RELAÇÕES EXTERIORES

Embaixada chinesa rebate falas dos EUA: "mentalidade de guerra fria"

Segundo o ministro-conselheiro Qu Yuhui, ao apontar como ameaça as relações chinesas com o Brasil, governo norte-americano atrapalha cooperação internacional e incita confrontação

Bruna Lima
postado em 20/10/2020 20:20 / atualizado em 20/10/2020 20:21
 (crédito: Wilson Dias/Agência Brasil)
(crédito: Wilson Dias/Agência Brasil)

O porta-voz da Embaixada da China no Brasil, ministro-conselheiro Qu Yuhui, se pronunciou, nesta terça-feira (20/10), contra as recentes declarações de membros do governo americano de que a parceria econômica e comercial chinesa representa uma ameaça ao Brasil. “Fabricaram a chamada ‘ameaça chinesa’ e atacaram a tecnologia de 5G da China”, alegou Yuhui.

“Ao ignorar os fatos básicos e produzir comentários baseados na mentalidade de guerra fria e jogo de soma zero, eles têm como objetivo real servir a certos interesses políticos, tirar proveito político dos ataques que difamam a China, atrapalham a cooperação internacional e instam a confrontação. Isso merece a nossa veemente objeção”, criticou o porta-voz chinês, se referindo aos comentários feitos pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e pelo conselheiro do presidente americano para Assuntos de Segurança Nacional, Robert O'Brien, durante visita ao Brasil.

Enquanto Pompeo alegou, no evento “2020 US-Brazil Connect Summit”, que a parceria econômica e comercial com a China constitui uma ameaça ao Brasil, com a necessidade de reduzir as relações de importação com o país do oriente, O'Brien mostrou preocupação quanto à segurança de 5G da gigante chinesa Huawei por considerá-la uma ameaça à segurança nacional.

O diretor para o Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional, Joshua Hodges, reiterou, em conversa com jornalistas, nesta terça-feira (20/10) a ideia reforçada pelo governo americano de que a escolha pela tecnologia chinesa para implementar o 5G poderia fazer com que os dados brasileiros fossem “decifrados” pela China. “É importante ter transparência, o que a China e a Huawei não apoiam. Os Estados Unidos se preocupam que eles utilizem dados e tecnologia para o benefício do Estado e não das pessoas”, alertou Hodges, ressaltando que o Brasil tem liberdade de negociações com fornecedores chineses, mas que as opções americanas não se baseiam em uma “diplomacia predatória” .

O ministro-conselheiro Qu Yuhui se referiu aos representantes como “esses políticos americanos, no seu número pequeno, que se vangloriam de mentir, enganar e roubar e que se tornaram em criadores de problemas que ferem a ordem internacional e ameaçam as regras internacionais”. Nesse sentido, o objetivo real, segundo o porta-voz, seria servir a certos interesses políticos e tirar proveito a partir disso.

“Reiteramos que a China busca construir um novo modelo de relações internacionais centradas na cooperação de benefícios compartilhados e jamais interferiu nos assuntos internos e políticas externas de outrem [...]. Enquanto isso, os EUA vêm agindo contra o espírito humanitário básico e até retiveram materiais médicos urgentes, inclusive respiradores, que foram enviados da China ao Brasil, numa tentativa maléfica de atrapalhar a cooperação normal entre a China e o Brasil”, contextualizou, citando os esforços internacionais no combate à covid-19.

A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos seguidos, como destacou o ministro no pronunciamento. “É a maior fonte de superávit comercial e um dos principais investidores do Brasil. Os fatos mostram que a cooperação China-Brasil possui alta complementaridade e reciprocidade, e portanto, salvaguardar e desenvolver firmemente as relações bilaterais”.

Confira o pronunciamento na íntegra:

No evento “2020 US-Brazil Connect Summit” e durante a visita ao Brasil, o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o Conselheiro do presidente americano para Assuntos de Segurança Nacional, Robert O'Brien, espalharam com má fé mentiras políticas contra a China, fabricaram a chamada "ameaça chinesa" e atacaram a tecnologia de 5G da China. Esses políticos americanos, no seu número pequeno, se vangloriam de mentir, enganar e roubar, e se tornaram em criadores de problemas que ferem a ordem internacional e ameaçam as regras internacionais. Ao ignorar os fatos básicos e produzir comentários baseados na mentalidade de guerra fria e jogo de soma zero, eles têm como objetivo real servir a certos interesses políticos, tirar proveito político dos ataques que difamam a China, atrapalham a cooperação internacional e instam a confrontação. Isso merece a nossa veemente objeção.

Reiteramos que a China busca construir um novo modelo de relações internacionais centradas na cooperação de benefícios compartilhados e jamais interferiu nos assuntos internos e políticas externas de outrem. A China sempre desenvolve parcerias com os outros países, incluindo o Brasil, com base em respeito mútuo, igualdade, benefício recíproco, abertura e transparência. O objetivo dessas parcerias é promover o progresso comum, em vez de visar ou excluir terceiros. Desde o surto de COVID-19, a China e o Brasil têm mantido cooperações no combate à pandemia e o lado chinês tem prestado apoio ao Brasil através de doação de materiais, compartilhamento de experiências no diagnóstico e tratamento, além de parcerias estreitas no desenvolvimento de vacinas, etc., Enquanto isso, os EUA vêm agindo contra o espírito humanitário básico e até retiveram materiais médicos urgentes, inclusive respiradores, que foram enviados da China ao Brasil, numa tentativa maléfica de atrapalhar a cooperação normal entre a China e o Brasil.

Recentemente, um pequeno número de políticos americanos, desprezando os fatos e forjando uma série de mentiras, vem lançando ataques difamatórios contra o 5G da Huawei. Tem utilizado o aparato estatal para impedir as operações legítimas das empresas chinesas de alta tecnologia, abusando no pretexto de segurança nacional. Além disso, tem obrigado os outros países a adotar políticas discriminatórias e excludentes que miram empresas chinesas como a Huawei. É uma prática hegemônica flagrante que revela a sua hipocrisia em defender a chamada equidade e liberdade, e é um típico padrão duplo que viola tanto os princípios de economia de mercado quanto as regras de abertura, transparência e não discriminação que regem a OMC. A comunidade internacional não vai se esquecer do histórico sujo dos EUA na segurança cibernética, que tinham conduzido operações de espionagem massiva, organizada e indiscriminatória contra os governos, empresas e indivíduos, entre eles os líderes dos países como o Brasil e das organizações internacionais. Tais ações dos EUA, que prejudicam a privacidade e segurança de outrem, são as verdadeiras ameaças à segurança cibernética do mundo. A comunidade internacional deve ficar alerta com a malevolência dos EUA de sacrificar o desenvolvimento dos outros países para buscar a superioridade dos seus próprios interesses, conter o crescimento dos países de mercados emergentes como a China e provocar intencionalmente fissuras entre a China e seus amigos.

Sendo parceiros estratégicos globais e membros do G20 e do BRICS, a China e o Brasil compartilham amplos interesses comuns nos temas internacionais e regionais. A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos seguidos. É a maior fonte de superávit comercial e um dos principais investidores do Brasil. Os fatos mostram que a cooperação China-Brasil possui alta complementaridade e reciprocidade, e portanto, salvaguardar e desenvolver firmemente as relações bilaterais condizem com os interesses fundamentais e de longo prazo dos dois países e povos. Temos a certeza de que as nossas relações não serão desviadas do trilho de desenvolvimento saudável e estável por qualquer interferência externa. O lado chinês está disposto a trabalhar junto com os diversos setores do Brasil para aumentar a confiança mútua, superar as diversas ingerências, expandir a nossa parceria tanto nas áreas tradicionais como nas emergentes, incluindo o 5G, além de continuar promovendo o desenvolvimento contínuo e aprofundado das relações sino-brasileiras, beneficiando ainda mais os nossos povos.

Ministro-Conselheiro Qu Yuhui, porta-voz da Embaixada da China no Brasil

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