Distinguir entre produtos orgânicos ou convencionais pode ser uma tarefa complicada porque, visualmente, ambos são idênticos. Mas a facilidade para conhecer a origem e as etapas de produção, especialmente quando o assunto são hortaliças, pode se tornar algo comum na rotina do consumidor. Foi o que explicou Warley Nascimento, chefe-geral da Embrapa Hortaliças. Em entrevista ao CB.Poder — uma realização do Correio Braziliense e da TV Brasília —, ontem, ele afirmou que, em breve, será possível consultar códigos de barras para ter certeza da qualidade oferecida.
“O Ministério da Agricultura e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) têm uma normativa a qual o produtor vai ter que se adequar. Nos próximos meses, ou anos, em toda hortaliça vai ter um código de barras. O consumidor vai saber a origem, qual o tipo de semente, qual o tipo de agrotóxico, e outros detalhes. Isso vai ser muito bom para a pessoa, que vai ter uma garantia de que está consumindo um produto de melhor qualidade”, explicou.
Para Nascimento, a novidade acompanha uma tendência da sociedade de saber a origem daquilo que come. “A geração atual quer saber a origem, como foi produzido, se possui agrotóxicos ou se vem de uma área desmatada. Sempre busca consumir produtos de qualidade. Hoje, no entanto, as hortaliças são comercializadas a granel, então a rastreabilidade fica difícil. Essas hortaliças passam por vários locais até chegar ao consumidor final”, afirmou.
Apesar de o momento ser positivo, o início da pandemia trouxe dificuldade, que obrigaram a adaptações. O isolamento mudou a forma de consumir, o que afetou o setor de restaurantes e, consequentemente, a demanda.
“Muitos brasileiros estavam acostumados a almoçar fora de casa. Com o isolamento, eles são obrigados a comer em casa. Por isso, vimos que a demanda por hortaliças caiu no início da pandemia. Nos restaurantes self-service, por exemplo, você consome de três a cinco espécies diferentes. Em casa, você geralmente opta por fazer uma salada mais rápida. As idas ao supermercado também diminuíram”, observou.
Passada a pior parte da pandemia, a procura por alimentos saudáveis, segundo Nascimento, foi canalizada para os orgânicos. “A gente observou uma procura maior por orgânicos, que são nutritivos, sem defensivos químicos, mais saudáveis e produzidos numa condição melhor do que os convencionais”.
O chefe-geral da Embrapa Hortaliças destacou, também, que grande parte da produção de hortaliças no Brasil é realizada por pequenos produtores, que têm dificuldades para conseguir crédito ou assistência. Para Nascimento, isso dificulta o desenvolvimento do setor e a melhoria na rastreabilidade dos produtos. Outro problema é a dependência do país de produtos importados, que deixa de beneficiar produtores locais. E exemplificou com o alho: pouco mais de uma década atrás, a área de plantação era de 18 mil hectares no país, mas, hoje, apenas 8 mil hectares são utilizados.
Outro ponto que deve ser repensado, na visão dele, é a falta de cooperação no setor de hortaliças. “Se a gente pegar a cadeia do leite, ou do frango, são mais organizados, têm cooperativas. O produtor de hortaliças é sozinho, compete com o vizinho, planta o mesmo que ele, compete no preço, não troca informações. A gente deveria ter mais associações, cooperativismo no setor”, sugeriu.
*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi
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