O desemprego já atinge 13,5 milhões de brasileiros e bateu 14% em setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números são recordes na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid19). Porém, ainda devem crescer nos próximos meses. Especialistas explicam que, nesta crise do novo coronavírus, o pico do desemprego só será sentido após o fim de programas como o auxílio emergencial, isto é, no início de 2021.
Segundo o IBGE, o desemprego já cresceu 33,1% desde o início da pandemia de covid-19. É que, em maio, quando começaram as medições da Pnad Covid19, o Brasil tinha 10,1 milhões de pessoas sem trabalho. Esse contingente, contudo, vem aumentando mês a mês e de forma cada vez mais intensa. Só entre agosto e setembro, 600 mil de pessoas entraram na fila do desemprego.
Economista do Ibre/FGV, Rodolpho Tobler explicou que muitos trabalhadores foram demitidos no início da pandemia, mas nem todos foram buscar emprego, assim que rescindiram o contrato, por conta do distanciamento social. Só agora, com a flexibilização do isolamento, é que elas estão retomando a busca por um emprego e passaram a pressionar a taxa de desemprego.
“Todas essas pessoas estão voltando a procurar emprego, mas não estão encontrando uma nova ocupação, porque a atividade econômica ainda está muito desaquecida e, por isso, não está reabsorvendo esse pessoal”, acrescentou o economista e professor do Insper Fabio Astrauskas.
O técnico em seguros Gilberto Silva, de 47 ano, foi demitido no início da pandemia e tem procurado um novo trabalho desde então, mas ainda não foi chamado para nenhuma vaga e já começa a se preocupar com as contas do próximo mês. “Estou vivendo com o auxílio e o valor do meu acerto, que termina este mês”, contou. “Com a pandemia, tudo se tornou o novo normal. Tenho enviado e-mails, tentado em plataformas e grupos de emprego, mas está difícil. A grande maioria das empresas não dá retorno”, reclamou o estudante Ualisson Oliveira, de 24 anos.
Os economistas dizem que o desemprego deve continuar elevado até que a economia brasileira volte a crescer e gerar postos de trabalho. E calculam que, até lá, a taxa de desocupação ainda vai crescer, podendo bater o recorde de 16% no início do próximo ano. Dados do IBGE indicam que a previsão não é exagerada: além dos 13,5 milhões de desempregados, o Brasil tem 16 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, mas ainda não buscaram um trabalho em setembro devido à pandemia ou à falta de trabalho na localidade em que vivem.
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Prévia da inflação chega a 0,94%
Se já pesou no mês passado, a inflação está pressionando ainda mais o orçamento das famílias brasileiras neste mês. É o que indica o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia do indicador oficial. O IPC-15 acelerou de 0,45%, em setembro, para 0,94% em outubro, a maior alta para o mês desde 1995.
A disparada da inflação reflete, sobretudo, a alta de preços de alimentos que são essenciais para a mesa dos brasileiros, como as carnes (4,83%), o óleo de soja (22,34%), o arroz (18,48%) e o leite longa vida (4,26%). Esses produtos vêm sendo afetados pelo aumento do dólar e pelo crescimento das exportações, que encarecem e reduzem a oferta doméstica desses itens. Eles deixaram a alimentação no domicílio 2,95% mais cara em outubro.
No ano, a alimentação no domicílio já acumula um aumento de 12,69%, quase seis vezes maior do que o acumulado pelo IPCA-15 como um todo: 2,31%. “E é esse índice que é sentido pelos mais pobres, pois as famílias mais humildes dedicam uma parcela maior do orçamento à compra de alimentos”, lembrou o coordenador do índice de preços do Ibre/FGV, André Braz, que não vê um alívio no custo dos alimentos até o fim do ano.
Economistas já calculam que a inflação pode fechar o ano perto de 3,5%, bem acima das projeções do início da pandemia, que apontavam para um índice abaixo de 2%. Além dos alimentos, produtos como gasolina, eletrodomésticos e móveis também têm sido pressionados pelo câmbio. No IPCA-15 de outubro, por exemplo, esses produtos subiram 0,85%, 1,68% e 1,75%, respectivamente.
E outros itens vêm sendo pressionados pela retomada da atividade econômica e pelas festas de fim de ano. As passagens aéreas, por exemplo, subiram 39,9% só neste mês, com a retomada do movimento dos aeroportos. E as roupas, muito procuradas no fim do ano, já apontaram alta de 0,84%. (MB)
Trava na indústria
De acordo com a Sondagem Especial Mercado de Insumos e Matérias Primas, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 68% das empresas consultadas estão com dificuldades para obter insumos ou matérias-primas no mercado doméstico. E 56% das companhias que utilizam insumos importados regularmente estão com dificuldades em adquiri-los no mercado internacional. Além disso, 82% perceberam alta nos preços, sendo que 31% falam em alta acentuada. A pesquisa contou com a participação de 1.855 empresas, entre 1º e 14 de outubro, em 27 setores das indústrias de transformação e extrativas.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, explicou que as empresas optaram por reduzir os estoques para enfrentar a forte queda no faturamento e o difícil acesso ao capital de giro nos primeiros meses da crise. “A economia reagiu em uma velocidade acima da esperada. Assim, tivemos um descompasso entre a oferta e a procura de insumos. E tanto produtores quanto fornecedores estavam com os estoques baixos”, afirmou.
A pesquisa mostra que 44% das empresas consultadas disseram estar com problemas para atender os clientes. Elas apontam, entre as principais razões para a dificuldade de atendimento, a falta de estoques, levantada por 47% das empresas; demanda maior do que a capacidade de produção, com 41%; e incapacidade de aumentar a produção, com 38%.
*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo