Conjuntura

Lucro dos bancos brasileiros cai 31,9% com pandemia

Segundo o Banco Central, o lucro líquido chegou a R$ 40,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, devido ao aumento das provisões. Apesar do recuo, o governo não vê risco para a estabilidade financeira

O lucro líquido dos bancos brasileiros desabou 31,9% no primeiro semestre deste ano, por conta dos efeitos econômicos da pandemia de covid-19. O dado é do Banco Central (BC), que, no entanto, garantiu que a rentabilidade do sistema financeiro continua em um nível confortável e não apresenta riscos para a estabilidade financeira.

Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do BC, divulgado nesta quinta-feira (15/10); o lucro líquido do sistema bancário brasileiro somou R$ 40,8 bilhões no primeiro semestre deste ano. O resultado é 31,9% menor que o registrado no mesmo período de 2019 e reduziu de 17,8% para 11,2% o retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) dos bancos brasileiros — indicador que mede a rentabilidade do sistema bancário. "A rentabilidade dos bancos apresentou forte redução", diz o documento.

O BC atribuiu essa queda de rentabilidade, sobretudo, ao aumento das provisões realizadas pelos bancos diante da crise da covid-19, como uma forma de tentar se prevenir do risco de calote. "O principal fator responsável pela queda do lucro líquido e do ROE do sistema bancário no período foi o reforço das provisões para perdas esperadas com crédito associadas aos efeitos adversos da pandemia da Covid-19 na qualidade do crédito", afirma o relatório.

Segundo o BC, as despesas com provisões somaram R$ 65 bilhões no primeiro semestre de 2020. A cifra é 80% maior que a observada no mesmo período do ano passado e se aproxima do nível de provisões realizado na crise de 2015 e 2016.

Além desses gastos extras, os bancos viram a receita diminuir por conta da crise da covid-19. Segundo o BC, as receitas de serviços foram impactadas de "forma clara", sobretudo as de cartões e tarifas bancárias, em função da menor atividade econômica desde a segunda quinzena de março de 2020. Por isso, o índice de cobertura de despesas administrativas por receitas de serviços também caiu no primeiro semestre de 2020. "Na comparação com o período de doze meses findos em dezembro de 2019, as despesas administrativas cresceram 2,7%, enquanto as receitas com serviços cresceram 0,1%", detalha o Relatório de Estabilidade Financeira.

Apesar desse tombo, o BC garante que "a rentabilidade do sistema permanece em patamares que não representam risco significativo para a estabilidade financeira", pois permite "aos bancos manterem os índices de capital adequados e o suprimento de crédito à economia real". "A pandemia da Covid-19 atingiu a economia brasileira quando a rentabilidade do sistema já havia se recuperado dos efeitos da recessão dos anos de 2015 e 2016, o que permite que as IFs (instituições financeiras) absorvam um crescimento significativo de provisões", observa o REF.

Teste de estresse

Além disso, segundo o Banco Central, os testes de estresse realizados na confecção deste Relatório de Estabilidade Financeira sugerem que os piores impactos da pandemia de covid-19 detectados atualmente seriam 50% menores que os impactos projetados em maio. Em cálculos atuais, o BC calcula que as perdas relacionadas a empresas e trabalhadores vulneráveis à crise da covid-19 exigiriam um aporte de R$ 35 bilhões dos bancos em uma situação extrema. É o equivalente a 3,5% do total do Patrimônio de Referência (PR) do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

"A atualização do teste de estresse realizado para estimar os efeitos do choque da Covid-19 nos agentes da economia real demonstra impacto expressivo, porém menor que o publicado no REF anterior", informa o documento do BC. "Esses resultados corroboram a capacidade do SFN para absorver os choques provenientes dos efeitos da pandemia, mesmo sob hipóteses severas", acrescenta o relatório.

Segundo o REF, a melhora do resultado do teste de estresse é fruto de uma mudança metodológica, mas também da "recuperação dos fluxos de recebimento de vários setores da economia até agosto de 2020, após a queda acentuada em abril e maio".

Perspectivas

Devido à incerteza sobre o ritmo da recuperação econômica, sobretudo após o fim de estímulos como o auxílio emergencial e a prorrogação das parcelas bancárias, o BC ainda não enxerga perspectiva de melhora para a rentabilidade bancária ao longo deste ano. O Relatório de Estabilidade Financeira diz que "a perspectiva para o segundo semestre de 2020 é de estabilidade da rentabilidade do sistema".

Segundo o REF, essa perspectiva está ancorada na possibilidade de menor necessidade de provisionamento, na queda do custo de captação e na recuperação gradativa da atividade econômica, mas também nas incertezas quanto ao cenário econômico. "O cenário deve ficar mais claro conforme as medidas temporárias de combate à crise (tais como os prazos de carência concedidos pelas IFs em operações de crédito e os auxílios emergenciais) forem sendo removidas, o que permitirá ter uma dimensão mais precisa sobre os efeitos da pandemia da Covid-19 na inadimplência do sistema", afirma o BC. A instituição financeira lembra ainda: "A pandemia da Covid-19 continua provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão".

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