Privatizações

Governo avalia teoria vencedora do Nobel para aprimorar PPI

Com 140 ativos na carteira do Programa de Parcerias de Investimentos, governo avalia trabalho dos americanos Paul Milgrom e Robert Wilson, prêmios Nobel de Economia deste ano, para aperfeiçoar certames previstos até 2021

Marina Barbosa
postado em 18/10/2020 07:00 / atualizado em 18/10/2020 07:22
 (crédito: Allan Santos/ PR)
(crédito: Allan Santos/ PR)

Para reaquecer a economia, o governo federal aposta em parcerias com a iniciativa privada. Por isso, tem uma ampla agenda de concessões e privatizações na gaveta que promete atrair bilhões de investimentos para o país. Especialistas dizem, no entanto, que não basta colocar os ativos à venda. É preciso oferecer confiança aos investidores e estruturar bem os leilões. A prova disso veio com o prêmio Nobel de Economia deste ano, que consagrou o trabalho de aperfeiçoamento da teoria dos leilões dos economistas americanos Paul Milgrom e Robert Wilson.


Ao anunciar o Nobel de Economia, a Academia de Ciências da Suécia explicou que Milgrom e Wilson “melhoraram a teoria do leilão e inventaram novos formatos de leilão, beneficiando vendedores, compradores e contribuintes em todo o mundo”. Economistas reconheceram a iniciativa, inclusive os representantes do governo brasileiro que cuidam do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), pasta que pretende leiloar 140 ativos para a iniciativa privada até o próximo ano, entre ferrovias, aeroportos, terminais pesqueiros, parques e florestas, projetos de iluminação pública e estatais como os Correios e a Eletrobras.


A secretaria especial do PPI, Martha Seillier, chegou a dizer que o trabalho de inovação no desenho de leilões de Milgrom e Wilson representa um “prato cheio para o PPI”. Ao Correio, ela explica que o Nobel de Economia casa com “o momento intenso de estruturação de novas desestatizações pelo governo brasileiro”. Na agenda de concessões estão projetos com modelagens maduras, que precisam ser apenas “marginalmente melhorados a cada edital de licitação”, e ativos que nunca foram alvo de parcerias entre os setores público e privado. “O PPI já concluiu a realização de 184 projetos desde a sua criação, com expectativa de investimentos de R$ 709 bilhões. Neste momento, está estruturando outros 203 projetos que devem trazer ao país mais de R$ 600 bilhões de investimentos”, diz a secretária.


Um dos futuros leilões brasileiros que pode se valer dos ensinamentos de Milgrom e Wilson é o do 5G. Um dos maiores trunfos dos economistas americanos foi o desenvolvimento de um tipo de leilão voltado para a concessão de frequências de rádio que servem como canal para a comunicação móvel nos Estados Unidos. Depois de décadas recebendo uma receita limitada por essas frequências, os Estados Unidos obtiveram US$ 617 milhões vendendo 10 licenças em 47 rodadas de licitação por meio do Leilão de Rodadas Múltiplas Simultâneas, desenvolvido pelos premiados em 1994. A invenção foi replicada em países como Espanha, Reino Unido, Suécia e Alemanha e gerou mais de US$ 200 bilhões com vendas de espectro ao redor do mundo. Segundo especialistas, agora pode ajudar o Brasil no leilão do 5G.


“A teoria dos leilões nos traz evidências que há aspectos peculiares que fazem que haja um desenho melhor do que outro para ser aplicado nas concorrências”, diz Martha, para quem, no caso específico do 5G, o modelo americano “ainda deve passar por avaliação técnica”.


Para o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), se validado no Brasil, o modelo americano pode não se limitar ao setor de telecomunicações. “O trabalho dos ganhadores do Nobel de Economia melhora a eficiência dos leilões com proposta clara de como alocar bens e serviços escassos. Parte importante da contribuição consiste no desenho de regras específicas nos leilões em situações complexas, como no caso de múltiplas unidades, que mitiguem comportamento oportunista dos participantes e induza maior competição no leilão. A aplicação prática se estende por vários setores, como telecomunicações, energia e publicidade”, comenta o banco.


O BNDES é parceiro do PPI e de diversos estados e municípios na realização de leilões. Só no próximo ano, por exemplo, o banco prevê o certame de 23 projetos, com investimento total estimado de R$ 59,1 bilhões. Neste ano, pretende fazer outros três, com potencial de atrair R$ 674 milhões.

Maldição do vencedor


Martha Seillier ressalta que o governo também está atento a outros pontos da teoria de Milgrom e Wilson, a exemplo do risco de maldição do vencedor. Segundo essa teoria, os compradores podem fazer lances menores que o valor que consideram justo para evitar um mau negócio, sobretudo quando têm menos informações sobre o objeto do leilão. Para mitigar o risco da maldição e o prejuízo possível à prestação adequada do serviço ou bem público que se concede, o governo já adota medidas como a exigência de capital social integralizado previamente à assinatura do contrato de concessão e de garantia de execução do contrato. Por conta disso, recentemente, o Executivo alterou o critério de leilão de rodovias, de menor tarifa para maior valor de outorga.


“A teoria dos leilões nos traz evidências que há aspectos peculiares que fazem com que haja um desenho melhor que outro para ser aplicado nas concorrências”, diz a secretária. “As expectativas são enormes para o desenvolvimento do país por meio de parcerias com a iniciativa privada e não podemos errar. Por isso, olhar para o melhor que foi produzido na literatura econômica faz parte do nosso dever.”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação