O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou minimizar o impasse que criou com o Senado Federal ao dizer que os senadores cometeram um crime quando derrubaram o veto presidencial que congelou os salários do funcionalismo público até 2021. Ele pediu que a declaração não fosse entendida como uma ofensa, porque representava apenas o "lamento" e a "decepção" de uma pessoa que se sentiu "completamente abandonada e isolada".
O imbróglio com o Senado - que fez até o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), assinar um requerimento de convite para que Guedes fosse prestar esclarecimentos aos senadores - foi o primeiro tópico abordado pelo ministro na audiência pública realizada nesta terça-feira (01/09) pela comissão mista que acompanha o enfrentamento à covid-19 no Congresso. "Faço questão de começar com essa observação e esclarecimento", disse Guedes.
O ministro disse que tem muito respeito e confiança pela Casa da República. Porém, "um dia, descendo do trabalho, às 21h", foi comunicado de um voto que considerou "muito ruim para as finanças públicas brasileiras".
"Como forma de expressão, eu disse que é um crime ao Brasil. A expressão foi essa, se referindo ao voto, nunca ao Congresso e aos senadores. [...] Obviamente eu não poderia estar me referindo aos senadores. Eu estava me referindo a um voto específico, que tornada possível esse crime", alegou. O crime, lembrou ele, seria uma "forma de expressão" para a decisão que poderia "transformar o dinheiro da saúde em dinheiro de aumento de salário".
Guedes disse que ficou decepcionado com o voto, não apenas por conta do seu potencial impacto sobre as contas públicas, mas porque havia "corrido atrás" do Senado para construir um consenso em relação a esse assunto. Foi o Senado que incluiu um dispositivo para impedir que os recursos do Orçamento de Guerra fossem destinados a reajustes salariais no pacote de auxílio aos estados e municípios na pandemia de covid-19. O assunto ainda foi debatido por Guedes com o presidente Jair Bolsonaro e com os governadores estaduais.
"Não passou como ofensa na minha cabeça, mas como lamento. Eu sou, inclusive, amigo pessoal de vários senadores. O que os senhores ouviram foi o lamento e a decepção de uma pessoa. Após acordos públicos, eu me senti completamente abandonado e isolado. [...] Foi uma sensação de completo abandono e lamento pelo voto em si, jamais uma ofensa. Estamos em um regime democrático", acrescentou Guedes.
Ele ainda ressaltou a "inegável importância do Senado e dos senadores" no andamento da agenda de reformas do governo, dizendo que o Senado é reformista e tem aprovado medidas importantes para o Brasil.
Tentando avançar com mais algumas dessas reformas para tentar ajustar o Orçamento às vontades políticas do governo sem quebrar o teto de gastos, o chefe da equipe econômica pediu, então, que "jamais se confunda um lamento com um voto" e disse que não tinha problema em comparecer novamente ao Senado para esclarecer a questão de forma oficial, como pediram os senadores.
O presidente da comissão mista de acompanhamento da covid-19, senador Confúcio Moura (MDB-RO), prometeu transmitir a mensagem de Guedes ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e ao líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), "de tal forma que se sintam satisfeitos com as explicações de vossa Excelência e dêem o caso por encerrado, se assim for da conveniência".
Logo depois, Eduardo Gomes disse que já havia conversado com Davi Alcolumbre, que iria se comunicar com todos os líderes sobre a fala do ministro. O líder do governo ainda demonstrou respeito a Guedes e "compreensão absoluta das palavras de respeito ao Senado da República e ao Congresso Nacional". E pediu que os demais senadores tivessem esse mesmo espírito, para que o Parlamento voltasse a focar nas pautas que podem garantir a retomada econômica do Brasil após a pandemia.
"Peço que os senadores aquilo que a gente chama de retomada da agenda positiva do país. [...] O Brasil precisa ganhar algumas posições e esse trabalho não será feito sem parceria, identidade e respeito mútuo do Congresso Nacional, do Executivo e até, em alguns casos, do Poder Judiciário", defendeu Gomes.
Alguns senadores, contudo, fizeram questão de mostrar que continuam incomodados com o trato político do ministro. Espiridião Amin (PP-SC), por exemplo, disse que evitaria fazer comentários, "acatando a sugestão de respeito". "Quero respeitar esse preceito que dizem que é originário do Mediterrâneo de fazer com que a visita seja a dona da casa e eu seja a visita e me comporte", ironizou.
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