Após denúncia no Cade, leiloeiros negam cartel e irregularidades

Na terça-feira (18/8), o órgão abriu uma investigação após receber uma denúncia da empresa Copart, organizadora de leilões

Após serem denunciados no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), leiloeiros que atuam na venda de veículos negaram formação de cartel e irregularidades. Como mostrou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, na terça-feira (18/8), o Cade abriu uma investigação após receber denúncia da empresa Copart, organizadora de leilões.

Na denúncia, a multinacional norte-americana alega que a Associação Nacional de Leiloeiros Judiciais (ANLJ) e sindicatos de Estados como São Paulo e Minas Gerais agiriam para impedir a atuação da empresa, o que fere a concorrência. Além disso, estariam atuando de forma cartelizada ao estabelecer um pagamento uniforme de 5% sobre o valor do bem para o leiloeiro.

O advogado da ABLJ, Sidney Palharini Júnior, disse que a acusação é "absurda" e que a fixação da comissão dos leiloeiros em 5% está prevista em lei. Ele explicou que os leiloeiros recebem duas comissões, uma paga pelo arrematante, que é fixada em 5% na lei, e uma paga pelo contratante do serviço de leilão, que é negociada entre as partes.

"Esperamos que o Cade reconheça a inadequação desse pedido. Não há menor condição de estabelecimento de cartel porque a fixação de comissão é prevista em lei e as comissões com o comitente (contratantes) são privadas, cada leiloeiro trata de forma privativa com seus", afirmou.

O advogado alega que a Copart está atuando de forma irregular ao contratar leiloeiros, já que a lei determina que a venda em leilão tem que ser feita por uma pessoa física, o leiloeiro, que exerce uma função pública que não pode ser repassada para uma empresa.

"Existem várias organizadoras de leilão, a Copart não está trazendo nenhuma novidade para o mercado. A novidade é que ela está virando leiloeira e contratando leiloeiros só para dar aparência de legalidade", afirmou. "O leiloeiro pode contratar uma empresa para organizar um leilão. Mas uma empresa não pode contratar um leiloeiro. A Copart está subvertendo essa questão", completou.

Um dos mais antigos leiloeiros do País, o ex-senador Luiz Fernando Sodre Santoro, que atua na área há 40 anos, diz que está ocorrendo uma "concorrência desleal", uma vez que os leiloeiros recolhem Imposto de Renda sobre o que ganham com as vendas com a alíquota cobrada para a pessoa física, de cerca de 27,5%, enquanto a empresa recolhe como pessoa jurídica, com alíquotas menores.

"Não há uma questão econômica. O leiloeiro exerce uma função pública que não pode ser usurpada", completou.

Disputa

A disputa entre a Copart e os leiloeiros ocorre em um mercado que movimenta R$ 6 bilhões por ano. Procurada pela reportagem, a Copart disse que a atuação da empresa está adequada à legislação que não impede a prestação, por terceiros, de atividades-meio e acessórias ao leilão.

"A Copart não realiza leilões. Ela organiza os certames fornecendo toda a estrutura logística e de apoio e o leiloeiro realiza a hasta pública, como diz a lei. Portanto, acerca das afirmações de que pessoas jurídicas não podem exercer a função pública de leiloeiro oficial, a lei é clara ao estabelecer que as funções a serem exercidas pessoal e privativamente pelo leiloeiro são aquelas relacionadas ao pregão em si, o que é feito pelos leiloeiros em parceria com a Copart", disse, em nota.