CONJUNTURA

Desemprego avança e atinge 14 milhões

Taxa atinge o recorde de 14,4% na quarta semana de setembro e ainda pode crescer, segundo especialistas. Aumento ocorre porque mais pessoas passaram a buscar trabalho após a flexibilização do isolamento social e a redução do auxílio emergencial

MARINA BARBOSA NATÁLIA BOSCO*
postado em 17/10/2020 00:57

Mais de 4 milhões de brasileiros já entraram na fila do desemprego desde o início da pandemia de covid-19. Por isso, já são 14 milhões de desempregados no Brasil. O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela um aumento de 32% no número de brasileiros que estão sem trabalho e fez a taxa de desemprego bater o recorde de 14,4% da população economicamente ativa na quarta semana de setembro.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid-19), apesar de milhões de pessoas terem perdido o trabalho logo no início da pandemia, o desemprego continua aumentando de forma significativa no Brasil. Só entre a terceira e a quarta semana de setembro, 700 mil pessoas passaram a procurar emprego no país. Por isso, o contingente de desempregados, que era de 9,8 milhões em maio, subiu de 13,3 milhões para 14 milhões de pessoas no final de setembro.

Desse modo, a taxa de desemprego, que era de 10,5% no início da pandemia, avançou de 13,7% para 14,4% em apenas uma semana. A taxa é a maior da série histórica da Pnad Covid e é ainda mais alta nas regiões Norte e Nordeste. Segundo o IBGE, o desemprego já bate 16,9% no Norte e chega a 17,5% no Nordeste. Logo, o nível de ocupação da população brasileira caiu novamente, chegando a 48,7%.

Para a coordenadora da Pnad Covid-19, Maria Lúcia Vieira, a taxa de desemprego vem subindo porque muitas das pessoas que foram demitidas nos últimos meses só estão começando a buscar uma nova ocupação — e, consequentemente, a pressionar a taxa de desemprego — agora, devido à flexibilização do isolamento social e à reabertura das atividades econômicas. “A taxa considera as pessoas que estão procurando emprego. Então, à medida que as pessoas voltam a buscar uma ocupação, ela sobe, já que a atividade econômica não tem reagido na mesma velocidade e, por isso, não consegue reabsorver todo esse pessoal”, explicou o economista do Ibre/FGV Rodolpho Tobler.

Ele diz, contudo, que há outro fator pesando nesse indicador, sobretudo no Norte e no Nordeste: a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. “Essas regiões receberam a maior parte do auxílio emergencial. À medida que o auxílio vai reduzindo e vai chegando ao fim, as famílias sentem maior necessidade de complementar a renda e voltam a procurar emprego”, explicou Tobler.

“Por conta disso, a taxa de desemprego ainda deve subir mais antes de começar a cair”, alertou a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause. Os dados do IBGE explicam que ainda há 15,3 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, mas não estão procurando vaga por causa da pandemia, ou porque não encontraram uma ocupação na localidade em que moram. Segundo os especialistas, elas vão voltar a pressionar a taxa de desemprego quando decidirem retomar a busca.

Além disso, lembram os economistas, há muita incerteza sobre a recuperação econômica. Por isso, as empresas não estão dispostas a recontratar esse pessoal. “O setor de serviços, que é o que mais emprega, está demorando mais a reagir, porque depende do contato físico. E o varejo, que estava crescendo fortemente, pode sofrer uma desaceleração agora, com a redução do auxílio emergencial e a alta do desemprego, afetando a indústria”, afirmou Patrícia. Ela calcula que a taxa de desemprego vai chegar a 15,8% e pode crescer até um pouco mais no início de 2021, sobretudo se a economia não engatar e as empresas decidirem demitir os trabalhadores que hoje estão com o contrato suspenso.

Informalidade
O cenário preocupa até quem já perdeu o emprego. Por isso, ainda pode aumentar a precarização do trabalho. O lojista Bonifácio Júnior, de 30 anos, foi demitido logo no início da pandemia e ainda não conseguiu encontrar um novo emprego. Por isso, recorre a serviços informais para sobreviver. “Está complicado, porque nem sempre aparece. O que aparece, a gente pega”, explicou. “Devido à pandemia, há milhares de pessoas desempregadas e a concorrência está bem mais alta. A gente não pode escolher”, reforçou o jardineiro Jelso Reis, de 48 anos, desempregado há quatro meses.

Por conta disso, a taxa de informalidade, que havia caído devido ao distanciamento social e ao auxílio emergencial, também começa a dar sinais de reação. Segundo o IBGE, só entre a terceira e a quarta semana de setembro, a taxa avançou de 33,6% para 34,2%, o equivalente a 28,3 milhões de trabalhadores informais.

*Estagiária sob a supervisão
de Odail Figueiredo

“!Devido à pandemia, há milhares de pessoas desempregadas, e a concorrência está bem mais alta. A gente não pode escolher”
Jelso Reis, jardineiro,desempregadohá quatro meses

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Vagas temporárias devem chegar a 400 mil

 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
crédito: Ed Alves/CB/D.A Press

Esperança de ocupação para muitos dos brasileiros que chegam ao fim do ano sem renda, o mercado de vagas temporárias prevê 400 mil oportunidades de trabalho neste fim de ano. O volume, contudo, é menor do que o de 2019, quando foram abertas 436 mil vagas. Afinal, boa parte dos setores que normalmente precisa reforçar o quadro de pessoal para as festas e as compras de fim de ano ainda passa por dificuldades.

Levantamento da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) revela que, nos últimos meses, o número de vagas temporárias até chegou a subir no Brasil. Em agosto, por exemplo, foram quase 200 mil, o melhor resultado para o mês da série histórica da entidade. Presidente da associação, Marcos de Abreu explicou que as empresas realizaram um volume muito grande de demissões no início da pandemia e precisaram recompor parte do quadro de pessoal quando as atividades voltaram a operar. Só que, como ainda há muitas incertezas acerca do ritmo dessa recuperação, muitos empresários fizeram essa recomposição por meio de contratos temporários.

“A indústria, que começava a contratar em setembro ou outubro, por exemplo, já contratou em agosto e vem mantendo essas vagas”, explicou Abreu, que está otimista quanto à abertura de postos temporários nesta reta final do ano. “Nós projetamos 184 mil vagas em outubro, 124 mil em novembro e 97 mil em dezembro. Dá cerca de 400 mil vagas. Mas acredito que pode até passar dos 500 mil, pois muitas empresas ainda estão inseguras e só devem contratar quando aparecer demanda”, disse Abreu.

Tímido otimismo
Boa parte dos setores que respondem pelas contratações temporárias, contudo, não está tão otimista quanto a Asserttem. O varejo, por exemplo, já fechou 409 mil empregos formais neste ano e prevê a criação de 70 mil vagas temporárias no fim do ano, 20 mil a menos do que em 2019. “Será o pior ano em termos de vagas temporárias desde 2016, quando também foram 70 mil contratações”, alertou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes.

Bentes explicou que é esperada uma desaceleração nas vendas varejistas a partir deste mês, por conta da redução do auxílio emergencial e do desemprego. Por isso, as vendas de fim de ano devem ter uma alta de apenas 3%. “O varejo sabe que vai ser um Natal fraco. O setor de vestuário, que é um dos que mais contratam, por exemplo, vem sofrendo bastante com a baixa circulação de pessoas e deve ter uma queda nas vendas. Logo, não deve contratar”, explicou.

Os bares e restaurantes, que normalmente ficam cheios com as confraternizações de fim de ano, também não projetam contratações. Afinal, estão operando com a capacidade reduzida e ainda veem muitos clientes com medo de voltar a comer fora por conta do novo coronavírus. Além disso, seguem com boa parte da mão de obra afastada pelos contratos de redução salarial. “Ainda temos muitos trabalhadores com o contrato suspenso ou com a jornada reduzida. Então, o que pode ocorrer é chamarmos de volta esse pessoal. Não deve haver contratações temporárias”, declarou o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci.

Não bastasse a redução das vagas, mesmo quem vai contratar não sabe se terá condições de efetivar os trabalhadores temporários no início do próximo ano, como costuma ocorrer em parte do comércio. “No ano passado, três em cada 10 temporários foram efetivados, porque havia uma expectativa de crescimento em 2020. Agora, a taxa de absorção tende a ser menor, porque ainda há muitas incertezas sobre a recuperação e é difícil dissipar isso no curto prazo”, reforçou Bentes. Hoje, segundo a Asserttem, a taxa de efetivação dos temporários está um pouco acima de 20%. (MB)

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