ECONOMIA VERDE

Em 2019, só 22% dos empréstimos foram para iniciativas sustentáveis

Percentual dobrou desde 2013, porém ainda precisa avançar. Mais da metade do crédito corporativo dos bancos foi para investimento em atividade de risco às mudanças climáticas

Os empréstimos bancários corporativos para iniciativas sustentáveis dobraram desde 2013, de 11% para 22% em 2019. No entanto, precisam avançar mais. Isso porque mais da metade do crédito concedido à empresas foi para investimento em atividade de risco às mudanças climáticas. A afirmação foi feita pelo ex-presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Murilo Portugal, durante o evento “Rumo a um sistema bancário mais verde: o caso do Brasil”, promovido pela entidade em parceria com o Banco Central e o Bank for International Settlements (BIS).

Segundo ele, desde 2013, a Febraban começou a medir o proporcional dos empréstimos bancários com relação a atividades ambientais das empresas. A média anual passou de 11,6% para 27,6% em 2017, depois caiu para 20,8% em 2018, e se fixou em 22% no ano passado. “O que não é medido não administrado direito”, justificou. Os dados apontam, no entanto, que 53% dos empréstimos são expostos às mudanças climáticas. “Temos que examinar as oportunidades e obstáculos na expansão no financiamento verde”, afirmou. 

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Nechio, explicou que a autoridade monetária já tem testes de estresse relacionados a riscos climáticos, que serão aprimorados ao longo dos próximos meses. “Os bancos já tem que levar em consideração riscos climáticos e socioambientais e programas de mitigação de risco dentro do planejamento.

Conforme ela, a Febraban já avançou bastante na autorregulação disso. “A economia verde entrou na nossa agenda em setembro. Isso vai ser requerimento para os bancos, implementarem as recomendações. Já temos outros pilares, como educação financeira, diversificação de ativos, que conversam entre si e com sustentabilidade. São integrados”, disse.

O objetivo de incluir o pilar sustentabilidade, acrescentou Fernanda, é garantir solidez ao sistema monetário. “Precisamos responder a choques. Choques climáticos afetam preços relativos, portanto afetam política monetária. Os eventos extremos põe em risco o sistema financeiro nacional”, justificou.

Vulnerabilidade

Isaac Sidney, presidente da Febraban, ressaltou que a pandemia mostrou a vulnerabilidade aos fatores naturais. “Deixou claro que devemos ter atitudes positivas em relação a natureza. Isso não é uma preocupação nova ou conjuntural. O setor bancário sempre esteve atento à necessidade do desenvolvimento sustentável. Temos como avançar mais rapidamente, tanto na gestão de riscos socioambientais quanto na promoção de oportunidades aos clientes e ao mercado mais alinhados com a conjuntura internacional”, assinalou.

Todas as instituições devem implementar a suas políticas de responsabilidade socioambiental, inclusive o setor financeiro, disse Sidney. “O regulador (BC) determinou e a Febraban complementou ao publicar um normativo, em 2014, de autorregulação socioambiental. Estávamos na direção certa e esta agenda evoluiu de forma positiva”, assegurou.

Luiz Pereira, vice-diretor geral do Bank for International Settlements (BIS), sublinhou que o momento é de alertar para os riscos, mas também de ser otimista sobre como as novas tecnologias podem ajudar nas mudanças climáticas. “O BC tem colocado uma nova dimensão na agenda, mostrando a dinâmica da promoção do financiamento sustentável. Sustentabilidade pode aumentar produtividade e reduzir custos, embora tenha custos iniciais”, alertou.

Denise Pavarina, vice-presidente da TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures ou força-tarefa para divulgações financeiras relacionadas ao clima, na tradução livre do inglês), frisou a necessidade de as empresas colocarem o risco em suas estratégias e suas atividades sustentáveis, como o uso melhor da água, ou a opção por energia renovável. “O interesse por finanças sustentáveis vem crescendo no país. Muitos movimentos estão em curso e há necessidade de criar padrões para os relatórios”, disse. Segundo ela, a Comissão de Valores Mobiliários está trabalhando em busca dessa padronização.

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