As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos sofreram forte contração em 2020 graças à pandemia do novo coronavírus. Mas, diante da possibilidade da eleição de Joe Biden (democrata) para a Casa Branca, é concreta a hipótese de que a redução dos resultados da parceria Brasil-EUA se agrave por causa das posições do governo Bolsonaro.
De acordo com dados da balança comercial brasileira, divulgados na última terça-feira pelo Ministério da Economia, o país exportou R$ 17,1 bilhões em produtos para os EUA, entre janeiro e outubro deste ano, contra R$ 24,7 bilhões do mesmo período do ano passado –– o que representa uma redução de 29,6%. Nas importações, o recuo foi de 19,7%.
Caso se confirme a vitória de Biden, o reflexo do antagonismo com o Palácio do Planalto será sentido primeiramente no setor comercial, conforme explica José Luis Oreiro, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB).
“O principal problema é a questão ambiental. Bolsonaro tem que demitir imediatamente os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e o Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e substituí-los por pessoas com credibilidade. Se ele fizer isso, é possível construir uma relação saudável. Vai depender muito mais do governo brasileiro”, observou.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil precisa adotar novas estratégias para se tornar protagonista no mercado internacional. Para isso, é necessário fazer reformas estruturais. “O país assume, hoje, uma posição de coadjuvante. Não estamos nem entre os 30 maiores países exportadores de manufatura”, disse. Ele também afirmou que o Brasil precisa buscar diálogo com os norte-americanos, em vez de se submeter a eles, como tem feito.
“Se o Trump for reeleito, não muda nada. Caso Biden seja eleito, temos a oportunidade de mudar nossa postura. Temos que mudar porque ele, pelo menos, é mais previsível que o Trump. Ele (Biden) critica a forma como o Brasil lida com os problemas ambientais, mas é uma crítica válida. Temos que buscar diálogo. Nos últimos anos, estamos mais aderindo aos EUA do que buscando nossos interesses”, criticou.
Ivo Chermont, economista-chefe do Quantitas, concorda com a avaliação. Ele acredita que uma vitória de Biden poderá ser positiva para o Brasil a longo prazo, uma vez que o país seria pressionado a adotar medidas mais rígidas de preservação ambiental.
“Isso poderia até aumentar o interesse de global de investidores. Não vejo uma grande mudança de política econômica, a não ser essa pressão por melhor comportamento e preservação do meio ambiente”, salientou.
A indústria brasileira vê com tranquilidade o resultado das eleições americanas, independentemente de qual seja, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em nota, a entidade ressalta que a indústria do Brasil tem bom histórico de relacionamento com candidatos tanto do Partido Republicano quanto do Democrata. “As duas economias têm alto grau de complementaridade e integração econômica, o que abre uma oportunidade para a negociação de uma agenda ambiciosa de acordos com esse país”, diz a nota.
Diego Bonomo, gerente-executivo de Assuntos Internacionais da CNI, entende que, para que o Brasil avance comercialmente, é preciso buscar novos clientes em mercados emergentes. "O que falta é uma rede maior para permitir que tenhamos o mínimo de barreiras possível. Temos um acordo comercial com a União Europeia que ainda não está em vigor. Mas temos países emergentes, onde há oportunidades, como os países da América Central, América do Sul e outros que podemos explorar", comentou.
Ele destacou, ainda, que considera de boa qualidade a relação do Brasil com os EUA. Mas acredita que uma vitória de Biden pode ser positiva do ponto de vista dos acordos. " O grau de envolvimento que as nossas economias chegaram é alto. Temos uma série de acordos específicos com os EUA. Precisamos buscar acordos mais importantes. Independente de quem ganhe, a agenda de negociação de acordos deve continuar. Uma vitória de Biden deve ser positiva porque ele entende a importância desses acordos internacionais", completou.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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