POLÍTICA MONETÁRIA

Juros baixos dependem de credibilidade fiscal, avisa Campos Neto

Presidente do BC lembrou que curva longa de juros está descolada da Selic por conta das incertezas do mercado quanto ao rumo das contas públicas brasileiras

Marina Barbosa
postado em 05/11/2020 18:15 / atualizado em 05/11/2020 18:15
 (crédito: Júlio Lapagesse/CB/D.A Press)
(crédito: Júlio Lapagesse/CB/D.A Press)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avisou que os juros baixos só serão uma realidade no país quando houver credibilidade e disciplina fiscal. Ele explicou que, não adianta o BC baixar a taxa básica de juros (Selic), se o mercado vem cobrando juros mais altos no longo prazo por conta dos riscos fiscais.

Campos Neto defendeu o ajuste fiscal em uma maratona de lives ao longo desta quinta-feira (5/11) e terminou o dia avisando que passar credibilidade ao mercado é fundamental para que o Brasil não só atraia os investidores estrangeiros, como possa usufruir de taxas baixas de juros. Hoje, a Selic está na mínima histórica de 2% ano, mas a curva longa de juros chega perto de 8%, conforme dados apresentados pelo presidente do BC.

"Para que a Selic se propague (na curva longa de juros), precisa ter credibilidade", cravou. Ele lembrou que o BC define apenas a ponta dessa curva de juros, ou seja, a taxa de curto prazo. E frisou que os projetos estruturantes, que podem estimular a retomada do crescimento, são de longo prazo. Logo, dependem dos juros de longo prazo, que subiram devido às incertezas fiscais.

Segundo o BC, a curva longa de juros subiu em reflexo da incerteza sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil, que se acentuou com o aumento do endividamento público na pandemia de covid-19 e disparou nas últimas semanas diante das discussões que ameaçam romper o teto de gastos e manter a dívida pública em ascensão mesmo depois da pandemia.

Teto de gastos

Por conta disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) chegou a dizer nesta semana que medidas que afetem a trajetória de dívida pública podem elevar os juros no Brasil mesmo se não afetarem o teto de gastos. "Estamos dizendo que estamos olhando o teto, mas que qualquer forma criativa de gerar mais gasto corrente, permanente, onde eu vejo a trajetória de dívida piorando dentro do teto, nós
vamos considerar que é um rompimento do equilíbrio", explicou Campos Neto, quando questionado em uma das lives desta quinta-feira sobre a ata do Copom.

Segundo o documento, o Copom pode abandonar o compromisso de manter a Selic em 2% ao ano diante de um desequilíbrio fiscal como esse. Para o mercado, foi um recado de que o Comitê não vai tolerar o abandono do teto, nem medidas criativas como o uso de precatórios no financiamento do Renda Brasil, que podem elevar a dívida sem furar o teto.

Campos Neto ainda disse que, por conta desse cenário, o Brasil "corre risco de ter uma grande desorganização de preços" caso não retome a disciplina fiscal. E lembrou que, para passar credibilidade ao mercado, o país deve não só manter a disciplina fiscal, como retomar a agenda de reformas econômicas. Ele afirmou, inclusive, que, nos últimos dias, após a aprovação da autonomia do BC no Senado, o prêmio dos ativos de risco já apresentou uma melhora no Brasil. "É o mercado financeiro dizendo que, se fizer reformas, pode vir" comentou.

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