MINISTRO DA ECONOMIA

Analistas veem Guedes isolado com discurso contra intervenção em preços

Governo, segundo analistas, corre o risco de adotar medidas populistas que não deram certo no passado e em países vizinhos

O governo está dividido em relação à intervenção no mercado para tentar controlar a disparada nos preços de produtos como alimentos e os materiais de construção. Com isso, segundo analistas, corre o risco de adotar medidas populistas que não deram certo no passado e em países vizinhos. Pela percepção do mercado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está cada vez mais isolado ao defender que o governo não deve interferir nos negócios.

De acordo com economistas, apesar de dizer que descarta congelamento ou controle de preços, o presidente Jair Bolsonaro dá sinais contraditórios, ao autorizar, por exemplo, que o Ministério da Justiça notifique empresas para explicar a elevação dos valores cobrados dos consumidores.

Para o economista Claudio Considera, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), qualquer forma de intervenção nos preços, incluindo a notificação de produtores e varejistas de arroz, como ocorreu nesta semana, é uma medida arriscada, além de incomum em um governo que se diz liberal.

“A Venezuela começou dessa forma, intimando e, depois, estatizando supermercados”, disse Considera, lembrando que o país vizinho que não consegue escapar da hiperinflação e tem escassez de alimentos. “Ao fazer perguntas aos setores produtivos, o governo esquece as dimensões que uma atitude dessa tem. O risco de começarem a remarcação preventiva de preços aumenta”, destacou o economista, que foi secretário de Acompanhamento Econômico (Seae) no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Na avaliação de Considera, não há risco de desabastecimento de alimentos, apesar do aumento nas exportações de commodities agrícolas. “O país sempre exportou, mas está na entressafra do arroz, quando o preço sobe mesmo. O importante é que o governo tenha uma política de preço mínimo, regulado por estoques. Governar é administrar crises”, reforçou.

No entender do professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro, “o maior culpado da alta do preço do arroz é o ministro Guedes, porque ele determinou o fim do estoque regulador que o governo tinha na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), como se não houvesse amanhã”. “Parece mais omissão do que uma prova contundente de que ele esteja isolado no governo”, emendou.

Senacon descarta tabelamento

Apesar de ter notificado empresários para explicar o aumento de preços do arroz, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, descarta um eventual tabelamento. “Se houver alguma infração econômica, como formação de cartel, nós iremos encaminhar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para as providências que couberem”, disse o coordenador-geral da Consultoria Técnica e Sanções Administrativas do órgão, Leonardo Albuquerque Marques. “Mas, para evitar que o produto simplesmente desapareça das prateleiras, não faremos tabelamento de preços. Pelo menos, não aqui pela Senacon.”