PRÊMIO

Leilão para vender frequências de rádio é um dos exemplos do Nobel de Economia

Americanos criaram formatos para cessão de bens e serviços difíceis de vender de forma tradicional, como frequências de rádio. Uma das descobertas da dupla é que oferta racional tende a ser abaixo do mercado em razão da ''maldição do vencedor''

Marina Barbosa
postado em 13/10/2020 06:00 / atualizado em 13/10/2020 09:59
 (crédito: Anders Wiklund/Sweden OUT/AFP)
(crédito: Anders Wiklund/Sweden OUT/AFP)

O aperfeiçoamento da teoria e dos modelos de leilão usados por empresas e governos de todo o mundo rendeu aos economistas norte-americanos Paul Milgrom e Robert Wilson o Prêmio Nobel de Economia de 2020. A premiação foi anunciada, ontem, pelo júri da Academia de Ciências da Suécia, que explicou: os leilões estão por toda parte e afetam nosso dia a dia.

Segundo a Academia, Milgrom e Wilson “melhoraram a teoria do leilão e inventaram novos formatos de leilão, beneficiando vendedores, compradores e contribuintes em todo o mundo”. Afinal, apesar de serem tradicionalmente associados a mercados como o de artes, os leilões afetam a vida de todos os contribuintes e cidadãos, pois também envolvem a contratação de empresas por parte do poder público, a venda de títulos do governo e a cessão de bens públicos complexos como as frequências de telecomunicações e a energia. Foi por conta da criação das regras dos leilões das frequências de rádio que dão sinal às comunicações sem fio nos Estados Unidos, por sinal, que Milgrom e Wilson ficaram conhecidos.

Hoje com 83 anos, Wilson começou a estudar a teoria dos leilões ainda nas décadas de 1960 e 1970, quando publicou artigos considerados clássicos pelo júri do prêmio Nobel. À época, o economista descreveu como se comportam os participantes de um leilão, mostrando que os compradores costumam fazer lances menores do que o valor que consideram justo para evitar fazer um mau negócio, sobretudo quando têm menos informações sobre o objeto do leilão. Ou seja, para não pagar muito e ganhar pouco — uma teoria chamada de maldição do vencedor. Já na década de 1980, Milgrom, hoje com 72 anos, apresentou detalhes de como essa maldição do vencedor se dá nos diferentes formatos de leilão e demonstrou que um leilão é mais rentável quando os compradores obtêm informações sobre os lances planejados pelos outros licitantes.

Exemplo

Logo depois, Milgrom e Wilson se uniram para criar formatos de leilão voltados a situações e bens complexos que não eram atendidos pelos modelos tradicionais de leilão. Foi assim que a dupla desenvolveu o Leilão de Rodadas Múltiplas Simultâneas, que permitiu a venda de várias frequências de rádio americanas em 1994. De acordo com a Academia de Ciências da Suécia, depois de décadas de receita limitada, os Estados Unidos obtiveram US$ 617 milhões vendendo 10 licenças em 47 rodadas de licitação por meio desse tipo de leilão.

A invenção dos economistas foi, então, replicada em países como Espanha, Reino Unido, Suécia e Alemanha e gerou mais de US$ 200 bilhões com vendas de espectro ao redor do mundo.
Depois disso, o Leilão de Rodadas Múltiplas Simultâneas ainda foi adaptado à comercialização de eletricidade e gás natural, e Milgrom desenvolveu outros formatos de leilão modificado — o Leilão do Relógio Combinatório e o Leilão de Incentivo.

Para a Academia de Ciências da Suécia, este é um “belo exemplo de como a pesquisa básica pode posteriormente gerar invenções que beneficiam a sociedade”. “Os laureados em Ciências Econômicas deste ano começaram com a teoria fundamental e, mais tarde, usaram seus resultados em aplicações práticas, que se espalharam globalmente. Suas descobertas são de grande benefício para a sociedade”, avaliou o presidente do comitê do prêmio, Peter Fredriksson.

Lado a lado

Milgrom e Wilson são professores da Universidade de Stanford e moram na mesma rua. Por isso, comemoraram juntos, ainda na madrugada, a conquista do prêmio Nobel de Economia — depois de Wilson acordar o colega para contar a novidade.

Eles vão dividir um prêmio de 10 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 6,3 milhões. Descontraído, Wilson admitiu, contudo, que, apesar do trabalho, nunca participou de um leilão.

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