Painel Telebrasil 2020

Juro real negativo estimula demanda e investimento, diz ex-presidente do BC

Ilan Goldfajn afirma que taxa nominal, hoje em 2% ao ano, está abaixo do equilíbrio e vai impulsionar a retomada da atividade econômica no período pós-pandemia

Simone Kafruni
postado em 22/09/2020 13:08 / atualizado em 22/09/2020 13:37
 (crédito: reprodução)
(crédito: reprodução)

O ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração do Credit Suisse, Ilan Goldfajn, afirmou que o Brasil está com juro real negativo e juro nominal abaixo do ponto de equilíbrio. Por isso, a taxa básica Selic, em 2% ao ano, está bastante estimulativa para a retomada da economia no pós-pandemia. “Empurra a demanda e o investimento”, disse ele, ao participar do debate Política econômica da pandemia e o setor de telecomunicações, durante o Painel Telebrasil 2020, realizado nesta terça-feira (22/9).

Ilan ressaltou que a taxa de juros bem abaixo do ponto de equilíbrio, que seria algo em torno de 6%, com desconto da inflação de 3% a 4%, teria, aí sim, juro real de 2% a 4%. Segundo ele, a taxa de juros baixa promoveu novos produtos financeiros, como fundos de infraestrutura e imobiliários, com o mercado de capitais crescendo muito. “A queda de juros faz a diferença, mas, obviamente, é apenas uma das forças”, afirmou.

Segundo o ex-presidente do BC, o Brasil venceu a inflação e, agora, está vencendo os juros altos. “Mas nos falta um passo relevante no mundo macroeconômico: a consolidação fiscal. Precisamos que a nossa dívida seja percebida como estável. Entramos na pandemia com relação dívida/PIB em 75% — e vamos sair com 95% a 100%. Por isso, as reformas administrativa e tributária são necessárias, para consolidar o fiscal e a uma taxa de juros de um dígito”, assinalou.

A recessão está voltando, conforme Ilan, por isso o fiscal precisa ser trabalhado. “O pior da crise foi em abril, estamos melhorando. Porém, a volta tem alguns componentes importantes. É a saída da pandemia. O mundo está tendo uma dúvida de segunda onda, sem o mesmo grau de letalidade que tinha no começo da primeira fase. No caso do Brasil, temos uma primeira onda que está devagar, se estabilizou e vem se reduzindo um pouco nas últimas semanas”, analisou.

Um fenômeno relevante, destacou, é a nova mobilidade das pessoas. “Muita gente que não podia oferecer seus serviços, do contingente autônomo ou do setor informal, os invisíveis, podem voltar e tentar fazer o ganha pão deles. Há setores que paralisaram muito pouco, como o agrícola ou o industrial. E os serviços estão tendo uma volta, apesar daquela parcela que depende do presencial, como aviação, cinemas e shoppings”, avaliou.

Legado da crise

Apesar de desenhar um quadro de recuperação, Ilan alertou que o Brasil terá de lidar com o legado da crise do ponto de vista fiscal. Vamos ter que lidar com o legado da crise do ponto de vista fiscal. “O teto de gastos foi muito relevante para permitir a queda de juros e da inflação, foi a âncora da economia. Para credibilidade fiscal, é importante ter âncora de médio prazo”, assinalou.

Com a mudança do nível da dívida e, principalmente, com o auxílio emergencial, cada vez mais vem sendo debatido o fim do teto. “Se não vamos, de fato, manter o teto, é preciso ver se há formas alternativas de se resolver o fiscal. Está se discutindo isso, com um deficit nominal acima de 15%. Mesmo melhorando tudo no ano que vem, ainda vai ter deficit. Precisa de âncora ou os detentores da dívida vão exigir prêmio maior”, alertou.

Sobre o crescimento da economia, Ilan acredita que o movimento em V já está acontecendo. “Mas porque caiu muito rápido e está recuperando. No entanto, precisamos saber até onde se recupera. Depende da vacina, da segunda onda e da nossa capacidade de fazer as reformas, de manter a âncora que permite juros mais baixos, estímulo para crescer”, pontuou. Além das reformas, o ex-presidente do BC ressaltou o aumento da produtividade e da eficiência e a melhoria da educação no país como caminhos essenciais para saída da crise.

 

 

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