Gustavo Arruda

"Não dá para recuperar em V", afirma economista do BNP Paribas

Após quedas de 2,5% e de 9,5% no PIB dos dois primeiros trimestres do ano, Gustavo Arruda, economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, prevê crescimento de 8% do 3º trimestre, passando para 1% no 4º trimestre. Para 2021, expansão média trimestral será de 0,5%

Rosana Hessel
postado em 10/09/2020 14:14 / atualizado em 10/09/2020 14:48

A economia brasileira não vai ter uma recuperação rápida da recessão provocada pela pandemia de covid-19 neste ano, com curva em V, como promete o ministro da Economia, Paulo Guedes. O economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Gustavo Arruda, engrossa o coro de especialistas não tão otimistas como o ministro e que alertam para o fato de a retomada ser mais lenta e gradual a partir do segundo semestre.

Pelas estimativas do banco francês, o PIB brasileiro deverá crescer 8% no terceiro trimestre de 2020, após recuar 2,5% e 9,5% nos dois primeiros trimestres do ano, na comparação com os três meses anteriores. E, último trimestre do ano, não vai ser possível manter o ritmo de julho a setembro, "devido à retirada dos estímulos fiscais". Logo, a estimativa da instituição é de avanço de 1% e, em 2021, a taxa de crescimento médio trimestral rodará na casa de 0,5%.

“Não dá para recuperar em V. Uma coisa é ter uma economia rodando com um benefício de R$ 600 para 65 milhões de pessoas e, outra, com um voucher de R$ 300 para uma população mais restrita. Isso vai necessariamente afetar a dinâmica dos próximos trimestres”, disse Arruda, nesta quinta-feira, durante entrevista a jornalistas. “É um V incompleto, como deve ocorrer na maioria dos países”, explicou. Contudo, Arruda reconheceu que houve uma surpresa de uma recuperação nas vendas do varejo em maio em vez de isso ocorrer em junho devido ao auxílio emergencial. “Isso ajudou a suavizar o processo de recuperação, mas no

Preocupação com o fiscal

O economista do BNP demonstrou preocupação com a capacidade de o governo manter o teto de gastos, que foi a única âncora fiscal que sobrou enquanto a dívida pública bruta encosta em 100% do Produto Interno Bruto (PIB). “Não dá para brincar com política fiscal”, alertou. Ele lembrou que o auxílio emergencial de R$ 600 ajudou a evitar uma queda maior do PIB neste ano. Por conta disso, o BNP acaba revisou de 7% para 5% a previsão de retração da economia brasileira, em grande parte, devido à essas medidas assistenciais. Logo, o dado do Brasil acabou sendo melhor do que a previsão do tombo de 11% do PIB do México, que não fez o mesmo que o Brasil.

A partir de 2021, na avaliação de Arruda, o país precisa conter o aumento de gastos e o governo, se quiser lançar um programa como o Renda Brasil, vai precisar cortar despesas do Orçamento, em vez de criar novos gastos para evitar uma piora no cenário macroeconômico e um descontrole na dívida pública. “Nos próximos anos vai precisar passar por um período de austeridade fiscal apesar das pressões sociais para aumento de gasto”, afirmou. Ele prevê crescimento de 3% do PIB em 2021, mas ele condiciona esse resultado à manutenção do teto de gastos e sem que ele seja flexibilizado, como alguns parlamentares e integrantes do governo têm cogitado.

Para o economista do BNP, os riscos de mexer no teto de gastos vai gerar um descontrole da dívida pública, que deverá chegar 98% do PIB neste ano e rodando em torno de 95% do PIB em um horizonte mais longo sem sinais de redução, mesmo com a regra constitucional que limita o crescimento das despesas à inflação for mantida. Nem mesmo se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltar a devolver os aportes realizados pelo Tesouro Nacional que ainda restam a dívida continuará estabilizada nesse patamar elevado, acrescentou.

“Não podemos flexibilizar o teto. O país passou anos discutindo a meta de resultado primário e hoje não fala mais, porque ela foi flexibilizada e não é mais restritiva. A meta de primário não existe mais. A regra de ouro, também era uma preocupação, mas hoje o governo não a cumpre porque têm autorização do Congresso. A flexibilização fez com que essas regras não tenham efeito. E não adianta resolver excesso de gasto mexendo no teto, a única âncora fiscal que sobrou”, alertou Arruda. “Vamos deixar a regra funcionar”, aconselhou.

Um cenário alternativo, com flexibilização do teto, será muito ruim, na avaliação do economista, com aumento de juros, do custo do crédito, e inflação. “Para aumentar gastos será preciso cortar despesas ou aumentar impostos”, completou.

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