Conjuntura

Desempenho de Biden nas urnas é acompanhado de alta na Bolsa

Bolsas brasileira e internacionais se convertem à possível vitória de Biden, nos EUA, e fecham em alta, num movimento otimista. No caso do dólar, porém, o momento de indefinição na corrida para a Casa Branca é favorável à moeda brasileira

Vera Batista
postado em 05/11/2020 06:00
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A onda azul — que representa uma vitória de Joe Biden na corrida presidencial norte-americana —segue dominando as preferências dos mercados internacionais. Como é o pragmatismo e o lucro que definem o humor dos investidores, se antes demonstravam preferência pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, agora estão recém-convertidos ao candidato democrata e já compraram a sua possível vitória. “O mercado se adapta, não pode perder tempo”, resumiu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Quando o pregão fechou, ontem, Biden continuava em vantagem sobre Trump, que mantinha a disposição de pedir recontagem de votos por conta de uma suposta fraude eleitoral. Com esse pano de fundo, o dólar comercial fechou em queda de 1,88% frente ao real, cotado a R$ 5,659 para compra e a R$ 5,661 para venda. O Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações da Bolsa de Valores brasileira (B3), encerrou o dia em alta de 1,97%, batendo 97.805 pontos. Na Europa, o movimento também foi positivo: na Bolsa do Reino Unido, a valorização do índice foi de 1,67%; na Alemanha, o avanço foi de 1,95%; na França, alta de 2,44%; e na Itália, incremento de 1,96%. Em Nova York, os ganhos chegaram a 3,85% no fechamento do Nasdaq.

E enquanto durar a disputa, a tendência é de desvalorização contínua do dólar frente ao real, de acordo com José Roberto Carreira, operador de câmbio da Corretora Fair. “Biden anunciou um pacote trilionário para debelar os efeitos da pandemia na economia americana, o que vai beneficiar os mercados emergentes, entre eles o Brasil”, afirmou. No dia anterior, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,762.

Reflexos positivos

Por outro lado, segundo o especialista, o apoio de vários países da Europa e a anunciada intenção do candidato democrata de ajudar com US$ 30 bilhões para combater os estragos dos incêndios na Amazônia podem ser um dado positivo –– mesmo que o Palácio do Planalto diga que não queira –– para o país. “O Brasil vai ter que se ajustar às novas políticas de meio ambiente, o que poderá, de alguma forma, colaborar para melhorar a imagem fora e no retorno de investimentos e financiamento externos”, reforçou Carreira.

O que seduzia o mercado doméstico era justamente a redução de impostos corporativos das empresas americanas, uma iniciativa de Trump, explica Jason Vieira. “Mas Biden promete o mesmo tipo de estímulo. E, a rigor, para o Brasil, Trump não fez nada de concreto –– embora tendo apresentado uma gestão eficiente de seu país. Para nós, nenhuma vantagem nas relações comerciais”, lembrou o economista-chefe da Infinity Asset.

Mas, seja qual for o resultado das eleições americanas, as incertezas continuarão. Os investidores se manterão atentos ao desenrolar das medidas para conter os impactos econômicos da pandemia pelo novo coronavírus. “Não se sabe como a Europa vai conseguir lidar com esta segunda onda, ou se os EUA vão precisar enfrentar a crise sanitária com novos estímulos. Tudo isso está em aberto”, reforçou Vieira. No mercado interno, observa ele, as questões não são menos desafiadoras.

“Se Biden for eleito, é quase certo que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, seja substituído. O vice-presidente, Hamilton Mourão, deve ganhar um protagonismo maior. Se as questões ambientais ficarem mais sérias, o Brasil tem a saída de se aproximar mais da China, por exemplo. Mas será que vai ser esse o caminho escolhido pelo governo? Enfim, há muita coisa que precisa ser desenhada”, enfatiza Vieira.

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