CONJUNTURA

Poupança, Selic, Fundos: especialistas apontam onde investir com segurança

Com Selic a 2% ao ano, rendimento da poupança supera o de fundos com taxa de administração acima de 0,5% ao ano. Estudo mostra que R$ 10 mil na modalidade renderiam R$ 140 em 12 meses, retorno melhor do que boa parte das aplicações de renda fixa

Jailson R. Sena*
Edis Henrique Peres*
Carinne Souza*
postado em 02/11/2020 06:00
 (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter em 2% ao ano a taxa básica de juros (Selic). Um dos principais indicadores do mercado financeiro brasileiro, a Selic tem influência no retorno aos invetidores e nos pagamentos de consumidores de operações de empréstimos e financiamentos. Além disso, também é usada como parâmetro pelo BC para controlar a inflação e estimulam o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). De acordo com estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), desde março de 2013, a taxa Selic teve uma redução de 72,41% (5,50 pontos porcentuais), ao baixar de 7,25% para 2% ao ano.

No levantamento, a Anefac também mostrou que, ao decidir onde vai aplicar o seu dinheiro, o cidadão deve prestar atenção em vários detalhes. O principal deles é quanto a instituição financeira cobra de taxa de administração (remuneração pela prestação de serviços de gestão). Nos cálculos da associação, se a taxa de administração for maior do que 0,5% em um fundo de renda fixa, por exemplo, a quantia aplicada vai render menos nessa modalidade do que na caderneta de poupança — modalidade preferida dos brasileiros que iniciam seus investimentos, pela segurança, mas que andou por um tempo pouco atrativa e sem oferecer ganho real (acima da inflação). Agora, de acordo com a Anefac, com a Selic a 2% ao ano, os investidores em busca de ganhos começam a admitir mais riscos. Nesse sentido, uma das opções passou a ser o Tesouro Direto (negociação de títulos públicos).

Os investimentos mais procurados são os atrelados à Selic (Tesouro Selic) por sua suposta segurança. Selic que não escapou, contudo, dos impactos provocados pela decisão do Copom, que alterou seu rendimento e acabou por deixar a poupança mais lucrativa. Como exemplo, a Anefac aponta que, com os juros no patamar mais baixo da história, uma aplicação de R$ 10 mil na poupança a 2% anuais, após 12 meses, dá ao consumidor retorno de R$ 140. Caso fosse aplicado em fundo com taxa de administração de 0,5%, o retorno seria de R$ 109.

Reserva

O economista Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, afirma que “a captação da poupança aumentou. E um dos motivos foi o fato de o pessoal de baixa renda conseguir guardar dinheiro quando passou a receber o auxílio emergencial pago pelo governo para fazer frente à crise econômica provocada pela contaminação do novo coronavírus. O que mostra que o brasileiro está criando uma reserva”. Até dezembro, de acordo com o governo, serão R$ 321,8 bilhões injetados na economia com o auxílio emergencial.

Em meio à pandemia, a caderneta de poupança registrou captação líquida de R$ 13,2 bilhões em setembro. O valor é o maior para o mês de toda a série histórica do BC, iniciada em 1995, e representa o sétimo mês consecutivo de saldo líquido positivo. Esse resultado da poupança se deve a depósitos de R$ 294 bilhões e retiradas de R$ 280,8 bilhões. No acumulado do ano, o ingresso líquido de recursos na caderneta chegou a R$ 137,2 bilhões, também recorde para o período.

De janeiro a setembro do ano passado, ao contrário, houve saída de R$ 6,063 bilhões. Franchini complementa que os investidores, diante das sucessivas crises no país, vêm mudando o perfil. Alguns que já tinham reserva e querem ampliar os horizontes estão “buscando alternativas para ter ganhos reais acima da inflação e aumentando os risco dos investimentos”, lembra o economista.

Opções

Segundo especialistas, com a Selic a 2% ao ano, a caderneta passa a render 1,4% no período. Em setembro, a poupança rendeu 0,12%, ante variação de 0,16% do CDI, o principal referencial das aplicações de renda fixa. No ano, o retorno da caderneta chega a 1,76% (ante 2,28% do CDI) e, em 12 meses, a 2,67%, enquanto o CDI tem variação de 3,54%. O investidor Vitor Craveiro, 28 anos, morador de Brasília não vê a poupança como o melhor caminho para quem deseja ganhar dinheiro e defende a busca por novas alternativas para obter lucro.

“Com esse rendimento ao ano e considerando a inflação, a poupança significa um ganho negativo. Ou seja, no final das contas, os brasileiros estão perdendo dinheiro”, analisa Craveiro, que está há 14 anos no mundo dos investimentos. Mas, o medo de arriscar ainda gera muito receio em quem pretende começar a investir. Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, ressalta a importância de se respeitar o perfil de cada pessoa. “O investidor, antes de tudo, tem que avaliar se é conservador, moderado ou arrojado e, a partir daí, diversificar seus investimentos, analisando os juros. Estando ciente de que o cenário de taxas no Brasil não vai mudar logo”, explica.

Gustavo explica que, nos últimos anos, o Brasil passou por uma mudança na área dos investimentos. “Éramos conhecidos por ser um dos países com os juros mais altos do mundo. Mas, desde 2014, vivemos um processo de redução. O cenário vem mudando, passamos por situações complexas de endividamento público e resultado de PIBs ruins. Neste ano, temos, ainda, o novo coronavírus. Então, a forma de investir no Brasil mudou, a renda fixa perdeu força, não é o investimento mais atrativo”, acrescenta.

Para quem pensa em fazer alguma aplicação, entender como funciona o mercado é um caminho. A estudante universitária Tânia Costa, 21 anos, de Ceilândia, conta que se aventurou no estudo do mercado financeiro e teve bons resultados. “Eu comecei a ver coisas de investimento em 2017, porque conheci um canal, por recomendação do YouTube. Lá, aprendi sobre educação financeira de forma prática, porque a linguagem do mercado não é acessível”, relata.

Foi a partir do canal no YouTube que Tânia começou a se interessar por desvendar os meandros das diversas opções no mercado financeiro. A universitária revela que a experiência trouxe benefícios. “A experiência me deu muito retorno, não só financeiro, mas disciplina e organização. Acredito que, quando você começa a organizar o dinheiro, você começa a organizar sua vida inteira”.

Um estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que identifica o perfil do investidor e onde ele escolhe aplicar, identificou que 90% dos brasileiros conhecem a poupança e outros 88% guardam dinheiro nela. De acordo com a Anbima, 27% das pessoas que investem na poupança dizem que o fazem por facilidade e comodidade — na maioria dos casos, quem tem conta poupança usa uma conta-corrente vinculada a ela. Assim, é possível programar uma reserva mensal ou fazer a transferência entre contas.

*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro

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A tradição da caderneta

  • A caderneta de poupança foi criada pelo Imperador Dom Pedro II, no século XIX, para a população de baixa renda.
  • Estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aponta que 90% dos brasileiros conhecem a poupança e outros 88% guardam dinheiro nela. Essa é a maior taxa identificada pelo estudo.
  • Muitas pessoas aplicam em conta poupança pensando na facilidade da aplicação ou no resgate e na isenção do Imposto de Renda.
  • Esta isenção dá uma falsa sensação de que os outros produtos, por serem tributáveis, são menos rentáveis. Especialistas, contudo, rebatem essa ideia.

Poupança x renda fixa

  • Produtos como CDBs, LCIs, LCAs, Tesouro Selic e até Fundos DI, dependendo da taxa Selic, vencem a conta poupança em qualquer situação.
  • Na poupança, se não houver o resgate do dinheiro exatamente no dia do aniversário, perderá a rentabilidade acumulada do último período.
  • O rendimento só é creditado no “aniversário da poupança”, 30 dias depois do depósito. É possível, sim, sacar antes desse prazo, mas o poupador perderá os rendimentos do período.
  • Vale acrescentar que as aplicações nos dias 29, 30 e 31 de cada mês terão como data de aniversário sempre o dia 1° do mês seguinte.
  • Especialistas dizem que, se não houver pressa em resgatar o dinheiro, vale a pena pagar um imposto e migrar os recursos para investimento com apuração diária de juros.
  • Um bom exemplo é o Tesouro Direto, cujo valor mínimo de investimento fica em torno dos R$ 30, dependendo do título.

Fonte: Anefac, BC, Anbima e BTG Pactual Digital

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