. “Os juros baixos podem ser um motivo, mas o movimento preponderante é eliminar o risco cambial. Neste momento de incertezas, com o real se desvalorizando mais do que outras moedas emergentes, é natural que o fluxo de investimento de brasileiros esteja direcionado aos paraísos fiscais”, afirma. “Se houver mudança tributária, o câmbio pode ficar ainda mais elevado para remessas”, emenda.
Ricardo Rocha, economista e professor do Insper, reforça que o Brasil acaba perdendo investimentos para esses locais porque, aqui, as regras para operação de câmbio ainda são muito “atrasadas”. “Houve melhoras, mas o fato é que acaba sendo mais simples e mais barato investir via fundos internacionais nesses países”, destaca.
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