Em dia de decisão sobre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, o dólar apresentou queda de 0,91% fechou o dia vendido a R$ 5,23. O índice Ibovespa, por sua vez, encerrou a quarta-feira (16) com queda de 0,62%, aos 99.675 pontos. O motivo, segundo especialistas, é o ar de incertezas sobre a área fiscal do governo.
Na última terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que desistiu do Renda Brasil, que seria o substituto do Bolsa Família. Bolsonaro ameaçou demitir os integrantes do governo que levasse adiante a ideia, em um recado direto ao Secretário Especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. No fim de semana, em entrevista ao G1, Waldery revelou o plano do ministério da Economia em congelar aposentadorias e pensões para financiar o Renda Brasil.
O recuo do governo não melhorou o humor do mercado em relação às contas públicas, duramente atingidas pelos gastos com a pandemia. Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, explica que o investidor ainda enxerga incertezas. "Esse desgaste não deixou de existir, apesar da declaração do Bolsonaro ontem sobre o Renda Brasil. O dia também foi de decisões monetárias nos EUA e aqui. Isso motivou um movimento de aversão a risco. Por outro lado a gente teve recuperação da taxa de câmbio, que foi influenciada pela decisão do Fed", ressaltou.
A tão esperada decisão do Federal Reserve (Fed) — o Banco Central americano —, foi anunciada por volta das 15h (horário de Brasília): os EUA não só mantiveram a taxa de juros atual, como também sinalizaram que o próximo aumento deve ocorrer só em 2023. "Jerome Powell, presidente do Fed, se comprometeu com a manutenção dos juros. Ele disse que, se for preciso, vai continuar atuando no mercado para fornecer liquidez. E o que a gente viu lá fora é que a melhoria das projeções do PIB e do desemprego geraram otimismo no mercado americano", comentou Camila Abdelmalack.
Com o compromisso de que os juros não aumentarão enquanto a inflação ficar abaixo de 2%, os EUA estão em situação diferente do Brasil. Por aqui, a pressão inflacionária no setor de alimentos tem preocupado muitos consumidores. Mas Abdelmalack explica que a variação tem impacto relativo no Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), utilizado para medir a inflação total. "No Brasil tem essa questão da inflação nos alimentos. É interessante citar, mas essa inflação é 20% do Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), então a influência não é grande."
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diferentemente do que ocorre nos EUA, onde sucessivos estímulos monetários são anunciados, o Banco Central brasileiro tem a opção de aguardar para ver como as medidas já anunciadas devem impactar o cenário. O aumento na taxa Selic, avalia, só deve ocorrer em 2022.
"Os juros serão mantidos, na minha avaliação, tanto agora quanto em 2021. O próximo movimento deve ser de alta e acredito que isso deve ocorrer só em 2022. Em relação aos EUA, o Brasil está em uma situação distinta, até porque as economias são diferentes. O BC hoje tem uma opção, que é aguardar e ver como os estímulos já anunciados vão impactar a economia. A própria taxa de juros tem resultados previstos para vários meses à frente", detalhou.
Nesta quarta-feira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a previsão de queda do PIB global em 2020 de 6% para 4,5%. O Brasil também melhorou: a expectativa de recuo saiu de 7,4% em junho para 6,5%.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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