O Brasil é o quarto produtor mundial de carne suína e tem apetite para incrementar a produção, de maneira competitiva e sustentável. É o que defende Alexandre Censi, um dos importantes produtores nacionais, ao programa CB Agro, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. O setor da suinocultura passa por um momento peculiar, com boas perspectivas no comércio internacional, muito em razão do mercado chinês – um colosso consumidor em escala global. Censi destaca o uso da tecnologia e de técnicas de produção que assegurem um produto de qualidade e com certificação ambiental. Segundo ele, os suinocultores estão empenhados em mostrar ao consumidor que têm a oferecer uma carne de origem – critério cada vez mais observado na gôndola. E ressalta que a carne de porco tem alto valor proteico, além das mesmas variedades de corte do gênero bovino. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o DF atua para atender o consumidor, que está mais exigente em relação à produção de carne e à criação sustentável de animais?
O DF tem cumprido a legislação vigente. Nós temos algumas inovações referentes à sustentabilidade. Existe uma granja no Distrito Federal que possui um biodigestor, um equipamento que faz a biodigestão do esterco, do adubo orgânico, e transforma isso em energia. Ou seja, isso é sustentabilidade, além de produzir alimentos e produzir energia.
Como desenvolver esse mercado?
O Brasil é um importante produtor no mundo. Apenas o DF produz mais de 10 mil toneladas de carne suína, e o país inteiro, mais de 4 milhões de toneladas da carne. A suinocultura no Distrito Federal está muito integrada à agricultura, porque ela é uma das clientes desse setor. Assim como o frango, o suíno consome a soja, o milho, o trigo, o sorgo, a cevada e a aveia, por exemplo. Essas são culturas aqui da região. Além de consumir a agropecuária, suíno colabora, por meio do esterco, para a adubação de lavouras e pastagem.
A China teve problemas com a produção devido à peste suína. Isso ajudou a produção brasileira?
Sem dúvida. A China, hoje, é um dos nossos principais clientes, de carne suína e também de outras commodities agropecuárias. No caso, a China responde a mais de 50% da nossa exportação de carne suína. O que ocorreu foi que o país chinês teve problemas com a peste suína africana, doença viral que acabou dizimando grande parte da produção do país, quase 50%. E a China é o maior produtor e o maior consumidor da carne suína, pois o produto faz parte da tradição do país. Os chineses tiveram, então, que buscar outra alternativa, outros fornecedores ao redor do mundo para atender à demanda. E, sem dúvida, o Brasil se beneficiou, não só na exportação da carne suína, mas, também, na maior demanda da carne bovina e das carnes de ave.
O Brasil ocupa um lugar importante na suinocultura?
Sim, hoje nós temos uma fatia de 8% da exportação de suínos no mundo. Somos o quarto maior produtor, se considerarmos a Europa como um bloco.
O que é o suíno Duroc?
É uma raça de origem americana, com linhagens desenvolvidas e melhoradas na Europa. É um porco com uma pelagem vermelha ou marrom, tem uma pigmentação preta no casco e no focinho. É um animal mais rústico, e isso é bom, porque é mais resistente a doenças. Ele tem um grande atrativo para a carne por ser marmorizada, possuir mais sabor, maciez e suculência. É ideal para restaurantes e para quem gosta de cozinhar em casa. O mercado brasileiro está conhecendo mais agora essa opção. Com ele é possível fazer uma receita com mais potência, mais sabor. E a carne suína é muito versátil, vai desde a entrada do bolinho com mandioca, no pastel, no strogonoff, na lasanha, por exemplo. A carne suína pode ser frita, assada, grelhada, vai muito bem em churrasco. O porco tem todos os fortes que o boi tem.
Mas, o brasileiro geralmente consome mais frango e boi, não?
No mundo, as principais carnes de consumo são o frango e o suíno, o boi vem em terceiro lugar. O Brasil tem essa tradição da carne bovina, que é também uma opção de carne excelente, mas o importante é diversificar. A carne suína é uma boa opção para compor a dieta, embora haja muitos mitos e preconceitos com relação a ela. No passado criava-se o porco para a banha, não existia refrigeração nem a indústria dos óleos vegetais. Foram 70 anos de melhoramento genético para se obter a qualidade da carne.
Como é a composição da ração na suinocultura?
Usamos farelo de trigo, uma mistura de trigo e farinha de boi. Temos, na nossa criação de suínos, desde a gestação da porca, a maternidade, a adaptação e depois do desmame, uma dieta específica, com vários ingredientes nessa ração. Temos uma equipe que nos assessora, de veterinários e zootecnistas. O porquinho tem até nutricionista para formular sua dieta. Há toda uma preocupação com o bem-estar animal. E isso é uma demanda do mercado, as pesquisas mostram que quanto maior o poder econômico e o nível de educação, o consumidor quer saber do que ele está se alimentando. E quer uma alimentação cada vez mais saudável e alcançada por meio de boas escolhas, consumindo produtos oriundos de produção sustentável.
Há um projeto na Câmara dos Deputados para colocar a carne suína na merenda escolar. É possível?
É possível e é importante informar que muitas pesquisas científicas atestam a qualidade e o benefício da carne suína e outras proteínas animais, para a alimentação das pessoas de diversas idades, de crianças a idosos. É possível esse produto nas dietas, até pelo custo benefício também, pois é uma opção de proteína, dependendo da ocasião, mais barata que a bovina. Também vale ressaltar que há cortes magros no suíno, o lombo é um corte magro, assim como o filé mignon, ou cortes do pernil. Ainda há muitos mitos e preconceitos, mas, ao longo do tempo, vamos informando.
Há alguma campanha para desmistificar a carne suína?
Sim, temos a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), que faz um trabalho de excelência levando informação científica relacionada à carne suína, desde os insumos, passando pela produção e frigoríficos, e a comercialização também. Além disso, a ABCS ensina a maneira de se preparar a carne de porco. Os brasileiros ainda precisam descobrir que todo corte que tem no boi tem no porco, que a carne é saudável, sim, e que há uma diversidade enorme de opções. Nossa fazenda, por exemplo, está aberta a visitações, recebemos muitos estudantes para mostrar as tecnologias, estamos abertos para falar e mostrar o que estamos fazendo ao longo desses anos.
* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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