CONJUNTURA

Bolsa deve operar nesta terça-feira ao sabor das eleições americanas

Analistas estimam que a B3 deve acompanhar, na abertura, o desempenho dos mercados dos EUA, que vivem clima de muita instabilidade na reta final da disputa presidencial entre Joe Biden e Donald Trump

Rosana Hessel
postado em 03/11/2020 06:00
 (crédito: Helilo Montferre/CB/D.A Press              )
(crédito: Helilo Montferre/CB/D.A Press )

Após o feriado do Dia de Finados, nesta segunda-feira (2/11), analistas acreditam que a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deve abrir, hoje, acompanhando o desempenho dos mercados dos Estados Unidos, que atravessam um clima de muita instabilidade na reta final das eleições presidenciais norte-americanas.

No último dia de votação nos EUA, as pesquisas nacionais indicaram vantagem média de 6,5 pontos para Joe Biden sobre Donald Trump, de acordo com comentário do economista Michael Pugliese, da Wells Fargo, divulgado, ontem, a clientes. Ele descartou uma virada no jogo do republicano e candidato à reeleição nesse cenário, e destacou que a vantagem do democrata em relação a Trump “é quase o dobro da liderança de Hillary no dia da eleição de 2016, e está um pouco atrás da liderança nas pesquisas de 7,6 pontos de Barack Obama, em 2008”. No documento, informou ainda que “a liderança de Biden foi estável ao longo da campanha”.

Ontem, antes do resultado das eleições norte-americanas, as bolsas europeias e norte-americanas fecharam no azul após a pior semana desde março. O Índice Nasdaq subiu 0,42% e o Dow Jones, 1,60%. O índice EWZ, que reflete o desempenho de ações de empresas brasileiras em Nova York, registrou elevação de 1,15%.

O Índice Bovespa, principal indicador da B3, encerrou outubro no vermelho pelo terceiro mês consecutivo — recuou 2,72% na sexta-feira e 0,68%, no mês. Desde janeiro, as perdas acumuladas na bolsa paulista são de 18,75%. O dólar segue valorizado e tem encostado em R$ 5,80 diante do aumento da desconfiança de investidores no governo Bolsonaro. Vale lembrar que esse é um dos motivos para a debandada recorde de R$ 87,5 bilhões de capital estrangeiro da Bolsa, no acumulado de janeiro a 28 de outubro.

Cenário incerto


Segundo analistas, as incertezas sobre a questão fiscal devem continuam no topo das preocupações dos operadores do mercado em novembro, devido à indefinição da manutenção do teto de gastos –– emenda constitucional que limita o aumento das despesas ––, e restou a âncora fiscal para que o governo continue tendo crédito no mercado para contrair dívidas e cobrir o rombo das contas públicas –– que aumentou de forma extraordinária em meio à recessão provocada pela pandemia de covid-19.

“Como ainda não há qualquer definição sobre o Orçamento de 2021 e sobre o respeito ao teto de gastos, a Bolsa continuará com bastante volatilidade. O dólar permanecerá valorizado e a curva de juros continuará inclinada para cima”, alertou Eduardo Velho, economista-chefe da gestora JF Trust.

“As bolsas americanas, depois da forte queda na semana passada, podem melhorar se não ocorrer uma contestação jurídica por Trump da vitória de Biden. O democrata disse que vai aceitar o resultado se perder. Mas, se houver judicialização, a tendência é de as Bolsas continuarem ruins e a B3 seguir as americanas”, afirmou Velho.

Ele reconheceu que a questão fiscal é um importante fator de preocupação dos agentes financeiros e das perdas da B3, em setembro e em outubro. “Há muita indefinição sobre o programa Renda Cidadã, que vai substituir o Bolsa Família e, por conta disso, o real continuar desvalorizado e os juros futuros em alta devido à questão fiscal”, acrescentou.

Vale lembrar que a Comissão Mista de Orçamento (CMO), responsável pela apreciação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentária (PLDO) e do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021, sequer foi instaurada no Congresso e o presidente Jair Bolsonaro tem dado sinais de que poderá ceder às pressões de aliados para continuar gastando mais do que arrecada no ano que vem, de olho nas eleições de 2022.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, reconheceu que os efeitos internos das eleições nos EUA podem ser ainda mais preocupantes, porque muitos temem que Bolsonaro flerte com o populismo e rompa o teto dos gastos para fazer caber o novo programa de renda mínima na tentativa de ganhar dividendos políticos para 2022. “Se Trump ganhar, o bolsonarismo poderá sentir-se mais sólido e, assim, manter um tom fiscal mais austero. Já se Biden ganhar, criará o clima para que, em 2022, uma coligação de centro-esquerda vença no Brasil, tornando assim menos crível ajustes de longo prazo”, destacou Perfeito.

 

 

 

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