Crise derruba o lucro dos bancos

Correio Braziliense
postado em 16/10/2020 06:00

A pandemia do novo coronavírus deve derrubar em até 35% o lucro dos bancos brasileiros neste ano. A avaliação é do Banco Central (BC), que já observou uma contração de 31,9% do lucro líquido das instituições financeiras no primeiro semestre e não vê perspectivas de melhora no curto prazo, já que ainda há muitas incertezas sobre a recuperação econômica brasileira e o risco de inadimplência continua exigindo provisões bilionárias.

“Para o lucro deste ano do sistema financeiro nacional, uma vez que devemos continuar tendo reforço das provisões, estamos estimando uma redução de 30% a 35%, devendo encerrar o ano em algo em torno de R$ 80 bilhões a R$ 85 bilhões”, calculou o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, durante a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do primeiro semestre de 2020.

O relatório revelou que o lucro líquido dos bancos brasileiros já caiu a R$ 40,8 bilhões no primeiro semestre. O resultado é 31,9% menor do que o registrado no mesmo período de 2019 e reduziu de 17,8% para 11,2% o retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) das instituições.

Souza disse, porém, que uma taxa de retorno de até 13% ainda traz atratividade para o segmento e garantiu que o atual nível de rentabilidade não traz riscos para a estabilidade financeira, pois, segundo o REF, permite “aos bancos manterem os índices de capital adequados e o suprimento de crédito à economia real”.

Segundo o BC, o que explica a queda de rentabilidade é, sobretudo, o aumento das provisões feitas pelos bancos, como forma de se prevenir de eventuais calotes, na pandemia. Só no primeiro semestre, as despesas com provisões somaram R$ 65 bilhões. A cifra é 80% maior do que a observada no mesmo período de 2019 e se aproxima do nível de provisões realizado na crise de 2015 e 2016. Na opinião de Souza, deve continuar em nível elevado neste fim de ano.

Os dados do BC também revelam que, diferentemente do que ocorre em crises econômicas, a inadimplência não explodiu na pandemia. O que explica isso é o programa de prorrogação das parcelas, que permitiu a milhões de consumidores e empresas adiar o pagamento das parcelas dos financiamentos bancários.

Segundo o REF, 26% da carteira de crédito brasileira foram renegociadas desta forma, o equivalente a R$ 939 bilhões. Os bancos temem que parte disso vire inadimplência após o fim das prorrogações, já que alguns desses consumidores podem não conseguir voltar a pagar as parcelas em dia ao final deste ano devido às incertezas sobre a recuperação econômica.

Souza admitiu que a inadimplência ainda deve crescer. Ele calculou a taxa, que hoje está em 2,6%, deve ficar entre 3% e 4% no primeiro trimestre de 2021, aproximando-se do recorde de 4% observado na crise de 2015. (MB)

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