Pandemia, desvalorização cambial e incertezas sobre o ajuste fiscal podem fazer o Brasil despencar da 9ª para a 12ª posição no ranking dos países com maior Produto Interno Bruto (PIB), em dólares, em 2020. O PIB brasileiro passaria de US$ 1,8 trilhão para US$ 1,4 trilhão, e o país seria ultrapassado por Canadá, Coreia do Sul e Rússia. A estimativa foi feita com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) compilados pelos pesquisadores Cláudio Considera e Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV).
De acordo com Balassiano, o coronavírus piorou a situação, mas o Brasil já vinha debilitado. “A última década (2011 a 2020) está sendo a pior em 120 anos em termos de crescimento econômico. Na chamada década perdida (1981 a 1990), o crescimento médio era de 1,6%. Agora, vai ser zero.” O pior, segundo ele, é que, pela primeira vez, o Brasil nem chegou a sair de uma recessão (entre 2016 e 2018) e entrou em outra.
Para 2021, na análise do economista da FGV, além da continuidade das reformas (principalmente a tributária e a administrativa), a recuperação dependerá de fatores sanitários. “Temos boas perspectivas com várias descobertas, mas uma vacina contra a covid-19 tem que ser aprovada e distribuída. Agora o problema fiscal é mesmo um fator de instabilidade de longo prazo”, reforça o pesquisador.
O Brasil chegou a ocupar a sétima posição em 2011, quando o valor do PIB em dólares perdia apenas para os de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido, e com perspectiva de ultrapassar o britânico. Do ponto de vista do câmbio, o levantamento aponta que, desde o final de 2019, o real já se desvalorizou quase 40%. O que ajudou o país, na pandemia, foi o auxílio emergencial de R$ 600, para 65 milhões de pessoas. Assim, o tombo esperado pelo FMI para o Brasil, que inicialmente era de 9%, deverá ser de 5%.
“Essa queda do país, da 9ª para a 12ª posição, reforça que estamos sofrendo de maneira alongada com a pandemia. Nosso PIB apanha e se retrai por mais tempo e evidencia que ainda somos muito fechados ao comércio exterior”, disse o economista Henrique Mecabô, da Universidade de Toronto. Sobre o país ter sido passado pelo Canadá, ele diz ser “simbólico”, já que o Brasil é uma economia pouco aberta. “O valor total da corrente de comércio exterior do Canadá é de mais de dois terços do próprio PIB”, afirmou.
“Essa queda do país, da 9ª para a 12ª posição, reforça que estamos sofrendo de maneira alongada com a pandemia. Nosso PIB apanha e se retrai por mais tempo e evidencia que ainda somos muito fechados ao comércio exterior”
Henrique Mecabô, economista da Universidade de Toronto
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Bolsa sobe, mas dólar resiste
Mercados de todo o mundo começaram a semana em euforia diante dos resultados positivos dos testes da vacina da Pfizer contra a covid-19 e da eleição de Joe Biden nos Estados Unidos. No Brasil, o Ibovespa teve alta de 2,6% e fechou o dia acima dos 103 mil pontos pela primeira vez em quatro meses. O dólar, por sua vez, terminou a sessão praticamente estável, cotado a R$ 5,39 para venda, com recuo de 0,04%, depois de cair para R$ 5,22, pela manhã, e bater em R$ 5,42 durante a tarde.
Analistas afirmam que a divisa só vai baixar mais quando o governo e o Congresso eliminarem o cenário de incerteza sobre as contas públicas do país. “O dólar caiu no mundo inteiro, com o mercado de olho no pacote econômico de Biden e na vacina. Mas, depois, viu que nada havia mudado no campo doméstico. Por isso, ajustou a cotação”, explicou o estrategista-chefe do Grupo Latus, Jefferson Laatus. “Precisamos resolver a questão doméstica para conseguir atrair capital e baixar o dólar”, completou o diretor de Câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo.
Os analistas explicaram que, para recuperar a confiança do mercado, é preciso resolver questões como o Orçamento, o Renda Brasil e as reformas. “Caso contrário, o dólar vai ficar nesse patamar de R$ 5,40, que é inviável para todos os brasileiros, pois causa pressão inflacionária e ameaça a agenda de juros baixos”, lembrou Bergallo.
Professor de economia do Insper, João Luiz Mascolo lembrou que, além disso, o câmbio deve sofrer pressão extra neste fim de ano por conta da reversão das posições de overhedge dos bancos — mecanismo de proteção cambial que deve levar as instituições a comprarem US$ 15 bilhões. A questão já entrou no radar do Banco Central. O diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, indicou na última sexta-feira que o BC pode intervir no câmbio para garantir que o mercado absorva esse fluxo extra.
Com a repercussão do caso, o BC divulgou nota garantindo que “não antecipa eventuais decisões sobre intervenção, rejeitando quaisquer interpretações sobre o assunto”. Porém, deixou o alerta no mercado, sobretudo depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil não precisava de tantas reservas internacionais com o dólar batendo em R$ 5,50.
Segundo os analistas, essa intervenção teria efeito apenas temporário no câmbio. Porém, parece estar sendo estudada pelo governo como forma de o BC controlar a inflação sem ter que subir os juros.
“O câmbio é o principal fator por trás da alta da inflação. Porém, o BC vem dizendo que não vai subir os juros. Por isso, pode querer fazer uma venda massiva de dólares para tirar pressão sobre os índices de preço”, explicou Laatus.
*Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo