ECONOMIA

Apesar da alta da inflação, taxa básica de juros fica em 2%

A expectativa é de que a Selic volte a subir caso a inflação ganhe corpo e os riscos fiscais se consolidem

Marina Barbosa
postado em 29/10/2020 06:00
 (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juros (Selic) na mínima histórica de 2% ao ano. A decisão foi unânime e esperada pelo mercado, apesar da alta da inflação, puxada pelo preço dos alimentos. Afinal, a inflação ainda está na meta e o Copom aguarda uma definição sobre o rumo das contas públicas brasileiras para avaliar o impacto fiscal na política monetária.

No comunicado da reunião de ontem, o Copom reconheceu que “as últimas leituras de inflação foram acima do esperado”. Tanto que revisou suas projeções para cima por conta da continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, vista como uma “consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities e dos programas de transferência de renda”.

O comitê elevou de 2,1% para 3,1% a expectativa de inflação deste ano e de 3% para 3,1% a de 2021. Porém, manteve os juros inalterados e também o forward guidance, ou seja, a prescrição de que a Selic continuará neste patamar.

A manutenção do forward guidance era uma dúvida entre os analistas, por conta da alta dos preços e das incertezas fiscais. Mas o Copom explicou que as condições dessa prescrição futura, que são expectativas de inflação ancoradas e dentro da meta e a manutenção do atual regime fiscal, continuam.

O comitê ainda disse que “a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado” por conta das incertezas sobre o ritmo de recuperação econômica, sobretudo a partir do fim do ano, quando o auxílio emergencial chegar ao fim. Por isso, também manteve a porta aberta para um novo corte de juros, apesar de lembrar que “o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”.

Os analistas, contudo, não enxergam uma nova redução de juros. Ao contrário, a expectativa é de que a Selic volte a subir caso a inflação ganhe corpo e os riscos fiscais se consolidem. Segundo o Boletim Focus, o mercado projeta uma Selic de 2,75% ao final de 2021. Afinal, as incertezas sobre a sustentabilidade das contas públicas continuam e o Copom fez questão de ressaltar, novamente, que “questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”.

“A inflação tem que ser monitorada, mas segue na meta. Já a incerteza sobre o fiscal continua e o impacto disso no câmbio pode ser grande, o que causaria mais pressão sobre a inflação”, explicou a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause.

O mercado e o próprio BC, portanto, seguem atentos às discussões orçamentárias, como a do Renda Brasil, para saber se o teto de gastos será mantido e se haverá condições para os juros continuarem baixos em 2021.

“O cenário sugere que o Banco Central não se precipitará para elevar a taxa de juros, caso o arcabouço fiscal atual seja mantido”, analisou o estrategista-chefe do banco digital Modalmais, Felipe Sichel, para quem o Copom reforçou a posição de passageiro e não condutor das discussões sobre o teto de gastos.

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