ECONOMIA

Após cinco altas consecutivas, indústria nacional volta ao patamar pré-pandemia

Na quinta alta consecutiva, produção avança 2,6% em setembro, mas cai na comparação com agosto. Em relação ao mesmo mês de 2019, houve crescimento de 3,4%. No ano, ainda há recuo, conforme mostra levantamento do IBGE

Rosana Hessel
postado em 05/11/2020 06:00
 (crédito: Janine Moraes/CB/D.A Press)
(crédito: Janine Moraes/CB/D.A Press)

A produção industrial cresceu 2,6% em setembro, na comparação com agosto, quando avançou 3,6% e retornou ao patamar pré-pandemia do novo coronavírus, ficando 0,2% acima do nível de fevereiro, de acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima da mediana das estimativas do mercado –– de alta entre 2,3% e 2,4% ––, mas confirmou a desaceleração no ritmo de retomada da crise provocada pela covid-19.

Setembro foi o quinto mês consecutivo de alta após as quedas de 9,4% e de 19,5% em março e abril, quando o indicador atingiu o menor patamar da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal — Produção Física (PIM-PF). No acumulado do ano, a atividade da indústria ainda registra queda de 7,2%. E, em 12 meses encerrados em setembro, o recuo foi de 5,5%.

Na comparação com setembro de 2019, a alta na atividade industrial registrada pelo IBGE foi de 3,4%, quebrando uma sequência de 10 meses de quedas da PIM-PF. Segundo o levantamento, houve avanço em 17 dos 26 ramos pesquisados, com altas na produção de 58% dos 805 produtos analisados nesta base de comparação anual. Na margem, registrou-se crescimento em 22 dos 26 ramos pesquisados. A produção de veículos subiu 14,1%, na comparação com agosto, e a de vestuário 16,5%, com ajuste sazonal.

Antes da chegada da covid-19 ao país, a produção industrial estava andando de lado, crescendo 1% nos dois primeiros meses do ano. Após os tombos de março e abril, a retomada vinha desacelerando desde julho. As altas passaram para 8,7% em maio; 9,6% em junho; 8,6% em julho; e 3,6% em agosto na mesma base de comparação.

A economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos, contudo, minimizou o desempenho de setembro. “A desaceleração era esperada porque mostra um efeito-base em alguns setores que se beneficiaram mais com a retomada mais acelerada entre maio e junho. E, com a redução do valor do auxílio emergencial, que contribuiu para o processo de reativação, um arrefecimento acaba ocorrendo”, explicou.

Alimentos

A produção da indústria alimentícia, que cresceu 1,2%, abaixo da média da indústria geral, é um reflexo dessa redução do valor do auxílio emergencial — que caiu de R$ 600 para R$ 300 ––, segundo a economista. “A interpretação geral dos dados da indústria de setembro é positiva porque a recuperação está ocorrendo de forma generalizada. O índice de difusão no curto e no médio prazos ficou em 70%, apresentando um ritmo consistente de crescimento nos últimos seis meses”, emendou. Lisandra lembrou que os setores de materiais para construção e de bens de capitais continuam apresentando crescimento. “Isso é importante, porque esses setores funcionam como uma proxy de investimento, e dão uma sinalização positiva para a indústria nos próximos meses”, acrescentou. Para Lisandra, a taxa básica da economia (Selic) no menor patamar da história, de 2% ao ano, vem ajudando na retomada de financiamento de imóveis com juros mais baixos e aliviando a construção civil.

Analistas reconhecem que o processo de retomada da economia ainda é incerto, apesar da sequência de resultados favoráveis nos últimos cinco meses para a indústria. O economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), alertou que o movimento ainda se mostra insuficiente para cobrir o choque da covid-19. “Este é mais um motivo porque é importante que o dinamismo industrial supere os desafios que possa encontrar pela frente e não perca força neste último trimestre do ano”, destacou. Ele lembrou que, apesar de a indústria geral ficar 0,2% acima do patamar de fevereiro, mesma taxa do segmento de setor de semiduráveis e não duráveis, os de bens de consumo duráveis e de bens de capitais ainda não recuperaram o patamar pré-pandemia e estão 2,8% e 5,5%, respectivamente, abaixo dos níveis de fevereiro. Enquanto isso, o setor de bens intermediários ficou 3,7% acima dos níveis pré-covid.

Dificuldade na retomada

Produção industrial cresce pelo quinto mês consecutivo e recupera patamar pré-pandemia, mas ritmo perde fôlego

Variação mensal/série com ajuste sazonal

Jan 1,0*
Fev 1,0
Mar -9,4
Abr -19,5
Mai 8,7
Jun 9,6
Ago 3,6
Set 2,6

Impacto da covid-19 na produção/Variação Fev-20 a Set-20 com ajuste sazonal


Bens intermediários -3,7*
Indústria geral 0,2
Semiduráveis e não duráveis 0,2
Bens de consumo duráveis -2,8
Bens de capital -5,5

*em %

Variações da produção industrial por segmentos

No mês (com Mesmo mês do No ano Em 12 ajuste sazonal)ano anterior meses
Indústria geral 2,63,4-7,2-5,5*
Bens de capital 7,0-2,0-17,9-14,4
Bens intermediários 1,35,5-3,12,7
Bens de consumo 4,61,9-11,8-8,2
Bens de consumo duráveis 10,72,2-26,7-19,4
Semiduráveis e não duráveis 3,71,8-7,6-5,1
Extrativa mineral-3,7-4,1-2,3-4,4
Transformação 3,94,4-7,8-5,6


*em %
Fontes: IBGE e Iedi


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