Campos Neto: foco no emprego para autonomia passar

Marina Barbosa
postado em 05/11/2020 23:44
 (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, admitiu, ontem, que o dispositivo que atribuir à direção da autoridade monetária, também, preocupações com a criação de empregos, foi incluído no projeto de lei que confere autonomia à instituição para garantir que passasse pelo Senado, nesta semana. E alertou que é algo que pode gerar ruídos no mercado e surtir poucos efeitos práticos.

Campos Neto disse que suavizar a flutuação dos ciclos econômicos é uma tarefa implícita do BC, mas avaliou que a busca pelo emprego pode desequilibrar os preços, gerar inflação e, consequentemente, mais desemprego em países emergentes, nos quais a autoridade monetária não tem as ferramentas adequadas para lidar com o problema. Ele confirmou que a questão tem sido abordada por um número cada vez maior de bancos centrais ao redor do mundo e que, assim, havia uma demanda forte em relação ao assunto no Senado.

“Como todo projeto legislativo, é resultado de um entendimento. A democracia funciona assim. Tem o entendimento, tem partes que têm opiniões diferentes, e a gente tenta construir uma coisa que agrade, de forma que tenha maioria para passar o projeto”, reconheceu Campos Neto, ao ser questionado sobre a avaliação do projeto de autonomia do BC, aprovado pelo Senado e que, agora, aguarda a avaliação da Câmara.

Para construir o entendimento necessário à aprovação, o BC aceitou que a questão do emprego constasse no texto, desde que aparecesse como um objetivo secundário, que não se mistura com o controle da inflação. “É um objetivo secundário, porque não queremos passar nenhuma mensagem de que estamos nos distanciando do regime de metas”, explicou.

Além de blindar o BC de pressões políticas na condução da política monetária, o texto aprovado pelos senadores diz que a autoridade monetária deve trabalhar para suavizar os ciclos econômicos e fomentar o pleno emprego, desde que essa ação não prejudique o cumprimento do seu mandato principal, que é a estabilidade de preços e o controle da inflação. Essas prerrogativas não constavam no texto que foi apresentado pelo Executivo e foram fruto de negociação com os senadores, pois, na avaliação do BC, poderiam tornar-se contraproducentes.

O presidente do BC garantiu que o projeto continua representando um grande avanço institucional, que pode passar mais credibilidade ao mercado e, assim, atrair investidores estrangeiros. E lembrou que o processo ainda não acabou, pois requer a aprovação da Câmara dos Deputados, onde o BC acredita que também é preciso avançar no debate sobre a autonomia. “Acho que está bem encaminhado, mas precisa focar um pouco nesse debate da Câmara”, disse.

Tesouro não vende todo o lote de LFTs oferecidas

Mesmo ofertando um volume considerado pequeno de títulos indexados à Selic (a taxa básica da economia), as chamadas LFTs, o Tesouro Nacional não conseguiu vender todo o lote que anunciou para o leilão de ontem. Da oferta de até 750 mil títulos com vencimento em 2022 e em 2027, foram comprados pelo mercado 443,5 mil, pouco mais da metade (59%), com taxas cobradas acima dos valores de fechamento da véspera. O valor arrecadado pelo Tesouro com o leilão de LFTs, de R$ 4,7 bilhões, ficou abaixo dos R$ 5,19 bilhões com a venda de títulos indexados à Selic.

 

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Disciplina fiscal permite juros baixos

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse, ontem, que os juros baixos só serão uma realidade no país quando houver credibilidade e disciplina fiscal. Ele explicou que não adianta o BC baixar a taxa básica de juros (Selic) se o mercado vem cobrando juros mais altos no longo prazo por conta dos riscos fiscais.

Campos Neto defendeu o ajuste fiscal em uma maratona de lives e terminou o dia avisando que passar credibilidade ao mercado é fundamental para que o Brasil não só atraia os investidores estrangeiros, como possa usufruir de taxas baixas de juros. Hoje, a Selic está na mínima histórica de 2% ano, mas a curva longa chega perto dos 8%, conforme dados apresentados pelo presidente do BC.

“Para que a Selic se propague (na curva longa de juros), precisa ter credibilidade”, salientou. Ele lembrou que o BC define apenas a ponta dessa curva de juros, ou seja, a taxa de curto prazo. (MB)

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