CONJUNTURA

"Vamos dançar com todo mundo"

Ministro da Economia defende postura pragmática em relação aos acordos internacionais do país e da iminente mudança de governo nos Estados Unidos. Segundo ele, o Brasil está atrasado na agenda da globalização e política de abertura comercial vai continuar

Rosana Hessel
postado em 07/11/2020 01:01
 (crédito: Anderson Riedel/PR)
(crédito: Anderson Riedel/PR)

Apesar de vários países europeus defenderem a paralisação do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia devido à falta de uma política mais clara de proteção ambiental do Brasil, e a iminente mudança de governo dos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, preferiu o pragmatismo e garantiu que não haverá mudanças na pauta internacional e no processo de abertura do país prometido em campanha.

“A agenda de abertura prossegue inabalada”, garantiu Guedes, durante conversa com economistas do Itaú Unibanco no evento virtual Macro Vision 2020. Segundo ele, o Brasil entrou atrasado no baile da globalização, enquanto Estados Unidos e China “dançaram de rosto colado” durante décadas. Mas, agora o país “vai dançar com todo mundo” e não vai deixar o “fator político” interferir nas relações comerciais.

“Particularmente, em relação aos Estados Unidos, nós estávamos e continuaremos trabalhando com todo mundo. Vamos continuar nosso relacionamento. Nós vamos dançar com todo mundo, porque chegamos atrasados na festa”, afirmou, em resposta ao questionamento da iminente vitória do democrata Joe Biden sobre o republicano Donald Trump na corrida para a Casa Branca. “Agora, não vou superestimar o fator político quando ele não pede para ser superestimado”, acrescentou.

O ministro reconheceu que a pandemia da covid-19 atrasou essa agenda, mas ressaltou que o acordo do Mercosul com a UE e com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta) foram concluídos no ano passado em poucos meses. Ele destacou que “a turma toda” continua negociando com Canadá, Japão e Coreia do Sul. “Esses são movimentos inequívocos. Começamos aceleradamente a pauta internacional, mas fomos atingidos pela covid”, lamentou. Guedes disse, no entanto, que a agenda ambiental acaba sendo uma espécie de desculpa para países europeus adotarem um “protecionismo disfarçado”.

Estratégia
Dentro da estratégia, o ministro da Economia disse que a ida do ex-secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, para a presidência do Banco dos Brics, e, em breve, a do secretário especial de Produtividade, Emprego e Produtividade da pasta, Carlos da Costa, para a presidência do BID Invest, braço de investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), devem ajudar no processo de integração regional esperado pelo governo, atraindo investimentos para projetos de infraestrutura. “Estamos com Carlos da Costa indicado para o BID Invest, e, para tudo isso, temos planos de escoar a produção de grãos do Centro-Oeste, cortando a Transperuana para chegar à China 12 a 13 dias mais rápido”, disse. Ele citou também outros projetos para aumentar o fluxo de negócios com outros países.

“Nossa pauta é voltar para o futuro. Nosso plano é uma economia de mercado”, afirmou Guedes. “Temos uma pauta de integração transnacional e de abertura”, reforçou. Contudo, admitiu que, para reduzir tarifas de importação para os padrões de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 4%, em média, o país precisa reduzir o custo Brasil, com reforma tributária e “um choque de energia barata”.

O ministro reclamou da demora do processo de adesão à OCDE, que exige enquadramento e pode demorar mais de dois ou três anos. “Por isso, é importante um bom relacionamento com os parceiros e nos entendermos para favorecer (os acordos)”, disse. “Parte dessas acusações são protecionismo disfarçado”, frisou. Em relação aos Estados Unidos, Guedes destacou que o Brasil “tem uma dinâmica própria” de crescimento.

“Nossa pauta é voltar para o futuro. Nosso plano é uma economia de mercado”
Paulo Guedes, ministro da Economia


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Seguro-desemprego cai

Mais de 460 mil trabalhadores brasileiros precisaram recorrer ao seguro-desemprego em outubro. O dado, divulgado ontem pelo Ministério da Economia, é 16,8% menor que o registrado no mesmo mês de 2019. Porém, revela um recuo de apenas 1,2% no volume de pedidos de seguro-desemprego em relação a setembro.

De acordo com o Painel de Informações do Seguro-Desemprego, os trabalhadores do setor de serviços ainda dominam os pedidos de seguro-desemprego, já que esse segmento está demorando mais a se recuperar da crise do novo coronavírus. Ao todo, 41% das solicitações registradas em outubro partiram desse setor. A maior parte dos trabalhadores também costumava ganhar até 1,5 salário mínimo, tem entre 30 e 39 anos e ensino médio completo.

O volume de pedidos de seguro-desemprego, contudo, representa quase metade das 960 mil solicitações que chegaram a ser registradas em apenas um mês, no auge da pandemia da covid-19. O pico ocorreu em maio. Depois desse momento crítico, a quantidade de requisições caiu. Foi a 653 mil em junho, 570 mil em julho e 463 mil em agosto. A partir de então, estacionou na casa dos 460 mil, marcando 466 mil em setembro, e 460 mil em outubro.

Com essa evolução, os pedidos de seguro-desemprego passam dos 5,912 milhões no acumulado deste ano. É um aumento de 3,5% em relação ao mesmo período do ano passado, que também levou o governo federal a pagar o benefício para um patamar acima da média histórica. Os desembolsos do benefício chegaram a R$ 3,7 bilhões em julho. Desde então, contudo, esse número também vem caindo. Em outubro, por exemplo, o governo pagou R$ 2,97 bilhões em seguro-desemprego para 2,24 milhões de trabalhadores, valores bem próximos aos do mesmo mês do ano passado.

Cade aprova fusão de Fiat e Peugeot


O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a fusão bilionária entre os grupos Fiat Chrysler (FCA) e Peugeot Citroën (PSA). O negócio foi anunciado há cerca de um ano, e é avaliado em US$ 50 bilhões. A previsão é de que ele seja concluído ainda no primeiro semestre de 2021.

Com a fusão, o novo grupo passará a se chamar Stellantis. De acordo com as duas companhias, as marcas dos produtos serão mantidas. Tanto a Fiat quanto a Peugeot possuem fábricas no Brasil, a primeira em Minas e a segunda, no Rio de Janeiro. Por isso, o negócio exigiu aprovação do Cade, além de agências antitruste de outros países.

De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a junção das duas gigantes do ramo automotivo vai gerar consequências positivas, no momento em que o consumo se encontra retraído, devido à pandemia do novo coronavírus.

“As fusões são uma tendência no mercado automobilístico, a nível mundial. Como no Brasil esse mercado já é bastante pulverizado, pois temos diversos fabricantes, o negócio não oferece qualquer ameaça. Na verdade, vai trazer um aumento de competitividade”, disse Roscoe.

A junção dos dois grupos não implicará mudanças nas marcas de veículos fabricados. No entanto, o grupo resultante da fusão passará a se chamar Stellantis. O acordo prevê Fiat e Peugeot vão dividir o controle do novo grupo: 50% para cada lado.

A nova companhia passará a deter sete marcas de veículo no mercado global: Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Dodge, Alfa Romeo e Opel. Será o quarto maior grupo automotivo do mundo em vendas, atrás da Volkswagen, da Renault-Nissan e da Toyota.

Em nota, as companhias informam que a sede do novo grupo ficará na Holanda. A companhia continuará tendo ações negociadas nas bolsas de Paris, Milão e Nova York.

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