O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avisou que os juros baixos só serão uma realidade no país quando houver credibilidade e disciplina fiscal. Ele explicou que, não adianta o BC baixar a taxa básica de juros (Selic), se o mercado vem cobrando juros mais altos no longo prazo por conta dos riscos fiscais.
Campos Neto defendeu o ajuste fiscal em uma maratona de lives ao longo desta quinta-feira (5/11) e terminou o dia avisando que passar credibilidade ao mercado é fundamental para que o Brasil não só atraia os investidores estrangeiros, como possa usufruir de taxas baixas de juros. Hoje, a Selic está na mínima histórica de 2% ano, mas a curva longa de juros chega perto de 8%, conforme dados apresentados pelo presidente do BC.
"Para que a Selic se propague (na curva longa de juros), precisa ter credibilidade", cravou. Ele lembrou que o BC define apenas a ponta dessa curva de juros, ou seja, a taxa de curto prazo. E frisou que os projetos estruturantes, que podem estimular a retomada do crescimento, são de longo prazo. Logo, dependem dos juros de longo prazo, que subiram devido às incertezas fiscais.
Segundo o BC, a curva longa de juros subiu em reflexo da incerteza sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil, que se acentuou com o aumento do endividamento público na pandemia de covid-19 e disparou nas últimas semanas diante das discussões que ameaçam romper o teto de gastos e manter a dívida pública em ascensão mesmo depois da pandemia.
Teto de gastos
Por conta disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) chegou a dizer nesta semana que medidas que afetem a trajetória de dívida pública podem elevar os juros no Brasil mesmo se não afetarem o teto de gastos. "Estamos dizendo que estamos olhando o teto, mas que qualquer forma criativa de gerar mais gasto corrente, permanente, onde eu vejo a trajetória de dívida piorando dentro do teto, nós
vamos considerar que é um rompimento do equilíbrio", explicou Campos Neto, quando questionado em uma das lives desta quinta-feira sobre a ata do Copom.
Segundo o documento, o Copom pode abandonar o compromisso de manter a Selic em 2% ao ano diante de um desequilíbrio fiscal como esse. Para o mercado, foi um recado de que o Comitê não vai tolerar o abandono do teto, nem medidas criativas como o uso de precatórios no financiamento do Renda Brasil, que podem elevar a dívida sem furar o teto.
Campos Neto ainda disse que, por conta desse cenário, o Brasil "corre risco de ter uma grande desorganização de preços" caso não retome a disciplina fiscal. E lembrou que, para passar credibilidade ao mercado, o país deve não só manter a disciplina fiscal, como retomar a agenda de reformas econômicas. Ele afirmou, inclusive, que, nos últimos dias, após a aprovação da autonomia do BC no Senado, o prêmio dos ativos de risco já apresentou uma melhora no Brasil. "É o mercado financeiro dizendo que, se fizer reformas, pode vir" comentou.
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