Mais de 4 milhões de brasileiros já entraram na fila do desemprego desde o início da pandemia de covid-19. Por isso, já são 14 milhões de desempregados no Brasil. O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela um aumento de 32% no número de brasileiros que estão sem trabalho e fez a taxa de desemprego bater o recorde de 14,4% da população economicamente ativa na quarta semana de setembro.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid-19), apesar de milhões de pessoas terem perdido o trabalho logo no início da pandemia, o desemprego continua aumentando de forma significativa no Brasil. Só entre a terceira e a quarta semana de setembro, 700 mil pessoas passaram a procurar emprego no país. Por isso, o contingente de desempregados, que era de 9,8 milhões em maio, subiu de 13,3 milhões para 14 milhões de pessoas no final de setembro.
Desse modo, a taxa de desemprego, que era de 10,5% no início da pandemia, avançou de 13,7% para 14,4% em apenas uma semana. A taxa é a maior da série histórica da Pnad Covid e é ainda mais alta nas regiões Norte e Nordeste. Segundo o IBGE, o desemprego já bate 16,9% no Norte e chega a 17,5% no Nordeste. Logo, o nível de ocupação da população brasileira caiu novamente, chegando a 48,7%.
Para a coordenadora da Pnad Covid-19, Maria Lúcia Vieira, a taxa de desemprego vem subindo porque muitas das pessoas que foram demitidas nos últimos meses só estão começando a buscar uma nova ocupação — e, consequentemente, a pressionar a taxa de desemprego — agora, devido à flexibilização do isolamento social e à reabertura das atividades econômicas. “A taxa considera as pessoas que estão procurando emprego. Então, à medida que as pessoas voltam a buscar uma ocupação, ela sobe, já que a atividade econômica não tem reagido na mesma velocidade e, por isso, não consegue reabsorver todo esse pessoal”, explicou o economista do Ibre/FGV Rodolpho Tobler.
Ele diz, contudo, que há outro fator pesando nesse indicador, sobretudo no Norte e no Nordeste: a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. “Essas regiões receberam a maior parte do auxílio emergencial. À medida que o auxílio vai reduzindo e vai chegando ao fim, as famílias sentem maior necessidade de complementar a renda e voltam a procurar emprego”, explicou Tobler.
“Por conta disso, a taxa de desemprego ainda deve subir mais antes de começar a cair”, alertou a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause. Os dados do IBGE explicam que ainda há 15,3 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, mas não estão procurando vaga por causa da pandemia, ou porque não encontraram uma ocupação na localidade em que moram. Segundo os especialistas, elas vão voltar a pressionar a taxa de desemprego quando decidirem retomar a busca.
Além disso, lembram os economistas, há muita incerteza sobre a recuperação econômica. Por isso, as empresas não estão dispostas a recontratar esse pessoal. “O setor de serviços, que é o que mais emprega, está demorando mais a reagir, porque depende do contato físico. E o varejo, que estava crescendo fortemente, pode sofrer uma desaceleração agora, com a redução do auxílio emergencial e a alta do desemprego, afetando a indústria”, afirmou Patrícia. Ela calcula que a taxa de desemprego vai chegar a 15,8% e pode crescer até um pouco mais no início de 2021, sobretudo se a economia não engatar e as empresas decidirem demitir os trabalhadores que hoje estão com o contrato suspenso.
Informalidade
O cenário preocupa até quem já perdeu o emprego. Por isso, ainda pode aumentar a precarização do trabalho. O lojista Bonifácio Júnior, de 30 anos, foi demitido logo no início da pandemia e ainda não conseguiu encontrar um novo emprego. Por isso, recorre a serviços informais para sobreviver. “Está complicado, porque nem sempre aparece. O que aparece, a gente pega”, explicou. “Devido à pandemia, há milhares de pessoas desempregadas e a concorrência está bem mais alta. A gente não pode escolher”, reforçou o jardineiro Jelso Reis, de 48 anos, desempregado há quatro meses.
Por conta disso, a taxa de informalidade, que havia caído devido ao distanciamento social e ao auxílio emergencial, também começa a dar sinais de reação. Segundo o IBGE, só entre a terceira e a quarta semana de setembro, a taxa avançou de 33,6% para 34,2%, o equivalente a 28,3 milhões de trabalhadores informais.
*Estagiária sob a supervisão
de Odail Figueiredo
“!Devido à pandemia, há milhares de pessoas desempregadas, e a concorrência está bem mais alta. A gente não pode escolher”
Jelso Reis, jardineiro,desempregadohá quatro meses