O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, acredita que o Brasil apresenta uma recuperação econômica robusta, mas deve conviver com o desemprego alto por algum tempo após a pandemia de covid-19. Ele diz que o governo não tem espaço fiscal para implementar novos programas de auxílio aos desempregados e, por isso, afirma que é preciso atrair investimentos privados para o país.
Campos Neto falou sobre as perspectivas para a economia brasileira no pós-coronavírus durante o Greenwich Economic Forum, promovido pela revista inglesa The Economist, nesta segunda-feira (09/11). Afirmou que o Brasil apresenta sinais robustos de recuperação após o impacto sofrido no início da pandemia. E destacou o papel de programas, como o auxílio emergencial e o crédito às empresas, no processo de recuperação.
O presidente do BC admitiu que a saída da crise parece mais desafiadora do que o ajuste que foi feito pelo governo brasileiro, no início da pandemia, ao substituir a agenda de reformas por um programa emergencial de enfrentamento à covid-19. Ele explicou que, apesar da reação da economia brasileira ter começado, o aumento do desemprego não deve ser revertido rapidamente. "No fim, teremos o consumo voltando rápido, a atividade econômica voltado rápido, mas o emprego, não", afirmou.
Para Campos Neto, a falta de vagas no mercado de trabalho será um desafio para o Brasil e para os países emergentes, nos próximos meses. Ele lembrou que a pandemia acelerou o uso da tecnologia e mudou o padrão de consumo das pessoas de forma tão rápida que não deu tempo para os trabalhadores informais se adaptarem a isso. "Teremos mais empresas de tecnologia tirando empregos, especialmente de informais", alertou.
Informalidade
Ele disse que esse processo começou no setor de serviços, que conta com um grande contingente de informais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego chegou ao recorde de 14,4% no trimestre encerrado em agosto e atinge 13,8 milhões de brasileiros. O país ainda tem 31 de milhões de informais.
Por conta disso, o presidente do BC acredita que a recuperação será mais tecnológica, sustentável e inclusiva em todo o mundo, com diversos governos pensando em maneiras de apoiar a população mais pobre e desempregada. Campos Neto lembrou que os países estão discutindo programas sociais de transferência de renda e redução de impostos para essa população, mas ressaltou que o Brasil não tem espaço fiscal para isso, devido à dívida pública elevada.
"Os governos terão que fazer mais programas e isso vai aumentar a dívida. A questão é: temos espaço fiscal? Nos mercados emergentes e, especialmente no Brasil, que tem uma dívida alta, a resposta é não", sentenciou.
Por conta dessa dificuldade fiscal, Campos Neto afirmou que o Brasil precisa encontrar uma forma de atrair investidores e transformar os investimentos financeiros em produtivos, que podem gerar emprego e renda. Lembrou que o objetivo do governo era aumentar os investimentos privados antes mesmo da pandemia, e isso pode ser reforçado agora que a taxa básica de juros (Selic) está na mínima histórica, de 2% ao ano.
Hoje, contudo, os investidores estão com um pé atrás em relação ao Brasil, por conta das incertezas sobre a trajetória das contas públicas. Por isso, Campos Neto tem defendido de forma enfática a retomada da disciplina fiscal após a pandemia, o que pressupõe a manutenção do teto de gastos e do ajuste fiscal em 2021.
Campos Neto ainda comentou a euforia que tomou conta dos mercados, nesta segunda-feira, devido ao anúncio dos testes da vacina da Pfizer contra a covid-19, que mostrou-se 90% eficaz. E lembrou que, apesar as preocupações sobre a mutação do vírus, o imunizante será essencial para a retomada da economia mundial.
O presidente do BC ainda disse que o Brasil não pretende usar a linha de swap cambial acertada com o Federal Reserve (Fed) na pandemia, pois tem mais de US$ 350 bilhões em reservas para o caso de excessiva desvalorização do real. Mas, admitiu que a depreciação da moeda brasileira tem sido persistente, e está por trás de problemas como a recente alta da inflação.
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